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Por um fio: a resposta contida de Israel não exclui conflito generalizado

Estamos no cenário da perda de controle de ataques e represálias porque o regime iraniano não pode contemplar a desmoralização

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 26 out 2024, 07h53 - Publicado em 26 out 2024, 07h28

Israel ia atacar, o Irã sabia muito bem disso e as últimas semanas no Oriente Médio, com todos os dramáticos acontecimentos em Gaza e no Líbano, concentraram-se em torno de perguntas essenciais. A mais fundamental delas: podem os dois países continuar o ciclo de ataques e represálias sem que haja uma escalada incontrolável que leve a conflito generalizado?

Ainda não é possível responder com certeza. Israel, obviamente, acertou com os Estados Unidos como ia responder – e alguns misteriosos americanos até vazaram seus planos.

Considerando-se que vários elementos políticos da direita de Israel clamaram por bombardeios das instalações nucleares, da infraestrutura petrolífera e até do bunker do líder supremo, o nome de histórias em quadrinhos do aiatolá Ali Khamenei, a resposta foi contida. Do ponto de vista militar, deixou em aberto novos desdobramentos: o ataque mirou sistemas de defesa antiaérea. Sua neutralização “abre as portas” a futuros bombardeios.

A reação da mídia iraniana, obviamente altíssimamente controlada, de minimizar os ataques tem um lado positivo: se o Irã está interessado em dizer que os efeitos dos bombardeios pesados, feitos por nada menos que cem aviões, não tiveram maiores consequências, pode não se sentir na obrigação de retaliar.

Desmoralização perigosa

Isso desativaria o perigo de uma escalada descontrolada que deixa a economia mundial por um fio por envolver a exportação de petróleo. O Oriente Médio exporta 15 milhões de barris de petróleo por dia e o Irã ameaçou atacar as instalações de países árabes se Israel atingisse sua infraestrutura – é nessas horas que fica mais delineado o eterno confronto entre persas e árabes.

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“Salvar as aparências” é importante para o regime iraniano num momento em que seus aliados sofrem perdas pesadíssimas, com parte da força armada e da liderança do Hamas neutralizadas, inclusive Yahya Sinwar, e o Hezbollah sucessivamente decapitado.

Um Irã desmoralizado é um Irã mais perigoso porque o regime teocrático não existe para promover o progresso e o bem-estar da população. Suas justificativas para existir são duas: manter o mais estrito regime religioso tal como interpretado pelos aiatolás xiitas e promover a destruição de Israel.

Isso propicia um sistema com alto desenvolvimento bélico, principalmente em matéria de mísseis e drones, e ao mesmo tempo uma insanidade coletiva. Ali Khamenei já disse que a “entidade sionista”, como chamam Israel, deixará de existir no ano 2040.

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Não é um conflito distante com o qual o Brasil nada tem a ver. Qualquer desarranjo no mercado do petróleo traria graves consequências para o país. Também é preciso levar em conta a colaboração entre o Irã e seus apaniguados com regimes de esquerda na América Latina.

Campo da irracionalidade

O governo argentino revelou na sexta-feira a identidade do chefe das operações do Hezbollah na América Latina, Hussein Ahmad Karaki, atualmente no Líbano, o que diminui suas perspectivas de sobrevivência.

Segundo a acusação, foi ele o “executivo” que dirigiu os dois grandes atentados contra alvos judeus em Buenos Aires, a explosão de carros-bomba na embaixada israelense, em 1992, e no centro comunitário judaico, em 1994. Ele também coordenou várias operações terroristas que não deram certo, inclusive no Brasil.

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Tudo o que o Hezbollah faz é ordenado ou coordenado com o Irã. Ambos não têm nenhum motivo para combater Israel, exceto pelo fundamentalismo religioso que não admite a existência de um Estado judeu. Estamos, portanto, no campo da irracionalidade. O que torna tudo mais complicado.

Em questão de dias ou semanas, veremos se o Irã “absorve” o ataque israelense e interrompe o ciclo de sucessivas represálias.

Segundo o New York Times, o Irã tinha preparado uma barreira de mil mísseis balísticos caso sofresse ataques em pontos vitais. Os riscos continuam a ser altíssimos.

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