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Conflito ao modo brasileiro

Os trabalhadores do país não estão interessados em luta de classes

Por Murillo de Aragão 9 out 2021, 08h00

Um episódio patético — a invasão da bolsa de valores por movimentos sociais ligados a partidos políticos — desperta a atenção para o tema do conflito social no Brasil. Em pleno século XXI, o Brasil se presta ao ridículo de manifestações desse tipo. Por quê? A desigualdade social e a precária educação permitem que uma massa de manobra de ignorantes se preste a esse papel de servir a “Pinks e Cérebros” da política. O evento teve pouca ou nenhuma repercussão.

O fato de haver manifestações que caem no vazio da cidadania deve ser observado. Principalmente por não representarem nem o campo nem a agenda do conflito social do século XXI. Por exemplo, imaginemos que a solução dos ideólogos comunistas para a agricultura fosse implantada no país. Quantos milhões de brasileiros morreriam de fome, como morreram na União Soviética e na China? Longe de ser perfeito, o nosso modelo de agronegócio trouxe fartura para o campo e, de certa maneira, proteção ao meio ambiente.

Aqui não faço um juízo de valor das ideologias, no entanto não posso deixar de dizer que o grande valor da esquerda foi inserir temas na pauta política que resultaram no aperfeiçoamento do capitalismo. Em compensação, o “reacionário” Bismarck foi introdutor de políticas sociais avançadas. Assim como Vargas, o “pai dos pobres”, que fez a CLT inspirada na Carta del Lavoro, de Mussolini. O mundo, ideologicamente falando, é uma grande salada juliana. As boas soluções não vêm carimbadas por ideologia. São fruto da observação desprovida de preconceitos e com muita reflexão.

“Todos querem ser consumidores e miram, cada um à sua maneira, uma vida com menos sofrimento”

O campo de batalha para o conflito social deve estar nas políticas públicas que tragam fartura para a mesa e trabalho para quem precisa. Nesse sentido, a interminável discussão sobre o aperfeiçoamento do Bolsa Família é impatriótica.

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Em vez de invadir a bolsa de valores, os movimentos sociais fariam melhor em propor uma mudança radical do sistema tributário, desonerando investimentos e a folha de pagamentos e promovendo o emprego e o cooperativismo e lutando para destravar o investimento. Este, sim, é um conflito social que deveríamos ter no Brasil.

É certo dizer que o Brasil tem problemas do século XIX. E que nosso modelo de gestão — burocrático, intervencionista e estatizante — não resolveu nossos problemas. Contudo, lamentavelmente, as forças que se mobilizam com o discurso da injustiça social não estão interessadas no aperfeiçoamento do sistema. Não é uma briga de interesses pelos mais necessitados. É uma briga de poder baseada na vontade egocêntrica de alguns de querer mudar um mundo que já não existe a partir de ideias que nunca deram certo.

A ironia em nosso país é que os trabalhadores não querem mais ser trabalhadores em seu sentido clássico. Não sabem o que é luta de classes e tampouco estão interessados nela. Porém todos, sem exceção, querem ser consumidores e miram, cada um à sua maneira, uma vida com menos sofrimento. As agendas propostas pelos movimentos sociais partidarizados e pelo mundo político demoram a endereçar tais questões.

Publicado em VEJA de 13 de outubro de 2021, edição nº 2759

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