No mundo político, os primeiros 100 dias são decisivos para qualquer novo governo. É nesse período que o presidente eleito já mostra se terá ou não apoio para implementar sua agenda – e quão distante vai ficar das promessas mais mirabolantes de campanha. Eleito neste domingo para seu terceiro mandato, o petista Luiz Inácio Lula da Silva ainda não detalhou o que pretende fazer na área econômica, e isso preocupa banqueiros e empresários. A dúvida número um é como ficará a política fiscal.
“Gastos do governo: como Lula vai endereçar o problema fiscal?”, questiona um banqueiro. “Teto de gastos ou o regime de superávit primário, o que vai prevalecer?”, acrescenta outro executivo do setor, diante das poucas informações de que o País vai ganhar uma nova âncora fiscal.
A partir daí, a lista de dúvidas engloba pelo menos outros três itens que se complementam:
- Qual a projeção para a trajetória da dívida pública e para a carga tributária que deve sair dessa nova política?
- Qual a agenda para as reformas administrativa e tributária?
- Como será a gestão de Petrobras e dos bancos públicos?
“Estas três respostas vão definir câmbio, Bolsa, expectativas de inflação e curva de juros”, afirma um banqueiro de uma grande instituição de investimento. “O triste é que, até agora, só temos sinais negativos sobre as três. Ou seja, dólar, inflação e juros para cima; e Bolsa, para baixo”, conclui.
A carta que a campanha de Lula divulgou dias antes do segundo turno pouco trouxe de novo sobre como será a política macroeconômica de seu governo. “Achei a carta ruim. Muito fraca”, afirmou um economista que apoiou Lula publicamente, sem no entanto ter participado da elaboração da carta.
Sem falar, claro, em qual será o “comandante” da área econômica – que deve perder o status superministério para abrir espaço para uma pasta da Fazenda e outra de Planejamento. Na bolsa de “ministeriáveis”, falava-se muito em Alexandre Padilha, que foi ministro da Saúde no governo Dilma e tem a experiência de negociador político que Lula procura para a economia. No mercado, também circulam os nomes do ex-BC Henrique Meirelles e do economista Marcos Lisboa, que recentemente deixou a direção do Insper.
A ansiedade e as dúvidas só devem crescer até a posse, em janeiro de 2023. “Agora, é o momento de esperar os acontecimentos”, diz um banqueiro do segmento digital. Vida que segue.