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Trump versus ex-diretor do FBI: quem come e quem é comido?

Livro de James Comey beira o ridículo para quem prometeu um bomba, mas afeta a questão da honradez do presidente, ainda levada a sério pelos americanos

Por Vilma Gryzinski
16 abr 2018, 08h51

Para um homem de dois metros e três centímetros de altura e um conceito sobre si mesmo maior ainda, James Comey tem se revelado de pouca estatura moral.

Como diretor do FBI, escondeu do presidente um fato de alto teor político (a procedência de um dossiê comprometedor, encomendado pelo Partido Democrata).

Vazou para a imprensa suas anotações sobre conversas com o presidente, cuja veracidade não pode ser comprovada, com o objetivo declarado de forçar a criação de uma investigação especial.

Demitido, por bons motivos, passou a travar uma batalha contra o presidente via Twitter. Com o lançamento do livro que aparentemente já planejava escrever desde que ainda estava no cargo, aumentou os ataques digitais

Qualquer pessoa que acredite ser capaz de vencer Donald Trump nas tuitadas precisa ter sua cabeça examinada.

Uma pequena amostra do que Trump disse nos últimos dias sobre ele:

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“James Comey é MENTIROSO, MENTIROSO, MENTIROSO.”

“Foi uma honra para mim demiti-lo.”

“As grandes perguntas no livro mal resenhado de Comey não são respondidas, como ele passou informações sigilosas (cadeia), por que mentiu para o Congresso (cadeia), por que o Comitê Democrata se recusou a dar o servidor para o FBI (por que não foi APREENDIDO), por que as anotações falsas, os 700 mil dólares a McCabe & mais.”

Ah, sim, Comey também é “vaselina” e “mascarado”.

O livro do ex-diretor realmente é fraco, tem pouca coisa que ele não tivesse dito antes e entra no campo do ridículo quando descreve fatos evidentes.

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O presidente tinge cabelo, usa um penteado elaborado e faz bronzeamento artificial, daí os círculos brancos em volta dos olhos, marcas do óculos protetores.

Basta olhar para Trump e tirar as mesmas conclusões. Como nenhuma outra pessoa no mundo tem sido mais “olhada” nos últimos dois anos, o ghost writer de Comey poderia ter tido alguma ideia mais original.

Provavelmente, o responsável deve ter achado engraçado escrever que Comey comparou o tamanho de suas mãos com as do presidente – referência a uma piada da época da campanha, originada por Marco Rubio, que pretendia evocar analogias morfológicas genitais.

O mais estrago de Comey é numa área mais sensível, a da honra. Por incrível que pareça, muitos americanos esperam um comportamento exemplar dos presidentes. Ou, pelo menos, algo que pareça com isso.

Não são bobos ou iludidos, mas sim herdeiros de uma cultura política em que os cidadãos estão acima daqueles que elegem e pagam para representá-los.

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Democratas sinceros, por exemplo, não perdoaram Bill Clinton por, famosamente, mentir sobre o caso com Monica Lewinsky (“Nunca tive relações sexuais com aquela mulher”) . George Bush pai foi atormentado durante anos por uma promessa reiterada e descumprida de campanha (“Façam leitura labial: não vou aumentar impostos”).

Nunca ninguém acusou Donald Trump de ter um comportamento ético impecável, mas Comey pode aumentar o estrago nessa área.

“Nosso presidente precisa encarnar o respeito aos valores que são o ponto fulcral de nosso país. O mais importante deles é a verdade. O presidente atual é incapaz de fazer isso. É moralmente inabilitado para ser presidente.”

O problema são os questionamentos a Comey exatamente no mesmo campo da retidão ética. Apresentando-se como um gigante moral, apesar das dúvidas legítimas levantadas por Trump, ele aumentou a própria fragilidade na principal entrevista dada para divulgar seu livro.

Disse, por exemplo, que a mulher e as filhas participaram da Marcha das Mulheres contra Trump logo depois da posse.

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“Queria muito ver a primeira presidente e apoiei Hillary Clinton. Fiquei devastada com a derrota dela”, confirmou Patrice Comey à televisão ABC.

Imaginem a situação contrária: Barack Obama acaba de tomar posse e a mulher do diretor do FBI vai a uma manifestação de protesto contra o novo presidente. O universo do comentariado americano entraria em entropia.

Mais problemas: cônjuges publicamente comprometidas com o Partido Democrata já criaram uma encrenca ainda não resolvida para um dos principais diretores da equipe de Comey, Andrew McCabe, citado no tuíte de Trump.

Agora demitido, McCabe criou um verdadeiro núcleo de antitrumpismo na cúpula do FBI. A mulher dele foi candidata, derrotada, a um cargo eletivo pelo Partido Democrata e recebeu quase 700 mil dólares em ajuda de campanha do braço direito de Hillary.

Para complicar, Comey agora alega uma motivação política para sua infame intervenção pouco antes da eleição presidencial, quando anunciou uma reabertura do caso dos emails de Hillary por causa da apreensão de material suspeito nos computadores de Anthony Wiener, o marido tarado de Huma Abedin, braço esquerdo da candidata.

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Segundo Comey, ele partiu do pressuposto de que Hillary seria eleita presidente e estava preocupado que se tornasse uma presidente “ilegítima” por causa do possível crime de comunicação fora dos instrumentos oficiais.

É difícil hierarquizar o que está mais errado nisso: explicação, motivação e “suposição” de um diretor do FBI que não poderia fazer nada disso. No fundo, ele está dizendo que queria proteger Hillary.

Com um inimigo assim, Trump, assediado por uma multiplicidade de potenciais armadilhas, tem pelo menos uma garantia. O ex-diretor do FBI é um boboca.

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