Na improvável possibilidade de ainda haver algum desavisado, é sempre bom não deixar dúvidas. O país fez a opção pelo horror. Com pitadas de psicopatia em reality show de gente feia, parece não mais haver duvida que estamos nos condenando ao horror sem fim.
Depois de séculos construindo um cipoal jurídico especificamente desenhado para não funcionar, parecemos condenados a abraço suicida sem esperança de resgate. Atrás de tantas palavras difíceis cujo significado só imaginamos por ouvir dizer, o país muda para ficar na mesma.
De maneira absolutamente passiva, assistimos o formidável enterro de quimeras. A luz no fim do túnel vai se distanciando. Fincando amarela. Anunciando que optamos pelo atraso, protegendo oligarquias novas e antigas, enquanto acetamos o caos permanente, acostumados que estamos a lama que nos espera.
Curiosamente tudo se passa com aparente tranquilidade. Enquanto o cidadão normal vai suar a camisa para encher a geladeira alguns dias antes do descanso da semana santa, as instituições forçam-no a tampar a respiração por 10 dias a espera de decisões relevantes, interrompidas para conveniência de personagens de talento duvidoso engajado no engodo generalizado.
Nada surpreendente. Nosso sistema legal e judiciário é amontoado de normas incoerentes e labirintos processuais levando ao nada. Tudo produz apenas o deprimente e desnecessário exercício de discussões desnecessárias onde a coerência fica em segundo plano e a justiça, com sorte, em terceiro.
De repente, ao expor suas vísceras, fica claro o quanto as circunstancias influenciam o resultado. Nada mais imprevisível que a justiça tropical. Ali inexiste responsabilidade. Apenas casuísmos embalados por interesses manipulado interpretações e jurisprudências com a constância de birutas de aeroporto.
Tudo, claro, embalado em retorica complicada, salpicada de latim, encenados por atores de talento dramático duvidoso em história repetitiva, perpetuando um horror sem fim.
Paralisados ficamos diante de tudo. Sem nada fazer. Aceitando a tragédia como inevitável. Torcendo, cada vez com menos entusiasmo, que alguém nos socorra. Para os desavisados, convém ser claro. Em faroeste caboclo, a cavalaria não vem.
Elton Simões mora no Canadá. É President and Chair of the Board do ADR Institute of BC; e Board Director no ADR Institute of Canada. É árbitro, mediador e diretor não-executivo, formado em direito e administração de empresas, com MBA no INSEAD e Mestrado em Resolução de Conflitos na University of Victoria. E-mail: esimoes@uvic.ca .