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Abril insurgente: o Supremo, o general e a prisão de Lula

No meio de tudo se esbaldam falsos heróis, boquirrotos incendiários de ocasião, pusilânimes de esquerda e de direita

Por Vitor Hugo Soares
Atualizado em 7 abr 2018, 16h00 - Publicado em 7 abr 2018, 16h00

Quando já se aproximava a madrugada de quinta-feira, 5, o voto de Cármen Lúcia, ministra presidente do Supremo Tribunal Federal (tão relevante, decisivo e tensamente aguardado quanto o da gaúcha Rosa Weber) fechou em 6 a 5 o placar do julgamento que negou o habeas corpus – pedido pela defesa de Lula – e lançou o ex-presidente da República, fundador do PT, a um passo da prisão. Prenúncio implacável dos dias insurgentes desta primeira semana histórica de abril de 2018.

Na hora do desempate, o eco das palavras do general Villas – Boas, comandante do Exército Brasileiro, falando em “repúdio à impunidade” e “respeito à Constituição” – ao se pronunciar, na véspera, via twitter, sobre um dos mais polêmicos julgamentos na vida recente do País – ainda ecoava nas paredes do plenário da corte maior de justiça. E reverberava ainda, antes do voto de Cármen Lúcia, na indignada e dura condenação do decano do STF, Celso de Mello, na longa justificativa de voto favorável ao HC que poderia manter Lula, por mais algum tempo, livre do início do cumprimento da sentença do juiz Sérgio Moro). Confirmada e ampliada pelos magistrados do TFR4, de Porto Alegre: 12 anos e um mês de prisão por corrupç&at ilde;o passiva e lavagem de dinheiro.

Em trânsito por Brasília, ou perdido na cidade, algum irônico francês, provavelmente comentaria, diante do quadro que começava a se desenhar: “Amaldiçoado seja aquele que pensar mal destas coisas”. Uma tirada inteligente e bem humorada, mas não uma saída para as nuvens pesadas que começaram a se formar para os lados de São Bernardo do Campo, dentro e fora do agitado Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, de históricas jornadas de outras épocas. De lutas por princípios, contra a corrupção, contra ditaduras e ditadores. Por liberdades democráticas, de imprensa e de expressão.

O fato, porém, é que no meio do reboliço deste abril, o veterano jornalista – gato escaldado das algemas dos agentes da PF, dentro da sala de aula na Faculdade de Direito da UFBa invadida, e da cela no quartel do 19° Batalhão de Caçadores (19 BC), em Salvador, lotada em pleno terror do AI-5, naqueles anos loucos no Brasil – lembbou de imediato, de uma das 100 mais famosas frases do saudoso deputado, Senhor Constituição, Ulysses Guimarães, reunidas no livro “Rompendo o Cerco”. Disse Ulysses, ao citar o musicista e grande escritor brasileira (autor de “Macunaíma), seu preceptor de piano , no Conservatório Municipal de São Paulo, antes de mudar de rumo para a política: “Meu mestre e amigo Mário de Andrade tem razão: “pior do que uma baioneta calada é u m baioneta falante”.

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Acha pouco? É sexta-feira e, enquanto procuro o ponto final para este artigo, o bafafá segue no ABC, em Brasília, Rio, Curitiba, e já se espraia por Salvador, Recife, e por aí vai o trem. No meio de tudo se esbaldam falsos heróis, boquirrotos incendiários de ocasião, pusilânimes de esquerda e de direita, malandros da políticos e do governo, na dança aventureira e oportunista de ano eleitoral. E assim, a exemplo do samba de Billy Blanco, segue o baile na gafieira. “E enquanto o duro vai não vai – entre o dilema meio pirado de “resistir” ou obedecer a decisão judicial, só resta à sociedade aguardar. E conferir.

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br 

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