Vamos pela ordem da esquerda à direita na foto acima. Coincidentemente, também é a ordem cronológica. David Cameron foi o primeiro a rodar, tragado pelo resultado do referendo que ele próprio havia convocado, imaginando sair fortalecido com uma votação sólida a favor da permanência do Reino Unido na União Europeia.
Todo mundo já sabe que deu o resultado oposto e Cameron renunciou em julho. Só para lembrar, ele queria o referendo para acalmar a ala eurocética de seu partido, o Conservador.
É importante registrar isso para deixar claro como a revolta das maiorias silenciosas contra políticos que representam o establishment ataca à direita e à esquerda.
O Brexit até agora teve resultados muito menos negativos do que os pregadores catastrofistas. Mas o governo da substituta da Cameron, Theresa May, parece meio perdido sobre a forma e o conteúdo do processo de divórcio. Também precisou enfrentar contestação sobre a constitucionalidade da ruptura na Suprema Corte, um fator adicional de instabilidade.
Próximo da fila: Barack Obama. O mais esquerdista de todo os presidentes americanos, evidentemente, não poderia ter um terceiro mandato. Mas não conseguir fazer a sucessora equivaleu a uma rejeição massacrante.
Americanos em choque ou em êxtase ainda estão assimilando os múltiplos significados da vitória de Donald Trump em 8 de novembro. A única coisa em que todos concordam é que havia um bocado de eleitores insatisfeitos com “tudo o que está aí”.
No centro da foto está a sobrevivente e provável exceção ao furacão populista, Angela Merkel. O prestígio da primeira-ministra foi abalado pela política de braços abertos às recentes ondas migratórias, mas a maioria dos alemães ainda é a favor de dar um excepcional quarto mandato a ela, em outubro de 2017.
E é impossível deixar de lembrar que dez meses nos atuais tempos de reviravoltas são quase uma eternidade. Os avanços recentes em eleições regionais do partido que é contra a imigração de muçulmanos e contra a participação na União Europeia mostram que a Alemanha não é imune ao surto global de insatisfação.
Aliás, global e anti-globalização. Um dos aspectos mais curiosos do tsunami populista é a incorporação de uma bandeira quase esquecida da esquerda, contra a globalização. O que parecia ser um movimento contra forças da natureza como as marés ou as correntes de vento está ganhando um fôlego insuspeito.
É essa turma que comemora o “fim” dos outros dois nomes da lista: os “globalistas” François Hollande e Matteo Renzi.
Curvando-se, excepcionalmente, aos fatos, Hollande anunciou na quinta-feira passada que não vai disputar a candidatura presidencial pelo Partido Socialista, livrando-se de uma derrota constrangedora.
O anúncio teve impacto próximo de zero: na França, só se discute o segundo turno da eleição presidencial, presumidamente entre a direita, representada por François Fillon, e a extrema direita de Marine Le Pen. A coisa anda tão feia que até a escolha de Fillon, um representante rematado do establishment, foi vista como uma espécie de revolta das bases que votaram nas primárias do partido Os Republicanos.
O mesmo sentimento de rebelião inspirou a queda do último da lista, Matteo Renzi. O referendo sobre um assunto aparentemente inócuo, uma reforma constitucional para modernizar o funcionamento das instituições políticas italianas, virou a desgraça do primeiro-ministro. Depois de uma derrota maior ainda do que se prognosticava – um “não” da ordem de 60% -, ele teve que cumprir a promessa de renunciar.
Os mais pessimistas encaram o resultado do plebiscito como um sinal de que a Itália eventualmente vai acelerar o desmoronamento da União Europeia, iniciado com o Brexit. Os mais otimistas… Onde é mesmo que estão eles?