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A riqueza dos princípios

O poder privado já não aceita tratar com países irresponsáveis

Por Murillo de Aragão 20 mar 2022, 08h00

Abordei, em coluna passada, a questão da privatização da guerra, determinada pela reação das corporações multinacionais à invasão da Ucrânia. Agora, avalio o desdobramento do tema: o impacto do conflito na cultura empresarial ESG (environmental, social and governance). Os fundos de investimento em empresas ESG — consideradas ambiental e socialmente corretas e com boa governança — possuem investimentos que ultrapassam 2 trilhões de dólares. Uma pequena fração desses fundos, menos de 10 bilhões de dólares, investiu em empresas russas. Após a invasão, não investe mais, pois não acredita que possa ser aceita como ESG. É uma mudança relevante.

Porém, a questão vai mais além: a ampliação do conceito de empresas ESG, o que foi percebido por André Clark, um dos mais atentos executivos para as transformações no mundo empresarial, como uma espécie de ESG 2.0. O ponto crítico desse movimento reside no fato de que as empresas devem estar livres de amarras e relações nebulosas com governos, sobretudo com aqueles que desrespeitam as regras democráticas e as boas relações internacionais.

E isso não apenas no que tange à corrupção, como evidenciado na Operação Lava-Jato. Mas também em relação a regimes autoritários, ditatoriais e agressivos que, eventualmente, oprimem minorias e não respeitam a boa convivência com países vizinhos. Como investir em uma empresa que se beneficia de regimes antidemocráticos e que não joga dentro das regras internacionais da boa convivência?

“Vivemos uma mudança cultural que incorpora valores de transparência e governança”

Atualmente, muitas empresas e alguns governos ainda podem ser lenientes com regimes antidemocráticos. No entanto, com a expansão da cultura ESG, parcela expressiva do mundo privado (mercado acionário, fundos de investimento, empresas e consumidores) poderá deixar de aceitar relações políticas controversas no universo de seus investimentos. A expansão do conceito ESG para o campo político pode ser gradualmente relevante, atingindo, por exemplo, fornecedores que operam a partir de países vistos como não adequados politicamente.

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É evidente que tais transformações não serão imediatas. Empresas vão continuar a comprar petróleo e insumos de países politicamente controversos. No entanto, as exigências do mundo contemporâneo privado decerto vão se tornar crescentes. O que estamos vendo, com a suspensão internacional de operações comerciais com a Rússia, é uma amostra do poder privado em defesa das relações de confiança.

De fato, em parte expressiva da economia mundial vivemos uma mudança cultural que incorpora valores de transparência, governança e respeito a direitos humanos e ao meio ambiente. Importa entender que o mundo ESG 2.0 veio para ficar. E que suas transformações, ainda que graduais, podem ser inevitáveis quanto a separar quem joga e quem não joga dentro das regras.

O Brasil deve ficar muito atento aos ventos das transformações. Temos nossas próprias guerras, por exemplo, a que enfrentamos contra a desigualdade econômica e social e a favor da sustentabilidade de nossos recursos naturais. Os movimentos que hoje estão em curso no mundo livre também podem nos afetar no curto prazo.

Publicado em VEJA de 23 de março de 2022, edição nº 2781

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