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A dor do outro

A compaixão daria fim às balas perdidas

Por Tânia Fusco
Atualizado em 30 jul 2020, 19h11 - Publicado em 30 jan 2020, 12h00
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  • É a mais difícil de sentir. Exige compaixão. Sentimento, parece, em desuso.

    Com mais ou menos intensidade, sentimos morte e desditas dos próximos. Aos distantes, reservamos certa perplexidade, indignação de curto prazo. Compaixão é mais difícil. Não somos treinados para exercê-la.

    Compaixão é palavra precisa – sentir a dor do outro, estar na dor do outro. Não importa quem, nem onde.

    Já vimos algum candidato a cargo eletivo prometer: meu governo, meu mandato, será de compaixão?

    Não faltam motivos para que alguém, que se proponha representar cidadãos, prometa – e pratique – compaixão por todas as dores. Particularmente pelos mais vulneráveis – crianças, idosos, mulheres, negros, comunidade LGBTS+, índios, migrantes e imigrantes, pelas florestas, rios, mares e animais. Pelos pobres e abandonados, que habitualmente contêm esses já citados e que estão sujeitos a tudo – humilhação, desrespeito, preconceito, fome, violência e impiedades de todos os calibres.

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    Fosse a compaixão cultivada, em especial por governantes, não faltariam escolas e leitos de hospitais para quem precisa; nem vacinas e remédios básicos e fundamentais, ou as filas do INSS e os seis meses de espera para ter direitos atendidos; nem trabalho escravo, nem os mortos de Mariana e Brumadinho, ou o desamparo dos atingidos pelas enchentes de todo verão.

    Sentimento real de compaixão não permitiria a veiculação de propagandas de empresas responsáveis por tragédias – como a Vale – até que todos os atingidos fossem devidamente atendidos em suas dores, suas necessidades, seu recomeço de vida. A compaixão estaria acima do lucro. E nós mais humanizados.

    A compaixão daria fim às balas perdidas que alcançam filhos, mães, pais; zeraria o padecimento e o desamparo dos que vivem sob a violência das botas e dos desmandos das milícias, das polícias.

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    Compaixão faria melhores as sentenças de juízes, verdadeiras e comprovadas as acusações.

    Se obrigatório, o exercício da compaixão geraria respeito e atendimento real aos que pagam os impostos que sustentam o Estado em pé.

    Confiar no reaprendizado da compaixão não é sonho ou ingenuidade. Pode ser alimento e cura para a desesperança dos que enxergam e sofrem com a prevalência da impiedade, que é chocante, anormal e desumana.

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    Normal seria aprender a sentir como nossa a dor do outro. Normal será a revolta de muitos contra as dores reais de tantos, que assistimos, conformados e pacíficos, como se fossem só deles e bem distante de nós.

    Tânia é jornalista 

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