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A implosão do Centro e a ascensão do Centrão (por Hubert Alquéres)

Vitória de uns, derrota de outros. 

Por Hubert Alquéres
3 fev 2021, 13h00

A vitória do deputado Arthur Lira, do Partido Progressistas, representa uma mudança de eixo e de rumo na principal casa legislativa do país. Desde o fim da era Eduardo Cunha o chamado centro democrático é que passou a dar as cartas na Câmara Federal, tendo como núcleo principal o DEM em aliança com o MDB, PSDB e outros partidos menores. Os quase cinco anos de Rodrigo Maia na presidência da Casa possibilitaram a aprovação da PEC dos Gastos e da Reforma da Previdência, além de ter contribuído para estabilidade política no governo Michel Temer ao evitar o trauma que seria para o país um segundo processo de impeachment em apenas dois anos.

Sob o comando de Maia, a Câmara Federal serviu de freio aos arroubos negacionistas do presidente Jair Bolsonaro. Contribuiu também para mitigar muitos dos efeitos perversos da pandemia, inclusive com a discussão e aprovação do auxílio emergencial que chegou a 600 reais.

A hegemonia na Câmara como um polo moderado – de valores democráticos e liberais – alimentou expectativas quanto à possibilidade de quebra da polarização esquerda-direita na disputa presidencial de 2022. Principalmente porque as urnas em 2020 refletiram a opção do eleitorado pela moderação. Idealmente, a presidência de Baleia Rossi seria a possibilidade de continuidade do projeto liderado por Maia.

A vitória massacrante obtida por Lira em primeiro turno é muito mais do que uma simples troca de guarda, como acontece de dois em dois anos no Parlamento. A hegemonia deslocou-se para o Centrão, bloco sanguessuga sempre em órbita de qualquer governo desde a redemocratização. Esse aglomerado de siglas – PL, PP, PTB, Republicanos e assemelhados – encontrava-se disperso, sem condições de agir como bloco único desde a cassação de seu líder, Eduardo Cunha, hoje em prisão domiciliar.

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Sua ascensão ao comando da Câmara é o coroamento de um processo iniciado em abril de 2020, quando Lira detectou a fragilidade do governo.

Bolsonaro estava acuado pelo episódio Queiroz, desgastado por suas afrontas ao STF, bem como por seu comportamento criminoso em relação à pandemia. Para completar, o fantasma do impeachment apareceu em maio. Lira percebeu ali a oportunidade do Centrão voltar ao poder se apresentasse como moeda de troca uma base parlamentar suficiente para blindar o presidente.

Graças ao Centrão, Bolsonaro em guerra de trincheiras colocou seus pés em duas casamatas estratégicas, a Câmara e o Senado.

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Sim o presidente foi vitorioso. Mas pode ter sido uma vitória de Pirro, obtida a alto custo e que pode acarretar prejuízos irreparáveis.

O troféu maior vai para o Centrão, a ser entronizado no núcleo duro do governo nos próximos dias. Sua força será diretamente proporcional à fragilidade do governo. Quanto mais fraco estiver Bolsonaro, maior será seu avanço no botim governamental. O bloco é do ramo, sabe como ninguém explorar as fraquezas. Foi assim com Dilma Rousseff, quando usaram suas fragilidades para ampliar espaço no governo. Depois pulou fora porque não é dado ao abraço de afogados.

Vitória de uns, derrota de outros.

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A simbiose entre Lira e Bolsonaro implodiu o campo político liderado por Maia. A começar pelo DEM, denominação assumida pelo antigo PFL que havia conquistado a vice–presidência da República com o respeitável Marco Maciel e garantido estabilidade ao governo Fernando Henrique Cardoso.

Não era apenas uma mudança de sigla. Havia o projeto de aprofundar sua vocação e se constituir como partido conservador, comprometido com o liberalismo econômico e com valores democráticos. Daí surgiram novas lideranças, como Rodrigo Maia e ACM Neto. Com o PSDB em crise, o DEM foi um núcleo aglutinador do campo moderado. Por ter ficado fora do poder nos anos do lulopetismo, também não tinha impressões digitais na bandidagem daqueles tempos.

O adesismo e fisiologismo veio à tona agora, por meio de ACM Neto, presidente da sigla. Herdeiro do carlismo, Neto vem de uma linhagem conservadora fundada por seu avô, o ex-governador baiano Antônio Carlos Magalhães. Bem diferente da origem de Rodrigo Maia, cujo pai, Cesar Maia, militou na esquerda na juventude e no exílio migrou para o brizolismo. A diferença entre os dois expoentes do DEM não é só da origem, como demonstra agora a sucessão na Câmara de deputados. Enquanto Rodrigo Maia é a expressão do projeto de 2007, Neto é a veia pragmática do velho PFL. Sua adesão ao bolsonarismo se dá também porque seu adversário na disputa do governo da Bahia, em 2022, será o petista Jacques Vagner.

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A outra perna do centro democrático, o PSDB, também revelou-se um partido dilacerado. Metade (ou mais) de sua bancada traiu Baleia Rossi. A crise do PSDB é muito mais profunda do que a do DEM porque está sem projeto desde o fim do governo de FHC. O aecismo (resquício da liderança de Aécio Neves) pesa muito no seu interior e os tucanos, mais divididos do que nunca, provam que bicudos não se beijam.

A última perna do tripé – o MDB – vem perdendo protagonismo faz tempo. O espetáculo deprimente da cristianização de Simone Tebet na disputa do Senado diz bem de sua vocação fisiológica.

A implosão do centro afetou os planos dos três presidenciáveis desse campo: o governador João Doria, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e o apresentador Luciano Huck. As estratégias montadas por este centro moderado estão mortas. Vai ser preciso tirar leite de pedra para se reinventar.

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Tampouco deve se dar como cristalizada a polarização esquerda-direita como cenário para 2022. Em política, como dizia Ulysses Guimarães, fala mais alto sua excelência o fato. Hoje ele responde pelo nome de crise econômica e sanitária, para a qual Bolsonaro não tem dado resposta.

Se o cenário se agravar, o Centrão se reposicionará no tabuleiro político. Como até as emas do Palácio do Planalto sabem, o Centrão carrega o caixão até a borda, mas não salta junto com ele no túmulo.

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Hubert Alquéres é membro da Academia Paulista de Educação e escreve às 4as feiras no blog do Noblat.

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