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Taça de malhação: Trump leva mais um livro na cara e nem liga

Derrubar o presidente com uma obra demolidora é o sonho de jornalistas e ex-assessores vingativos, mas o couro desse já está curtido

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 29 Maio 2019, 15h30 - Publicado em 29 Maio 2019, 14h07
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  • A coisa está feia quando nem o New York Times se entusiasma com um livro do tipo que pretende “contar tudo” e finalmente facilitar o sonho do impeachment de Donald Trump.

    O livro é de Michael Wolff, o autor que causou um barulho danado com Fogo e Fúria. Pelo menos até ficar claro que ele tem uma relação extremamente aberta com os fatos. Segundo suas próprias palavras, o que ele faz “não tem nada a ver com a verdade”.

    A nova obra, que só foi antecipada para alguns jornais, usa o mesmo conceito de título que já rendeu muito – Cerco: Trump Debaixo de Fogo – e repete a dobradinha com Steve Bannon como fonte principal.

    O mais interessante é, justamente, o que não está escrito: a relação de amor e ódio de Bannon com Trump, descrito por ele como “não o bilionário que dizia ser, mas só mais um da escumalha”.

    Impulsionador do site Breitbart, feiticeiro digital da campanha presidencial e ideólogo de vida curta no governo Trump, Bannon continua a elogiar muitas coisas do homem que acredita ter levado à Casa Branca e criticar outras tantas.

    Guru enciumado é mais problemático do que amante rejeitada.

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    Bannon, aparentemente, não tem nada a ver com duas das afirmações mais extremas do livro. A primeira, é que o promotor especial Robert Mueller passou um ano com um documento que detalhava os motivos para detonar Trump por obstrução de Justiça.

    Como Mueller encerrou a investigação sobre interferência russa na eleição presidencial sem acusar Trump de nenhum delito, o documento engavetado daria uma força tremenda ao esforço conjunto da oposição democrata para conseguir o que o investigador especial não conseguiu: bases suficientes para abrir um processo de impeachment.

    Hoje, ao anunciar que a investigação acabou e ele volta para as atividades privadas, o ex-diretor do FBI disse que “acusar o presidente de um crise não era uma opção que podíamos levar em consideração”.

    Um porta-voz de Mueller também negou categoricamente sequer a existência do documento citado por Wolff.

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    Mas todo mundo sabe como essas coisas funcionam: as fontes sigilosas passam a informação, mas fica combinado que vão desmenti-la como método de autopreservação.

    A quantidade de vazamentos envolvendo o governo Trump é histórica e demonstra como o “sistema” tentou e continua tentando sabotá-lo, seja por motivos legítimos, até hoje longe de comprovados, seja por considerar que o povo burro elegeu o presidente errado e isso precisa ser consertado.

    Durante todo o processo investigativo da ingerência russa houve até uma divisão de trabalhos. O FBI vazava para o New York Times e o Departamento de Justiça para o Washington Post.

    A equipe de Mueller vazou mais do que um castelo apodrecido com encanamentos do século 18.

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    Algumas notícias transmitidas assim foram deliberadamente manipuladas para prejudicar Trump, outras escamoteavam fatos que poderiam ser favoráveis a ele e todas escondiam a origem suspeita, no governo Obama, de investigações de natureza política.

    Outra afirmação pesada que consta do novo livro não tem como ser desmentida ou comprovada. Segundo Wolff, ao ver como seu ex-advogado e operador Michael Cohen, entre outros contatos de origem judaica, havia feito um acordo de delação premiada com Mueller, Trump comentou: “Os judeus sempre pedem arrego”.

    Sem fonte comprovada nem necessidade de contraditório, as palavras preconceituosas confirmam as convicções de quem já odeia Trump.

    E se ele nunca disse isso, como provar? Levando todas as pessoas que conviviam com Trump naqueles momentos ao banco de testemunhas?

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    Como Mueller já fez e agora estão fazendo diversas investigações conduzidas pelos democratas, que ganharam a maioria na Câmara, o novo livro de Wolff tenta pegar Trump pelo lado de uma vida inteira de negócios no notavelmente encrencado ramo imobiliário.

    “Durante 40 anos ele tocou o que crescentemente parecia ser uma empresa semicriminosa”, diz Wolff. E acrescenta Bannon: “Acho que pode tirar a parte do semi”.

    Entre outras coisas, Trump, segundo Wolff, emprestava seu nome e agia como fachada para negócios imobiliários de altíssimo padrão. Num desses, passou a perna num candidato a comprador e ganhou 55 milhões de dólares só pela intermediação.

    Pois é, a coisa perde a graça quando isso é tudo que o livro pode entregar a respeito de um presidente que já foi acusado de trair o próprio país e se aliar ao regime russo para ganhar eleição, sem que nada disso fosse comprovado,

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    São tantas as acusações diárias, várias vezes falsas ou exageradas, feita pela oposição, pela imprensa e pelos autores de livros que parecem criar um efeito contrário.

    Detentor do recorde mundial de malhação, Trump está virando um daqueles lutadores de sumô a que foi assistir no Japão: uma montanha humana capaz de absorver qualquer choque e, de repensem, sem que os não iniciados percebam de onde está vindo a coisa, colocar o adversário fora do dohió, a plataforma de luta de areia socada.

    Imaginar Trump com aquela tanga de sumô é uma visão infernal. Mas é para bom lembrar que todas as forças oposicionistas se concentram agora na eleição do ano que vem.

    Investigações na Câmara e o pelotão diário de acusações têm por objetivo jogar Trump para bem longe de uma reeleição.

    Como no sumô, uma luta inspirada pelas brigas de ursos, o que parece um resultado garantido engana um bocado de gente.

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