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Racha na esquerda: Maduro compra briga com governos de Brasil e Colômbia

Tirano venezuelano responde com agressividade a notas cautelosíssimas de “preocupação” — é para valer ou foi tudo combinado?

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2024, 10h59 - Publicado em 28 mar 2024, 06h54
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  • Nicolás Maduro quer briga. Ou quer parecer que está brigando contra “intervencionistas” vizinhos — justamente os mais amáveis e gentis diante dos abusos que precedem a farsa eleitoral de 28 de julho.

    “Quem vier opinar e se imiscuir nos assuntos internos da Venezuela receberá sua pancada. Chame-se União Europeia, da direita, a esquerda covarde, pancada pura.”

    Ele também reclamou que ninguém condenou o que apresenta como conspirações e terrorismo da oposição, sua mais recente encenação. “Calam-se os governos de direita, e a esquerda covarde. Não são capazes de condenar os golpes contra a paz e a revolução”.

    Brasil e Colômbia, através de seus serviços diplomáticos, haviam manifestado “preocupação” depois da proibição da substituta de última hora e xará de María Corina Machado, Corina Yoris, uma professora de filosofia de 80 anos que, obviamente, não tem o carisma da líder oposicionista cassada. Mesmo assim, sua candidatura tampão pela Plataforma Unitária Democrática não pode ser protocolada no sistema.

    Perseguir, proscrever e prender potenciais oposicionistas é uma prática consagrada pelo madurismo, mas até pelos padrões absurdamente tolerantes dos governos amigos de Lula da Silva e Gustavo Petro parece que foi demais.

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    As declarações de ambos os países, tão cheias de dedos, foram igualmente tachadas de atos de ingerência que parecem “ter sido ditados pelo Departamento de Estado”. Uma acusação ridícula, mas Maduro evidentemente não tem a menor preocupação em evitar esse tipo de característica.

    Militar assassinado

    As investidas contra aliados de esquerda repetem, embora em tom não tão exacerbado, a saraivada de ataques que a Venezuela normalmente faz contra Gabriel Boric, o presidente chileno também proveniente da extrema esquerda, mas pioneiro nas críticas aos abusos de Maduro e companhia. Quando dois colaboradores de María Corina foram presos, o governo Boric manteve a mesma linha e manifestou “firme condenação diante da detenção arbitrária de representantes de partidos políticos de oposição”.

    Em tom muito mais categórico do que o dos diplomatas brasileiros e colombianos, a nota chilena dizia o óbvio: a prisão de oposicionistas “afeta seriamente a realização de eleições presidenciais democráticas, transparentes e livres, com participação plena de todos os candidatos e candidatas, contrariando os Acordos de Barbados endossados pela comunidade internacional”.

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    Maduro obviamente rasga todos os dias os acordos assinados em outubro do ano passado, com suspensão de sanções dos Estados Unidos em troca de compromissos como a realização de eleições legítimas.

    O Chile tem um problema adicional: lidar com o sequestro, assassinato por asfixia e ocultação do corpo numa mala enterrada sob laje de concreto de Ronald Ojeda, um ex-militar venezuelano que conseguiu fugir da cadeia e pedir asilo político no país. O sequestro foi filmado por câmeras de segurança e atribuído a delinquentes do Trem de Arágua (ou bonde, como se diria no Brasil), uma grande organização criminosa da Venezuela. O crime espalhou medo entre asilados venezuelanos, inclusive no Brasil.

    “Jogo dos americanos”

    As esquerdas tradicionalmente têm enorme dificuldade para fazer autocrítica e, na América Latina, são contaminadas pelo antiamericanismo infantil. Acham, no caso dos que são dominados pela doutrina e não pelos princípios, que criticar a Venezuela é fazer o “jogo dos americanos”.

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    Na verdade, é o oposto: a existência de um regime como o venezuelano, que multiplicou a miséria e a imigração em massa, é a melhor propaganda contra a esquerda que existe. Até as pessoas menos interessadas em acontecimentos políticos sabem que a Venezuela é um desastre e não querem ter nada a ver com ele.

    Manual do autoritarismo

    Quem acreditou nos Acordos de Barbados passou vexame. Maduro vai ganhar a eleição sem concorrentes reais e dar risada da cara dos aliados a quem chama hoje de capachos dos Estados Unidos. É um show que ele sabe protagonizar muito bem e já está montando outra encenação: mandou arrancar fusíveis e cortar a energia elétrica da embaixada argentina em Caracas, onde seis oposicionistas pediram asilo.

    Criar inimigos externos é uma das jogadas mais consagradas do manual político do autoritarismo. Ele já tentou fazer isso ameaçando engolir mais da metade do território da Guiana, o chamado Essequibo e pode fazer de novo.

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    Escreveu Héctor Schamis no Infobae: “Maduro tem diante de si a ‘opção Daniel Ortega’, com isolamento total e completa irracionalidade. Ou regressar a 2018, com uma eleição fraudulenta, sem reconhecimento internacional e seguida de uma usurpação do poder, poder que não pode abandonar. Em qualquer um dos dois casos, condenado a viver entre a solidão e o delírio”.

    Exceto, naturalmente, se os amigos resolverem, como já fizeram tantas vezes, fechar os olhos de novo e continuar tratando Maduro como “um dos nossos”, em vez de se descontaminar de sua proximidade tóxica.

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