Num país onde a mais reverenciada das rainhas, Elizabeth I, mandou matar a prima, a briguinha entre as duas duquesas, Meghan Markle e Kate Middleton, saiu dos bastidores e dos tabloides para chegar aos “jornais de qualidade” – sinal de que a coisa está feia.
Pelo menos, dá algum assunto para ocupar as atenções enquanto a primeira-ministra Theresa May tenta emplacar o acordo que fez com a União Europeia para balizar o Brexit.
O acordo deixou praticamente todo mundo infeliz e Theresa May precisa convencer 318 votos parlamentares para que siga adiante. Está difícil.
Entre os “rebeldes” de seu próprio Partido Conservador que consideram o acordo uma traição ao desejo expresso pela população no plebiscito e a maioria esmagadora da oposição trabalhista que vai votar contra, no momento o acordo não seria aprovado. A primeira votação será dia 10 de dezembro.
May vai ter que dar um duro danado. Os trabalhistas vão tirar todas as ferramentas da caixa: forçar uma moção de não-confiança, o que significaria uma possível queda da primeira-ministra; propor um novo referendo e, principalmente, novas eleições.
É a possibilidade de perder o governo para Jeremy Corbyn que segura, ainda, Theresa May. Todo o resto está desabando.
O mais difícil é convencer os chamados eurocéticos a votar contra seus próprios princípios, devido às concessões excessivas feita pela primeira-ministra.
Atropelar princípios não é exatamente uma novidade para a classe, mas tem o pequeno problema do eleitorado revoltado e disposto a incinerar mandatos de “traidores”.
O ponto de vista dos brexiters sobre o acordo foi resumido com os recursos oratórios habituais de Boris Johnson: “Ficamos presos à união alfandegária da União Europeia, somos obrigados a aceitar as leis da União Europeia e não teremos direito a dizer nada sobre estas leis. Ficamos proibidos de fazer acordos comerciais. E vamos entregar 39 bilhões de libras a troco de nada”.
Único problema: a opção de voltar à estaca zero, atualmente bastante possível, (“O clima é de enterro”), resumiu um chefão da UE), pode ser pior ainda.
CASA DO SAPO
É normal, portanto, que num clima desses as intrigas da família real sejam até um alívio. O estranhamento entre duas mulheres lindas e seguidas em cada milímetro de suas vidas que chegaram a seus príncipes por caminhos bem diferentes muda, nem que seja por alguns momentos, a narrativa.
Um rápido resumo: a boataria de atritos entre Harry e William, os irmãos muito queridos, especialmente pela tragédia da perda precoce da mãe, Diana, andava pipocando há algum tempo nos tabloides, onde se misturam notícias reais e “inferidas”, quando não simplesmente inventadas,
Agora, muito foi confirmado nos “jornais de qualidade”. A assessoria dos dois príncipes vai ser separada e Harry e a mulher , que estão esperando o primeiro bebê, vão morar, literalmente, na casa do sapo. Não um sapo qualquer, claro.
O Frogmore Cottage faz parte de um conjunto esplendoroso em torno da Frogmore House, um castelo campestre na região de Windsor, tudo propriedade da rainha.
Frogmore House de casa só tem o nome. É um palacete branco que foi comprado para Charlotte, a princesa alemã que virou rainha e precisa se afastar um pouco dos ataques de loucura do marido, George III, que sofria uma doença altamente desestabilizadora então desconhecida, porfiria.
O anúncio da mudança, depois de reformas cujo custo está sendo cuidadosamente escondido, pegou todo mundo de surpresa. Pelo ritmo real das coisas no mundo de infinitos arranjos entre muita gente de sangue azul, Harry e Meghan iriam para o “apartamento” – na verdade um palacete – vizinho de William e Kate no Palácio de Kensington, onde moram, em diferentes instalações palacianas, vários membros da família real.
Agora, Harry e Meghan vão para a terra dos sapos, a tradução literal do lugar que escolheram para ficar bem longe do futuro rei William e de sua rainha consorte, Kate.
Fofocas: a relação entre as duas cunhadas não apenas é fria como Kate ficou “em lágrimas” quando levou a filha Charlotte para experimentar o vestido de daminha de honra que usaria no casamento de Harry e Meghan.
E ainda por cima não foi convidada para a festa de despedida de solteira da futura duquesa.
Mais: a ex-atriz americana, que obviamente tem um plano ambicioso para si mesma e o marido, é considerada mandona demais, dispara cinco ou seis emails praticamente de madrugada e provocou demissão ou descontentamento entre membros da equipe de assessores.
A secretária particular, uma espécie de assessora para tudo dos muito ricos, Melissa Toubati, deixou o emprego depois de apenas seis meses. “Qual o motivo de largar um emprego de tanto prestígio?”, indagou a famosa “fonte anônima” que aparece nessas horas.
E Mellissa não era nenhuma inexperiente. Antes de Meghan, foi AP (assistente pessoal, para quem não sabe) durante seis anos de Robbie Williams, uma das figuras mais complicadas, por assim dizer, da música pop britânica (para quem não lembra, foi o cantor que fez aquele gesto feio na apresentação de abertura da Copa do Mundo da Rússia).
O ambiente em torno de Meghan foi gravemente prejudicado pelo próprio pai dela, que vendeu fotos e entrevistas a tabloides e canais de televisão antes e depois do casamento, colocando-a numa posição extremamente constrangedora. Felizmente, o inconveniente agora anda calado.
Dizem que tanto Meghan quanto Harry chegaram a chorar pelas baixarias grotescas do pai dela, falando coisas absurdas e obviamente instigadas pelos diabólicos tabloides.
Os sinais de estranhamento entre os irmãos começaram a ficar claros quando foi anunciado que William e Harry passariam a ter “cortes” separadas. A palavra não tem nada a ver com menestréis ou damas de companhia.
Hoje, significa toda a equipe a serviço dos príncipes: secretárias particulares, assessores de imprensa, especialistas em relações públicas, coordenadores de eventos e até camareiras e camareiros para ajudar a cuidar e coordenar a incrível quantidade de roupas que os príncipes, e principalmente as princesas usam em compromissos oficiais.
Cuidar da imagem dos membros mais importantes da família real é um assunto de alto interesse nacional: como relações públicas de altíssimo luxo e nível incomparável, eles promovem negócios e causas filantrópicas para amenizar a impressão de que sugam os recursos nacionais em festas e férias.
Tudo que cada membro da família real faz é cuidadosamente planejado para obter o efeito desejado, sejam negócios milionários com outros países, sejam inaugurações e visitas a feiras rurais – esta a especialidade do príncipe Charles, um entusiasta da agricultura orgânica.
Charles contratou profissionais que criaram a imagem da monarquia atual, cuja sobrevivência depende da aprovação da opinião pública mais do que qualquer outra coisa.
Ele viu tudo desabar e teve medo de levar, literalmente, pancada no desfile do caixão da ex-mulher, Diana, com o público revoltado pela morte absurda. e a rejeição que ela sofreu como “mulher traída”.
Aos 70 anos, o herdeiro que mais tempo espera para receber a coroa, Charles fez os assessores plantarem reportagens simpáticas, mostrando-o como um homem culto, especialista em inúmeros temas e preparado para ser rei.
Ainda está longe de ser um sucesso. A última pesquisa sobre o tema mostra que Harry é o membro mais popular da família real. Com 77% das simpatias, supera até formidável e imorrível Elizabeth, que tem 75%.
Seguem-se William e Kate e o príncipe Phillip. Meghan Markle aparece num honrado sexto lugar – embora, com 55%, não contem com a simpatia de 45% do público. Mas está melhor na fita do que o sogro, com 48% de aprovação. Mesmo depois de tanto tempo, a futura rainha Camilla tem míseros 29% de aprovação.
Ser espontâneo e passar uma imagem de autenticidade são características que turbinaram a posição de Harry. Os murmúrios de que está sendo manobrado pela mulher e até “ditatorial” podem prejudicar esta imagem.
Segundo as tais “fontes” que estão aparecendo por toda parte, a rainha teve que dar um pito no neto quando Meghan começou a fazer exigências consideradas inconvenientes sobre qual tiara, da imensurável coleção real, seria emprestada a ela para o casamento.
Supostamente, Meghan queria uma tiara mais grandiosa do que a encantadora joia que usou, “simples” como convém a uma recém-chegada à família real – a de Kate foi mais modesta ainda, se é que se pode usar o adjetivo a joias cravejadas de diamantes valorizadas pelo fato de que repousam nos cofres da rainha.
CORTEM AS CABEÇAS
A tiara desejada por Meghan, de novo supostamente, é um portento de quinze círculos entrelaçados de diamantes, aos quais podem ser acrescentados pérolas ou esmeraldas. É chamada de tiara Vladimir.
Ela pertenceu à grã-duquesa Maria Pavlovna e foi tirada da Rússia, como nos filmes, momentos antes da invasão pelos bolcheviques do palácio do grão-duque Vladimir Alexandrovitch em São Petersburgo por um amigo da família que também era espião inglês. Acabou comprada pela rainha Mary, avó da rainha atual, fanática por joias.
Além do excesso de grandiosidade da tiara, sua origem complicada não combinaria com um momento de tensão diplomática com a Rússia, que em março mandou matar um ex-espião exilado na Inglaterra, no cabeludo caso Srkipal.
Viram como histórias de tiaras e de cunhadas que se estranham dão um bom alívio ao clima miserável que o Brexit vai-não-vai está criando?
Sobre a rainha que Elizabeth I mandou matar a prima, depois de mantê-la por 18 anos em cativeiro. Foi tudo por motivos políticos, nada de briguinha de mulheres ciumentas. Mary ou Maria Stuart, rainha da Escócia, era considerada a herdeira legítima pelos católicos e endossou diversas tramas contra Elizabeth.
Foi decapitada em 7 de fevereiro de 1587, num cadafalso montado num salão do castelo de Fotheringay.
Morreu como rainha: agradeceu aos mensageiros que havia levado sua sentença de morte, escreveu cartas de despedidas a amigos e parentes e mandou uma das damas de companhia parar de chorar. Disse em latim o salmo “In Te Domine speravit, ne confundar in aeternum”.
Não muito diferente de Ana Bolena, a mãe de Elizabeth I por quem Henrique VIII, antes de se enrabichar por outra, rompeu com Roma e fundou uma religião protestante independente, uma das maiores reviravoltas históricas da Inglaterra.
Definitivamente, bem mais complicado do que disputar quem fica melhor de Givenchy e qual assessora de estilo consegue as roupas e composições mais perfeitas.