Volto ao tema sobre a visão do país no exterior estimulado pelo fato de estar fora do Brasil em eventos, palestras e aulas. Depois de trinta anos explicando o Brasil, qual o balanço que faço? O Brasil não é sucesso de público nem sucesso de crítica. Claramente, é um país que está navegando na periferia do mundo e dos acontecimentos.
O público vem pouco ao país. Pouco mais de 6 milhões de turistas nos visitam. E, em um arroubo de soberba, vamos exigir visto de quem nos exige visto. Para comparar, a França recebe quase 80 milhões de turistas por ano. Nós recebemos americanos, que virão menos por causa dos vistos, e argentinos, que estão aqui do lado.
Para o mundo do dinheiro e do investimento, o Brasil é longe, inseguro e desconhecido. Não temos um noticiário sobre o país em inglês para, pelo menos, mostrar o que temos de bom. Salvo as más notícias — crimes ambientais, assaltos e corrupção —, pouco se fala do país. Se buscarmos o termo “Brazil” na biografia de personagens relevantes da política internacional, quase não somos citados.
Apesar de produzirmos commodities importantes, participamos com menos de 5% do comércio mundial. O mundo depende de nossas proteínas, mas pouco se interessa por nós. Temos a terceira maior indústria aeronáutica civil do planeta, mas ninguém sabe.
Somos uma das dez maiores economias do planeta, mas parece que ninguém liga de verdade para isso. A crítica nos olha como um país periférico, de segunda classe e misturado entre coisas boas e coisas ruins. Nós mesmos oscilamos entre o ufanismo e o complexo de vira-lata de Nelson Rodrigues.
“Somos uma das dez maiores economias do planeta”
A questão ambiental é interessante nesse sentido. Temos uma legislação dura e mais de 50% de cobertura territorial de florestas. Fazendeiros são obrigados a preservar áreas ambientais e temos alguns programas de reciclagem que são exemplares. Reciclamos quase 100% das nossas latinhas de alumínio, por exemplo! Mas o que desperta atenção são os crimes ambientais. Apesar das nossas florestas e de nossa matriz energética ser uma das mais limpas do planeta, somos apenas vilanizados, quando não ignorados.
Na verdade, o caráter periférico do país é mais do que merecido. Não sabemos monetizar a proteção do meio ambiente e teimamos em dificultar a vida de quem quer investir no país. Gastamos muito e mal com o governo e a burocracia atormenta o contribuinte. Além do mais, com e sem razão, não cansamos de falar mal de nós mesmos. Até mesmo quando temos motivo para falar bem. Por que iriam falar bem de nós?
O Brasil, para os gringos, oscila entre a alegoria tropical e a decepção do futuro que não chega. Um país que não desperdiça a oportunidade de perder oportunidades, como disse Roberto Campos. Meu tom melancólico não elimina a crença em nossas potencialidades. Mas, se continuarmos a abandonar o pragmatismo — como agora, no caso dos vistos e do decreto sobre saneamento — e a insistir em revisionismos, como nos ataques à autonomia do Banco Central, vamos padecer da síndrome do “deréquistão”, país que anda para trás, mal que assola a vizinha Argentina.
O problema maior, em primeiro lugar, não é atrair estrangeiros, mas convencer os brasileiros de que temos caminhos promissores. O segundo desafio é fazer do Brasil um país melhor para viver. Não é impossível, mas não estamos colocando o devido foco no que efetivamente deve ser visto e consertado.
Publicado em VEJA de 12 de abril de 2023, edição nº 2836