Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Patrulha da vida privada: da Indonésia ao Irã, religião influencia leis

Visão estrita da religião muçulmana está por trás da inclusão do sexo fora do casamento no código penal e controle das vestimentas femininas

Por Vilma Gryzinski 7 dez 2022, 07h00

Ir a Bali, surfar no mar ou nas festas, mergulhar numa cultura amável e diferente e, como no terceiro item do livro Comer, Rezar, Amar, curtir uns namoros arrebatados.

Os turistas interessados no programa já devem saber: o sexo fora do casamento vai entrar no código penal, com castigo de até um ano de prisão. Morar junto sem ser casado dá seis meses. Detalhe importante: a “infração” tem que ser denunciada por pais, filhos ou cônjuges dos envolvidos, o que não deve dar muita tranquilidade a homens casados com relacionamentos paralelos.

O novo código foi aprovado por unanimidade pelo Parlamento da Indonésia, o país de esmagadora maioria muçulmana do qual a ilha de Bali, onde reina uma mistura de hinduísmo, budismo e antigas crenças animistas, é simultaneamente uma exceção e a grande atração turística.

Bali é uma gota no mar dos quase 280 milhões de indonésios, obviamente um país diversificado, mas onde o renascimento da religião muçulmana em sua versão estrita está em expansão. Em algumas regiões, é obrigatório para as mulheres usar roupas longas e largas e lenço na cabeça – pelo menos, pela tradição, são brancos, aliviando o opressivo negro total dos países do Oriente Médio mais rígidos.

A obrigatoriedade de cobrir todo o corpo e os cabelos virou uma questão política grave no Irã, onde ainda não dá para dizer se a polícia da moralidade, encarregada de patrulhar as vestimentas femininas, realmente foi dissolvida, como deu a entender o procurador-geral Mohammad Jafar Montazeri.

Desde que ele disse, no sábado, que essa polícia tinha sido “dissolvida pela própria instituição que a criou” – referência ao Ministério do Interior -, ainda não houve um esclarecimento oficial. É um sinal de dissensão dentro do próprio regime iraniano.

Continua após a publicidade

Jovens mulheres queimando o chador, o manto obrigatório que deve cobrir toda a cabeça e uma túnica larga sobre as roupas comuns, viraram uma ameaça grave para o regime desde a onda de protestos desencadeada pela morte de Mahsa Amini, presa pela patrulha da moralidade ao sair de uma estação de metrô com a família por deixar aparecer mechas de cabelo.

São protestos ao estilo iraniano, com ataques a instalações do governo nas regiões curdas – a etnia da jovem Mahsa – e repressão violenta. Quase 500 pessoas já foram mortas em dois meses e meio, mais 60 agentes das forças policiais.

O Irã é um país xiita onde impera um sistema híbrido, com a autoridade suprema exercida pelo líder religioso Ali Khamenei.

A versão sunita da aplicação ao pé da letra da sharia, o conjunto de interpretações religiosas do Islã, impera na Arábia Saudita e seus vizinhos do Golfo Pérsico, como muita gente descobriu com a Copa do Mundo no Catar.

Continua após a publicidade

Foi a Arábia Saudita quem financiou a propagação do Islã mais fechado por países muçulmanos de todo o mundo. Curiosamente, foram também os sauditas que acabaram, discretamente, com sua própria polícia religiosa, chamada Mutawa – na versão oficial, Comitê para a Propagação da Virtude e Prevenção do Pecado.

De modos ríspidos e agressivos, os odiados mutawin apareciam de repente em hotéis, restaurantes, shoppings e até residências particulares, procurando tudo que era proibido: mulheres em público sem acompanhantes masculinos da família ou com alguma coisa fora do lugar na vestimenta encobrindo todo o corpo e o rosto, comerciantes que não fechavam totalmente seus negócios na hora das cinco preces diárias e outras “infrações”.

O abrandamento desses códigos foi determinado pelo homem mais poderoso do país, o príncipe herdeiro Mohammad Bin Salman. A relativa liberalização foi bem recebida pelas gerações mais jovens e obedece aos ambiciosíssimos planos do príncipe de modernizar o país, fechado a estrangeiros que não sejam peregrinos que vão a Meca ou trabalhadores com contrato, transformando-o inclusive em atração turística (Lionel Messi tem um pacote de 25 milhões de dólares por ano para ser seu embaixador turístico).

Isso não significa que a sharia tenha sido abandonada. Enquanto Bin Salman participava da abertura da Copa, completou-se a sessão anual de execuções, com um total de vinte pessoas decapitadas.

Continua após a publicidade

Num dia só, 12 de março passado, foram executados 81 condenados.

Pelo novo código penal da Indonésia, a pena capital, que regularmente atinge estrangeiros que acham uma boa ideia financiar a viagem a Bali fazendo o papel de “mula” de traficantes de drogas, pode ser trocada por prisão perpétua se o condenado demonstrar bom comportamento ao longo de dez anos de cadeia.

Ninguém pode alegar desconhecimento: cartazes nos aeroportos indonésios anunciam em letras bem grandes que o tráfico é punido com pena de morte. 

Haverá cartazes advertindo sobre a proibição ao sexo fora do casamento para indonésios e estrangeiros? E os bares de praia de Bali que oferece coquetéis como o Red Viagra ou o Sex on the Beach? E viável querer controlar o que as pessoas fazem na cama?

Continua após a publicidade

Em 2002, atentados feitos por homens-bomba contra pontos turísticos de Bali mataram 202 pessoas, inclusive 88 turistas australianos. Em 2005, houve novos ataques concatenados, com mais 20 mortos.

O terrorismo guiado pela radicalização religiosa está em refluxo e isso é mais importante do que impulsos para controlar a vida privada e impor comportamentos provenientes de revelações religiosas que remontam a quase 1 400 anos. 

E sempre haverá Bali para dar um refresco.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.