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Um novo cenário eleitoral em 2022

Economia, pandemia e rejeição aos favoritos influenciarão a disputa

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 13h18 - Publicado em 20 nov 2021, 08h00

Quase sempre a eleição presidencial no Brasil guarda semelhanças com as anteriores. Contudo, quase sempre são as diferenças que terminam por definir o resultado. Além do mais, existe o acaso, que pode mudar ou confirmar uma tendência, conforme se deu com o atentado sofrido por Jair Bolsonaro em 2018.

De modo geral, desde que voltamos a ter eleições diretas, algum grande tema prevalece, ora vindo do establishment político, ora como uma surpresa. Fernando Collor e Bolsonaro, ainda que solidamente incrustados no sistema, surgiram como surpresas para o eleitorado.

Já FHC se viabilizou com o sucesso do Plano Real e se elegeu, em 1994 e 1998, por causa do poder acumulado com o desempenho econômico e pela fragilidade da narrativa do maior adversário, Lula. Em 2002, Lula se firmou como “surpresa”, mesmo tendo mais de vinte anos de estrada política. Elegeu-se na esteira dos equívocos do PSDB e do cansaço de uma fórmula.

A era Lula se consagrou por catorze anos amparada na combinação de vetores que favoreceram o PT, entre os quais se destaca o desempenho econômico. O capital acumulado por Lula assegurou a eleição em 2010 e 2014 de Dilma Rousseff, mas não a capacidade de ela governar.

Bolsonaro surgiu do nada, como um filhote da Lava-Jato e da demolição provocada por essa operação no establishment político. A adesão do então juiz Sergio Moro, símbolo da operação, a sua campanha corroborou uma aliança quanto ao combate à corrupção. Mas tal aliança não resistiu às contradições do lavajatismo e do governo Bolsonaro.

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“Lula se beneficia do recall positivo, mas as denúncias que marcaram as gestões do PT serão trazidas à tona”

Como vimos, em todos os pleitos mencionados, algum tema prevaleceu e eventos fora da curva afetaram as campanhas. Após esse breve resumo, indago: o que reserva a agenda eleitoral de 2022?

Três temas podem se destacar: a economia, a pandemia e a elevada rejeição aos dois atuais ponteiros da disputa: Bolsonaro e Lula. Um quarto tema — a corrupção — também aparece como relevante para alguns setores do eleitorado.

Salvo um importante e inesperado evento, a agenda estará concentrada nessas três pautas, tendo o combate à corrupção como tópico adicional. A economia, assunto principal, estará atrelada ao desempenho — consumo, renda e atividades — e ao comportamento da inflação. Temas que não devem ter solução a curto prazo.

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A pandemia terá seu papel devido aos equívocos do governo e ao espantoso número de vítimas. Um cálculo mostra que, para cada morte de Covid-19, cerca de 100 pessoas são afetadas emocionalmente. Assim, mais de 60 milhões de brasileiros poderiam ser influenciados pelo tema na hora de votar, mesmo que a vacinação siga avançando e as mortes continuem caindo.

O terceiro tema reside na elevada rejeição a Bolsonaro e Lula. Dificilmente um presidente com tamanha rejeição tende a ser reeleito, exceto se houver uma intensa reviravolta de cenário. Lula hoje se beneficia do recall positivo, mas, quando a campanha esquentar, todos os equívocos e as denúncias que marcaram as gestões do PT serão trazidos à tona.

No fim das contas, os três temas poderão servir de ponte para que um candidato alternativo transite com sucesso em meio à polarização. Em especial se ele trouxer uma boa abordagem para o quarto tópico: o combate à corrupção.

Publicado em VEJA de 24 de novembro de 2021, edição nº 2765

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