A bovinocultura tem suas origens na domesticação de bovinos há milhares de anos. Inicialmente, os bois e as vacas eram utilizados para tração animal, fornecimento de carne, leite e couro. O gado desempenhou papéis importantes em várias civilizações e se espalhou pelo mundo através de rotas comerciais e migrações humanas. No Brasil, tem seu início durante o período colonial, quando, em 1534, a primeira introdução de gado ocorreu em São Vicente (SP). Hoje, a bovinocultura continua a evoluir com avanços na genética para melhor qualidade da carne, leite, manejo e tecnologias, desempenhando um papel vital na economia global ao fornecer alimentos e outros produtos para bilhões de pessoas.
A bovinocultura possui dois segmentos principais: a de corte e a leiteira. No corte, a carne é o principal produto, com uma parcela significativa da produção consumida no mercado doméstico (72%) e o restante destinado à exportação (28%), onde é apreciada por sua entrega de valor: qualidade e preço. Outro produto do setor é o couro: produzido após o abate de bovinos, tem como destino a fabricação de calçados, bolsas, cintos e móveis. Além do couro, a cadeia gera coprodutos utilizados na fabricação de gelatinas, eco plástico, peças de xadrez, óleos lubrificantes, velas, fogos de artifício, cordas de instrumentos, medicamentos e outros produtos. A criação dos animais ainda gera dejetos que são transformados em biogás, biometano e adubos orgânicos.
As propriedades produtivas variam em tamanho e estrutura, desde pequenas até grandes fazendas comerciais. Após a criação do gado, os animais são enviados para abate e processamento em frigoríficos (no caso da bovinocultura de corte). Nessas instalações, a carne é cortada, embalada e preparada para distribuição e venda.
Estima-se que o rebanho brasileiro de corte esteja ao redor de 200 milhões de animais, com aproximadamente 10,8 milhões de toneladas de carne produzidas. Somos o 2º maior produtor global, atrás apenas dos Estados Unidos. Nas exportações da carne, o Brasil responde por 25% do mercado global seguido pela Índia com 12,4%. O PIB da cadeia é de cerca de US$ 200 bilhões e estima-se que o pagamento anual de impostos esteja em R$ 160 bilhões.
Nas exportações o setor traz ao Brasil anualmente cerca de US$ 13 bilhões, 8% do exportado pelo agro, com cerca de 3 milhões de toneladas (equivalente carcaça) vendidas, sendo mais da metade do volume (52%) para China e Taiwan. As exportações devem seguir crescendo com o desenvolvimento econômico, crescimento populacional e urbanização, principalmente na Ásia, onde a carne brasileira tem caído nas graças de consumidores, restaurantes e outros. Os frigoríficos brasileiros hoje lideram o mercado mundial.
Na sustentabilidade, o Brasil foi o 1º país a criar uma certificação para “Carne Carbono Neutro”, ou seja, para reconhecer os sistemas de produção que neutralizam – e as vezes até mitigam – a emissão de gases de efeito estufa. Organizações como a Embrapa tem trabalhado em sistemas como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, onde os ganhos de produtividade dos animais são muito maiores e o sistema contribui para remover carbono da atmosfera ou armazená-lo no solo. Enquanto alguns dizem que consumir produtos da pecuária é incentivar o desmatamento, nós vemos as áreas de pastagens caírem no Brasil: de 193 a 163 milhões de hectares nos últimos 30 anos, 15% menor e em ritmo de queda contínua. Ou seja, em 30 anos a pecuária liberou 30 milhões de hectares para o cultivo de grãos, cerca de 1 milhão por ano.
A bovinocultura brasileira é vitrine para o mundo, e isso deve fazer com que nosso sigamos ampliando a produção e exportação de seus produtos gerando mais oportunidades de empregos, arrecadação de impostos e desenvolvimento graças a um trabalho articulado da cadeia produtiva, via o Brazilian Beef, feito pela Associação Brasileira das Industrias Exportadoras de Carne (ABIEC), Agência de Promoção de Exportações (APEX) e outras organizações, divulgando a produção brasileira, feita com sustentabilidade ambiental e social e com grandes possibilidades de seguir crescendo para ofertar carne de valor ao planeta.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinicius Cambaúva e Rafael Rosalino.