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Urso de papel, armas de verdade

Risco de conflito nuclear está no campo das possibilidades reais

Por Vilma Gryzinski 14 Maio 2022, 08h00

Por que autoridades e jornalistas — amestrados — falam tanto em guerra nuclear na Rússia? Os arsenais nucleares existem para não serem usados, segundo o consenso que se instaurou na época em que Estados Unidos e União Soviética eram potências intensamente rivais, mas racionais, conscientes de que os dois lados tinham poder de se destruir mutuamente de forma jamais vista na história da humanidade. Ninguém ganharia uma guerra nuclear porque os dois países haviam desenvolvido sistemas em que mísseis encravados em silos no coração rochoso de montanhas, transportados por “aviões do Juízo Final” eternamente se revezando nos céus ou aninhados em submarinos indetectáveis continuariam a cumprir sua programação infernal mesmo que todos os centros de comando já tivessem virado “cinzas radioativas”. Alguns cálculos falavam em 700 milhões de mortos numa guerra assim, seguidos por mais centenas de milhões que pereceriam de fome: a fuligem lançada na estratosfera obscureceria a luz solar e diminuiria a temperatura do planeta em até oito graus, o fenômeno chamado inverno nuclear que arruinaria 90% das plantações no Hemisfério Norte. Algo parecido com a queda do meteoro que levou à extinção dos dinossauros.

“Putin explodiu a racionalidade ao invadir a Ucrânia e aprisionou a si mesmo num labirinto”

Como é possível que Vladimir Putin, o herdeiro e modernizador desse arsenal apocalíptico, tenha se tornado um Kim Jong-un fortificado, um líder que ameaça, ou manda ameaçar, o mundo constantemente com o terror nuclear? A primeira explicação é a mais fácil: ele faz isso porque está fraco, não forte. A guerra que desfechou contra a Ucrânia tem mostrado que o urso russo é de papel. A resistência dos ucranianos não antecipa um desfecho claro, toda semana morre um general, o mundo desenvolvido caminha para se livrar da russodependência fóssil, só deficientes morais com cérebro de estegossauro têm a falta de vergonha de defender o lado de Putin. A opinião pública russa, que apoia maciçamente a obliteração da Ucrânia, começa a desconfiar que o país não está ganhando. Lembrá-la do poderio nuclear da mãe-pátria afaga egos com muitas desilusões ainda pela frente.

Existe ainda outra possibilidade: Putin e asseclas estão dessensibilizando a opinião pública, esgarçando sistematicamente as várias cortinas que envolvem o tabu das armas nucleares. Preparam, assim, o terreno, para o uso de um artefato tático, uma “bombinha” que reverta uma possibilidade, completamente inaceitável do ponto de vista russo, de uma derrota no campo de batalha. O filósofo alemão Jürgen Habermas, mortificado com a conversão da esquerda pacifista à ajuda bélica em massa aos ucranianos, disse que a situação atual cria duas opções insuportáveis: derrota da Ucrânia ou escalada incontrolável que acabe levando à III Guerra Mundial, com o terror nuclear pairando sobre todos. “Temos de encontrar uma saída para nosso dilema.” Qual? Nem Habermas, com seus 92 anos, em boa parte dedicados a desenvolver a Theorie des kommunikativen Handelns, uma espécie de teoria de tudo da racionalidade, é capaz de responder. Putin explodiu a racionalidade ao invadir a Ucrânia e aprisionou a si mesmo num labirinto de saídas fechadas. No processo, virou um perigo que o resto do mundo não sabe como resolver.

Publicado em VEJA de 18 de maio de 2022, edição nº 2789

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