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O vício no chavismo

A esquerda brasileira não consegue se livrar dessa praga

Por Vilma Gryzinski 3 ago 2024, 08h00

Lembram-se de quando a esquerda defendia a liberdade, a democracia e os direitos humanos? Na verdade, essa esquerda nunca existiu. Como combateu ditaduras de direita na América Latina, desenvolveu o mito de que era uma força heroica, defensora de tudo o que é bom e nobre — e, realmente, muitos jovens idealistas tinham um grande espírito de sacrifício e dedicação à causa à qual se entregavam. Quem não conseguiu fazer a caminhada em direção a uma análise realista de como a esquerda dividia o mundo entre aliados (União Soviética e correlatos, até seu amargo fim) e inimigos (Estados Unidos), acabou ficando formidavelmente para trás. E acabou também apoiando uma figura execrável como Nicolás Maduro, uma espécie de imitador barato de Chávez — tanto o seu antecessor como o ingênuo personagem do humorista mexicano.

“O vício na União Soviética é tão difícil e tenaz quanto qualquer outro vício”, escreveu Arthur Koestler, um dos pensadores convidados para a coletânea intitulada em inglês The God that Failed (O Deus que Fracassou). O organizador dos ensaios foi o inglês Richard Crossman. O livro foi publicado em 1949, trinta anos depois do começo do experimento soviético, e teve uma importância considerável no longo, às vezes incompleto, processo de autocrítica dos intelectuais de esquerda por apoiarem um dos regimes mais repressivos da história da humanidade, com o cálculo mais baixo cravando 20 milhões de mortos entre 1917 e 1987.

“O culto à personalidade foi abrindo caminho ao autoritarismo e ao complexo de Deus”

A farsa latina na Venezuela não teve esse caráter assassino. Usou o método de deixar sair do país os insatisfeitos, quando não desesperados com a hecatombe econômica — já se foram, no mínimo, 5,5 milhões, num país de 30 milhões de habitantes. Hugo Chávez também foi legitimamente eleito em 1999, seduzindo o público com o carisma dos caudilhos que são a maldição da América Latina. O culto à personalidade, ridículo para quem via de fora, mas efetivo a ponto de muitos pais venezuelanos vestirem seus filhos de “Chavecitos”, foi abrindo caminho ao autoritarismo e ao complexo de Deus. O processo aumentou depois de sua morte, chamada por Maduro e correlatos de “transição para a imortalidade”. Disse certa vez uma representante do partido bolivariano: “Pai Chávez que estás no céu, na terra, no mar e em nós representantes…”. Seria de dar risada se não fosse o sofrimento bíblico do povo venezuelano, um detalhe que os viciados no chavismo, desiludidos com o desmoronamento soviético, não conseguiram levar em consideração, convictos de que, caso contrário, estariam “fazendo o jogo da direita”.

O húngaro Arthur Koestler entrou no Partido Comunista da Alemanha em 1931 e saiu em 1938, horrorizado com o stalinismo. Foi chamado de agente do capitalismo por colaborar com propaganda anticomunista da inteligência britânica. Tanto ele quanto Richard Crossman analisaram a identidade entre a crença férrea dos comunistas que tudo perdoavam no stalinismo e a entrega exigida pela religião. “O noviço comunista, sujeitando sua alma à lei canônica do Kremlin, sentia algo semelhante à liberação que o catolicismo também traz para o intelectual, sobrecarregado e afligido pelo privilégio da liberdade”, escreveu Crossman. “Deus colocou a mão para que eu seguisse na missão”, disse Maduro, com o cinismo redobrado ao abandonar qualquer pretensão de imitar alguma coisa parecida com a democracia. Foi ele falar e as estátuas de Chávez começaram a ser derrubadas.

Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2024, edição nº 2904

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