A Operação Lava-Jato destruiu o centro político do Brasil e, paradoxalmente, reforçou o chamado Centrão, bloco composto de partidos de centro, centro-direita e direita. O PSDB, que liderava o centro político brasileiro, foi sendo derrotado por suas fragilidades e disputas internas e acabou tendo demolida a sua proeminência. O site Poder 360 levantou alguns números sobre a decadência da legenda. O partido é o sexto colocado em número de prefeituras — elegeu 531 prefeitos em 2022, mas apenas 345 continuam na legenda. E as previsões de desempenho para este ano não são nada otimistas. A expectativa para as eleições de outubro aponta para um declínio ainda maior do tucanato.
Por outro lado, é notória a ascensão do PSD de Gilberto Kassab, que hoje controla mais de 900 cidades, muitas delas com prefeitos que aderiram ao partido ao longo do mandato. Na sequência do ranking, aparecem o MDB e o PP. Provavelmente, o desempenho desses partidos será muito bom daqui a seis meses. Mesmo que apresentem uma queda em relação ao número atual de prefeituras, o trio muito provavelmente alcançará um resultado melhor do que o obtido em 2020.
A fragilidade do antigo centro político também ajuda a pavimentar o caminho da dupla PSD-MDB na direção de conquistar mais espaço nas eleições legislativas de 2026. O PP, caso avance em uma federação com o Republicanos e o União Brasil, também aumentará sua musculatura para a disputa de 2026. O PL, por sua vez, terá, pela força do bolsonarismo, um desempenho relevante. Com Lula no governo, o PT se habilita a crescer em vários municípios, embora não de maneira espetacular. A tendência é que a legenda eleja poucos candidatos nas capitais.
“Três anos é pouco para criar uma alternativa ao embate entre o lulismo e o bolsonarismo”
Enquanto os movimentos dos partidos são previsíveis, as eleições presidenciais permanecem presas na armadilha do tempo. Temos ainda três anos pela frente, o que é pouco para criar uma alternativa ao embate entre o lulismo e o bolsonarismo. Ainda que os partidos de centro se unam em torno de um candidato, o sucesso dependerá de circunstâncias extraordinárias ou de um fracasso retumbante de Lula no governo.
No autódromo da sucessão, temos Lula e Bolsonaro como candidatos postos, ainda que o ex-presidente esteja inelegível. Os demais ainda são nomes de segunda ou terceira divisão que precisariam ser alavancados por circunstâncias especiais. Assim, sem um fato novo, a sucessão está capturada na armadilha do tempo, um pesadelo político que drena energia do país e dos brasileiros para construir um país melhor.
Cabe indagar, porém, o que poderia ser um fato novo, algo que causasse um impacto amplo e generalizado na opinião pública, tal qual representaram o Plano Real, o Bolsa Família e, mais recentemente, o Pix — ou, por outro lado, uma grande tragédia econômica, um escândalo político cuja midiatização fosse tão ampla quanto foi a da Operação Lava-Jato. Enfim, a armadilha do tempo só será rompida por um fato novo, o que, considerando o histórico do país, não deixa de ser uma possibilidade. Mas, ressalte-se, é apenas uma possibilidade, não uma tendência.
Publicado em VEJA de 5 de abril de 2024, edição nº 2887