Bolsa Sem Noção
Uma bolsa para se trancar em casa e ficar calado até a ideia passar.
O governo deveria criar o programa Sem Noção, destinado a seu público interno. Funcionaria assim: cada vez que um integrante do primeiro escalão tiver uma ideia brilhante para mexer em algum programa social, ganharia uma bolsa para se trancar em casa e ficar calado até a ideia passar. Uma contrapartida menos dispendiosa e, certamente, muito menos desastrosa do que levar a proposta adiante.
Em quase dois anos, o governo Temer desmantelou boa parte dos programas de transferência de renda e prestação de benefícios aos setores mais pobres da população. Reduziu à mínima expressão – e praticamente acabou – com iniciativas como o Farmácia Popular (distribuição de remédios gratuitos), o PAA (aquisição de alimentos para a população carente a partir da agricultura familiar) e até o Minha Casa Minha Vida, reduzido em mais de 80% na faixa 1, justamente aquela que subsidiava a casa própria para quem nunca a teria de outro jeito.
Agora, os potenciais beneficiários do Bolsa Sem Noção estão querendo mexer no Bolsa Família. Discutem em reuniões – algumas com o próprio presidente Michel Temer – a mudança de nome do maior programa social do país para Bolsa Dignidade. Não escondem que a intenção é desvinculá-lo dos governos do PT, seus criadores. Afinal, vai ter eleição e o povo precisa rapidamente fazer novas sinapses e associar o Bolsa Sei Lá o Que ao governo do PMDB.
Seria apenas cômico se ficasse só nisso, mas estão sendo estudadas outras mudanças, que podem colocar em risco a comprovada eficiência do programa, atestada na ONU, em fóruns internacionais e copiada por muitos países. É bom lembrar: cada etapa do Bolsa Família foi implantada seguindo planejamento e critérios, que foram testados. No começo, muitos que hoje querem grudar na marca apostavam no fracasso do “Bolsa Esmola”. Mas o tempo passou, a coisa funcionou e o Brasil ficou conhecido por sua bem sucedida tecnologia de programas sociais em grande escala.