Em quem você confia? Na família? Nos amigos? Nos vizinhos? Nos Estranhos? E o quanto você confia em todos eles? Quando tomada no agregado da população, as respostas a estas questões podem ser cruciais para determinar o grau de sucesso de uma nação.
Isso porque nada se faz sem confiança. É ela que fornece o material que vai servir de cimento para a colaboração, convivência e concretização de ideias, ideais, projetos ou mesmo sonhos. O que é uma nação senão a somatória dos esforços e da colaboração dos seus cidadãos para o atingimento de objetivos comuns?
Estudos claramente demonstram uma relação direta entre qualidade de vidas, nível de corrupção de uma nação, e o grau de confiança que seus habitantes depositam uns nos outros. Ou seja, a vida é mais fácil e melhor em lugares em que todos esperam eu os outros cumpram sua parte do contrato social.
Isto porque confiança social é via de duas mãos. De um lado, todos esperam que cada indivíduo seja honesto e confiável. Do outro lado, cria-se um ambiente em que, caso a desonestidade exista, ela é exceção, e, portanto, facilmente identificável e punível.
E, por falar em punição, vergonha, e não cadeia, parece ser o incentivo mais forte. Onde existe confiança e expectativa de honestidade, quebra de confiança causa vergonha. E isolamento. Ou seja, não ser confiável, ou ser simplesmente desonesto tem custo social elevado.
Talvez esteja aí uma das grandes causas do nosso fracasso como nação. Olhando bem no espelho, o brasileiro talvez encontre um sujeito desconfiado. De tudo. De todos. Sempre com um pé atrás. A desconfiança é evidente, clara, concreta. Aparece nos muros cada vez mais altos. Nos carros blindados. E na montanha de leis com o objetivo de regular por escrito cada aspecto da paranoia tropical, mas cujo único efeito prático é tornar mais fechado e incompreensível o já impenetrável emaranhado legal que criamos.
Não confiamos uns nos outros. Não somos exigentes no comportamento individual daqueles que nos cercam. Esperamos pouco ou quase nada do comportamento alheio. Não sentimos vergonha. Ser desonesto, não traz consequência social. Nem isolamento. Nem punição. E muito menos cadeia.
O resultado é este que está aí. Somos a sociedade da desconfiança. É o que construímos. Não dá mesmo para construir um Estado descente para uma nação que, por desconfiada, é descrente. Por descrente, espera pouco. Por esperar pouco, não tem vergonha. Por não ter vergonha, aceita o pior.
A nação dos desconfiados não tem noção. Desconfiança custa caro.
Elton Simões mora no Canadá. É President and Chair of the Board do ADR Institute of BC; e Board Director no ADR Institute of Canada. É árbitro, mediador e diretor não-executivo, formado em direito e administração de empresas, com MBA no INSEAD e Mestrado em Resolução de Conflitos na University of Victoria. E-mail: esimoes@uvic.ca .