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Vices americanos que se tornaram presidentes em circunstâncias trágicas

Um mandou jogar bomba atômica, outros substituíram líderes que haviam sido assassinados, entre outros grandes dramas

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2016, 11h21 - Publicado em 17 abr 2016, 16h12
O poder do universo: Truman, vice até três meses antes, anuncia bomba de Hiroshima

O poder do universo: Truman, vice até três meses antes, anuncia bomba de Hiroshima

Harry S. Truman tomou posse como vice-presidente dos Estados Unidos em janeiro de 1945. Em abril, Franklin Roosevelt morreu e ele se tornou o chefe do executivo de um país nos estertores da II Guerra Mundial. Menos de três meses depois, mandou jogar as duas bombas atômicas que encerraram a resistência do Japão.

“Há dezesseis horas, um avião americano jogou uma bomba em Hiroshima e destruiu sua utilidade para o inimigo”, disse, ao anunciar o primeiro bombardeio, em seu escritório meio desarrumado, sem a solenidade do Gabinete Oval. “É uma bomba atômica. Ela utiliza o poder básico do universo. A força da qual o sol tira seu poder foi desfechada contra aqueles que levaram a guerra ao Extremo Oriente.”

Não existe nenhuma outra decisão na história política de consequências comparáveis, de um só golpe, mas Truman estava tranquilo. Se parecia um contador lendo um relatório é porque havia sido realmente contador. Além de dono de uma loja de armarinhos, pequeno empresário falido e político democrata sem nenhuma expressão, levado à vice-presidência à sombra gigantesca de Roosevelt.

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Truman era tão pouco pretensioso que brincava que o próprio nome: a inicial do meio, S., era simplesmente uma letra. Não a abreviatura de um segundo nome, como é comum.

Lyndon Johnson tinha nome do meio – Baines -, muito mais dinheiro e ambição política. Mas nenhum outro vice-presidente americano prestou juramento em circunstâncias mais dramáticas. No avião presidencial que levava o corpo de John Kennedy, assassinado horas antes, Johnson jurou sobre a bíblia, tendo de um lado sua mulher e do outro a viúva do morto.

Jacqueline Kennedy estava com o mesmo tailleur cor-de-rosa, estilo Chanel, que vestia quando o marido levou os tiros fatais e tombou no seu colo. Na saia e no casaco, havia manchas de sangue e de massa cerebral de Kennedy.

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Para ser embarcado na cabine e não no compartimento de bagagem, o caixão teve quatro alças arrancadas. Os assessores mais próximos de Kennedy, na maioria jovens, soluçavam baixinho. O choro aumentou quando, atendendo a um pedido de Johnson, Jacqueline saiu do lado do caixão e foi para a parte do avião onde um Johnson devastado prestaria juramento.

“Daria tudo o que tenho, de bom grado, para não estar aqui hoje”, disse Johnson em seu primeiro discurso a uma sessão conjunta do Congresso, com o país ainda em choque, em 27 de novembro de 1963. “O maior líder de nossa era foi atingido pelo ato mas hediondo de nossa era.”

Ao assumir a presidência, em 1901, Theodore Roosevelt usou palavras mais grandiosas ainda, como era de seu estilo, fazendo um apanhado histórico dos Estados Unidos e do mundo, com destaque para os primeiros.

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Teddy, como era conhecido, também prometeu acabar com o anarquismo. Leon Frank Czolgosz, metalúrgico anarquista de pais poloneses, havia assassinado o presidente William McKinley com dois tiros no abdômen com um revólver escondido debaixo de um lenço. McKinley estava recebendo cumprimentos do público durante visita à Exposição Panamericana de 1901.

Teddy Roosevelt era caçador e explorador quase morreu afogado numa incursão pelo interior selvagem do Brasil, em companhia de Cândido Rondon, um herói nacional da defesa dos índios. “O mito da natureza benfazeja não pode ser aplicado à crueldade da vida nos trópicos”, anotou ele em seu diário da expedição feita entre 1913 e 1914. Em 1912, havia escapado de uma tentativa de assassinado, que atirou em seu peito. As cinquenta páginas de um discurso de campanha, fracassada, pela reeleição que Teddy Roosevelt levava no casaco salvou sua vida.

“Tenho plena consciência de que vocês não me elegeram presidente com seus votos e, portanto, peço que me confirme com suas preces”, disse Gerald Ford no discurso de posse de 1974. Richard Nixon havia acabado de renunciar, à beira do impeachment, e Ford estava na situação insólita de chegar à Casa Branca sem ter sido eleito sequer como vice. Spiro Agnew, o vice de Nixon, tinha capotado em um caso flagrante de corrupção e Ford era seu substituto nomeado pelo presidente estraçalhado pelo escândalo de Watergate.

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Ford tinha um fato positivo a seu favor, a aura de sujeito simplório, mas honesto. Uma parte dela se foi um mês depois, quando indultou Nixon, garantindo impunidade ao ex-presidente.

A todo, nove vice-presidentes americanos assumiram o governo em lugar dos titulares. Quatro porque os presidentes haviam sido assassinados – além de Kennedy e McKinsey, o monumental Abraham Lincoln e o menos lembrado James Garfield, também do século XIX. Três morreram de morte natural e Nixon renunciou.

Nenhum enfrentou momentos mais tormentosos do que a Harry Truman. No espaço de dezoito dias, haviam morrido Franklin Roosevelt, de derrame; Adolf Hitler, por suicídio diante da hecatombe em que havia lançado a Alemanha e o mundo, e Benito Mussolini, fuzilado e pendurado pelos pés por combatentes comunistas da resistência italiana.

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Truman disse depois da guerra que autorizou o uso das duas bombas atômicas como faria com qualquer outro recurso bélico. Se as forças dos Estados Unidos tivessem que tomar o Japão, que havia declarado a guerra com o bombardeio de Pearl Harbour,  no corpo a corpo, como haviam feito na mortífera campanha do Pacífico, é possível que sofressem mais 500 mil baixas. Mas o “poder básico do universo” desencadeado em Hiroshima e Nagasaki ficou cravado na consciência da humanidade.

Cada um dos vices mencionados teve desempenhos diferentes. Alguns foram eleitos presidente, por mérito próprio, outros sumiram da vida polîtica.

Sem palavras grandiosas, Truman deixou um comentário simples sobre o que é realmente importante em momentos de crise:  “Não existem governos perfeitos. Uma das maiores virtudes da democracia, no entanto, é que seus defeitos são sempre visíveis e, em processos democráticos, podem ser apontados e corrigidos.”

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