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O rótulo de extrema direita aplicado a candidato chileno está errado

José Antonio Kast não quer fechar o Congresso nem usar as massas para tomar poder absoluto - e faz uma razoável apresentação da "nova direita”

Por Vilma Gryzinski 18 nov 2025, 06h52

Quantas pessoas leram o manifesto político de José Antonio Kast, o candidato chileno que tem mais chances de ser escolhido presidente no segundo turno, em 14 de dezembro? Escrito em linguagem simples, mas com citações que vão de Milton Friedman a Michel Foucault, ele defende princípios conservadores clássicos, recalibrados à luz da guerra cultural e outros quesitos do debate ideológico contemporâneo.

O documento faz, de fato uma crítica da “direita tradicional”, ou centro-direita, por ter abandonado, de sua perspectiva “o mundo das crenças, ideias e cultura”. Os cidadãos também confiaram que “os partidos políticos tradicionais fariam um uso responsável da administração do Estado e da democracia”. Mas, afirma o documento, “foram incapazes de enfrentar os novos problemas ideológicos, políticos e sociais que surgiam desde o começo de nosso milênio atual”, desencadeando uma crise de representatividade e de identidade.

“Diante do colapso institucional e ideológico, tanto no Chile quanto no mundo vem se expandindo um fenômeno através do qual grupos da sociedade começaram uma corrida contra o relógio para reverter um processo ruinoso e combater inspirado nos valores da vida, da liberdade, da propriedade, da transcendência e da soberania”.

“Desse esforço formou-se o que podemos chamar de ‘nova direita’, uma opção política determinada a recolocar a batalha cultural, ideológica e programática para retomar o caminho da verdadeira dignidade humana e do desenvolvimento”.

MADURO, O GRANDE ELEITOR

Nota-se assim que Kast, conhecido como JAK, e sua ala do Partido Republicano estão mais à direita do que a direita tradicional, mas não defendem princípios radicais como segregação, perseguição de estrangeiros (sim, a imigração venezuelana virou um problema central) ou métodos extrajudiciais para combater a criminalidade. Muito menos tomar o poder à frente de um movimento de massas, como no fascismo clássico, passando por cima do Congresso e outras instituições democráticas.

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Kast não se enquadra na categoria extrema direita – apesar das declarações que fez sobre conquistas econômicas da era do regime militar chefiado por Augusto Pinochet, um tabu inviolável no Chile.

Em situações normais, ele dificilmente teria tido a ascensão que pode levá-lo a ser eleito presidente. Em vários sentidos, ele está sendo eleito pelo bolivarianismo de Nicolás Maduro. A fuga em massa de venezuelanos afetados pela ruína econômica afetou profundamente o Chile. No país de apenas 18 milhões de habitantes, há 1,4 milhão de estrangeiros, com a metade sendo formada por venezuelanos. O país não dá conta, a criminalidade aumenta e a opinião pública se revolta com um caso como o do tenente venezuelano Ronald Ojeda Moreno, transformado em opositor do regime e sequestrado e assassinado no Chile por agentes enviados por Nicolás Maduro, o grande eleitor de JAK.

Conta também a favor de Kast o eterno movimento pendular da política. Os chilenos votaram – e imediatamente se arrependeram – num presidente que poderia ser classificado de extrema esquerda, visto que Gabriel Boric se declarou mais radical do que o Partido Comunista – este uma anomalia chilena, remetendo à época da resistência à ditadura militar. Jeanette Jara, a candidata mais votada no primeiro turno, com 26,9% dos votos, pertence ao partido que praticamente inexiste eleitoralmente no resto da América Latina, onde a esquerda se voltou para o Estado grande e as causas identitárias.

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CONSTITUIÇÃO ESQUERDISTA

Boric seria da nova esquerda, com tatuagem e tudo, tanto quanto Kast é da nova direita. Apesar da compostura, sem gestos do lastimável populismo esquerdista que impera na América Latina, ele fez um governo mal avaliado, com apenas 37% de aprovação no seu momento menos ruim. Quis mudar a constituição e se deu mal – enquanto os chilenos se livraram de uma Carta absurdamente esquerdista que pretendia mudar o próprio tecido social e político do país, com a criação de um estado plurinacional e um sistema judiciário paralelo para os indígenas mapuches. Uma das cláusulas da constituição woke estabelecia que o Estado hipertrofiado deveria “defender a gastronomia nacional”. Num comício por sua aprovação, uma drag queen colocou a bandeira chilena entre as nádegas. Resultado: 62% dos eleitores chilenos votaram contra o projeto.

Kast, se for eleito, poderá fazer um governo tão ruim quanto o de Boric, talvez medíocre ou mais improvavelmente razoável. Só não será de extrema direita – inclusive porque o sistema não o permitiria. Meios de comunicação de esquerda, como o francês Libération e outros, o qualificam execravelmente como “filho de nazista e apaixonado por Pinochet” – a primeira acusação é porque seu pai serviu o Exército durante o nazismo e emigrou para o Chile no pós-guerra. Nem é preciso explicar por que é execrável culpar os filhos por atos dos pais.

Todas as suas posições são conservadoras à moda antiga – contra aborto, eutanásia, casamento homossexual e até divórcio e anticoncepcionais -, mas o Chile precisa acima de tudo do desenvolvimento econômico que teve tantas conquistas, levando a um PIB per capital de 17 mil dólares, 70% maior do que o do Brasil. Como país de um produto só, o cobre, existem sempre grandes riscos e também recompensas envolvidos. Saberá o futuro presidente manejá-los?

Bom de briga política, JAK terá que moderar o discurso e ser menos agressivo ideologicamente para governar o Chile como um presidente para todos. Pelo menos é isso que todos prometem antes de chegar lá.

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