Está marcada para esta semana uma nova reunião entre representantes dos principais acionistas da Americanas, que está em recuperação judicial, e dos bancos credores. A expectativa é grande. A proposta já colocada na mesa pelo trio Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles é de um aporte de R$ 10 bilhões como forma de tentar fechar o rombo contábil e dar novo fôlego para a varejista. Do seu lado, os bancos não dão sinais de que vão ceder na exigência de um valor maior, de pelo menos R$ 12 bilhões. Dizem que, se o valor for esse, fecham ainda nesta semana um acordo.
“Os bancos não vão ceder”, afirma um desses banqueiros. “R$ 2 bilhões fazem diferença, pois os bancos convertem outros R$ 2 bilhões. Fica uma empresa viável”, diz outro. Mas e a venda de ativos da empresa, entre eles um jato, como anunciado pela Americanas: “Jato é bobagem. Não faz a menor diferença. Só dá manchete”, afirma.
A primeira versão do plano de recuperação judicial da Americanas foi entregue há dez dias. O plano prevê aporte de R$ 10 bilhões como forma de “assegurar os recursos mínimos necessários para a implementação dos termos e condições de reestruturação de crédito contemplados no plano”, diz o fato relevante divulgado na última segunda-feira, 20. O aporte poderá ocorrer via emissão de ações, de debêntures ou empréstimo (DIP – debtor-in-possesion financing), usado apenas para empresas em recuperação judicial.
A maior parte da dívida da Americanas está com os bancos privados. Os débitos com as instituições financeiras somam R$ 19,5 bilhões, sendo o Bradesco o maior credor (R$ 5,1 bilhões); seguido por Santander (R$ 3,6 bilhões); BTG Pactual (R$ 3,5 bilhões); Itaú Unibanco (R$ 2,7 bilhões) e Safra (R$ 2,5 bilhões). Também estão na lista bancos públicos como o Banco do Brasil ( R$ 1,6 bilhão) e a Caixa (R$ 500 milhões).
Esses credores insistem para que os acionistas injetem os R$ 12 bilhões por conta de um rombo estimado em R$ 20 bilhões nos balanços dos últimos anos, relacionado a operações de risco sacado – um tipo de financiamento feito pelos bancos aos fornecedores da varejista. A crise da varejista foi deflagrada em janeiro deste ano, quando o então presidente Sergio Rial renunciou ao cargo e anunciou a existências de “inconsistências contábeis”.
O anúncio desse escândalo contábil deu início a uma batalha judicial travada entre a varejista e seus maiores credores, que culminou num pedido de recuperação judicial. A Americanas passou, assim, a figurar como a quarta maior recuperação judicial do País, com dívida declarada em R$ 43 bilhões, atrás da Odebrecht (R$ 80 bilhões), Oi (R$ 65 bilhões) e Samarco (R$ 55 bilhões).