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O fim brutal dos vampiros romenos

Fuzilamento do ditador Ceausescu e sua mulher foi exceção no glorioso ano de 1989

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2016, 11h20 - Publicado em 17 mar 2016, 13h08
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  • Julgamento a jato: Elena e Nicolae Ceausescu no banco dos réus

    Julgamento a jato: Elena e Nicolae Ceausescu no banco dos réus

    No próximo sábado, dia 19, um Mercedes 350 SL irá a leilão numa casa do ramo em Stuttgart, na Alemanha. É um modelo conversível fabricado em 1973. O clássico na cor prata, tem o inconfundível estofamento de couro bege e uma história de arrepiar: pertenceu a Nicolae Ceausescu, o ditador comunista da Romênia, derrubado em 1989.

    Este foi um ano glorioso para a história mundial da liberdade, um verdadeiro annus mirabilis, como se diz em latim, em que os regimes comunistas na Europa Oriental se dissolveram sob a pressão de populações que simplesmente disseram não, começando muito antes na Polônia e se estendendo depois pelos outros satélites soviéticos na chamada revolução de veludo.

    Não houve violência nem resistência, pois forças policiais e militares, por ordens superiores ou, na maioria dos casos, decisão própria não atiraram nas multidões que, pacificamente, saíam às ruas para dizer “Chega”. O símbolo máximo desse movimento foi a queda do Muro de Berlim, feito para aprisionar cidadãos da metade comunista da cidade e derrubado no histórico 9 de novembro de 1989.

    Um mês depois, começaram os protestos populares na Romênia, país que se tornaria a maior exceção na queda pacífica de 44 anos de opressão comunista. Traídos pelos Estados Unidos ao fim da II Guerra Mundial, países que haviam resistido heroicamente à Alemanha nazista, como a Polônia, foram entregues à União Soviética stalinista.

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    Os que haviam lutado do lado dos alemães, como a Romênia, foram traídos do mesmo jeito. Uma eleição fraudada, em 1945, levou os comunistas ao poder. Vinte anos depois, um homem da máquina do partido chamado Nicolae Ceausescu, ex-aprendiz de sapateiro, chegou ao poder. Ele e a mulher, Elena, que chegou a vice-primeira-ministra, impuseram um regime brutal, economicamente destrutivo, pateticamente voltado para o culto a ambas as personalidades e repressivo até pelos padrões soviéticos.

    As manifestações na Romênia começaram, atrasadas em relação aos países correlatos, em dezembro de 1989, num protesto da pequena minoria húngara contra a expulsão de um pastor protestante pertencente a essa comunidade. Espalharam-se pelo país e Ceausescu mandou reprimi-las com violência. A história trombou com o casal em 22 dezembro de 1989, quando os dois fugiram de helicóptero do grotesco palácio presidencial em Bucareste.

    Foram para uma cidade da Transilvânia ,conhecida como berço do príncipe Vlad Dracula, personagem histórico que inspirou o vampiro de Bram Stoker. Ceausescu, como outros romenos, considerava Vlad um herói. Sua fama de crueldade  decorre do fato de que usava contra os invasores muçulmanos o mesmo  e monstruoso método de punição, chamado empalamento otomano, no qual uma estaca introduzida pela parte posterior atravessa o corpo todo, provocando morte lenta e horrivelmente cruel.

    “Eu, tal como o resto do Exército, estava farto dele”, contou no ano passado, quando as revoluções leste-européias fizeram 25 anos, o general Andrei Kemenici, um dos comandantes da base militar onde o casal Ceausescu ficou preso. “Entre todos os países comunistas, nós estávamos na pior situação econômica, talvez com a exceção da Rússia.”

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    “Os soldados choravam de felicidade, gente que parecia concordar totalmente com o regime explodia de felicidade”, relatou ao jornal The Guardian ,  sobre a fuga do ditador o homem que fuzilou Ceausescu e mulher, Ionel Boyeru. Ele tinha 31 anos, era oficial de uma unidade de operações especiais e ainda estava com a cabeça cheia da festa do dia 22 de dezembro. “Pegamos toda nossa bebida escondida, um conhaque de péssima qualidade, e tomamos.”

    A execução deixou um gosto muito mais amargo do que a ressaca. “Ainda fico nervoso quando falo sobre isso. Foram duas vidas que tirei”, disse Boyeru, “convidado” por seu comandante a participar da execução depois de um julgamento militar sumário, com todos os oficiais em pé. Ceausescu jogava o chapéu na mesa e Elena, de casaco de pele, sapato de salto branco e lenço estampado no pescoço, se revoltou depois da sentença dada a jato, quando militares vieram amarrar o pulso dos dois com cordas.

    A execução foi tão rápida que o cinegrafista militar encarregado de filmar tudo só pegou o fim, com os corpos já no chão. Boyeru tem certeza que foi ele quem fuzilou o casal porque, dos outros dois integrantes do pelotão, um não acionou o mecanismo de disparos automáticos e o outro não conseguiu atirar. Boyeru conta que o avô dele, padre ortodoxo que passou parte do regime comunista na cadeia, disse que assumiria o pecado cometido pelo neto. Mas ele continua a ter problemas de consciência.

    O Mercedes que irá a leilão no sábado foi inteiramente revisado pela fábrica. O dinheiro irá para uma fundação dedicada a crianças romenas com deficiência. As condições hediondas dos orfanatos romenos tornaram-se um dos símbolos do regime Ceausescu. O ditador proibiu o uso de anticoncepcionais para aumentar a população e as crianças rejeitadas eram tratadas de forma infame.

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