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O engano se repete: esquerda replica erros cometidos na época de Khomeini

Intelectuais ocidentais e esquerdistas iranianos foram desmentidos em tudo o que acreditavam na revolução dos aiatolás

Por Vilma Gryzinski 20 jun 2025, 06h57

A revolução iraniana está avançando “na direção de um ponto distante e luminoso”; uma vez vitoriosa “os mulás agora irão se dispersar”e o “velho santo exilado em Paris” – nada menos que o aiatolá Khomeini – logo será esquecido – “Não haverá um partido de Khomeini, não haverá um governo de Khomeini”. As previsões formidavelmente erradas feitas por Michel Foucault exemplificam o estado de extremo autoengano das esquerdas em relação ao regime instalado depois da queda do xá., em 1979. Muito desse estado de negacionismo intelectual se repete agora, com as manifestações de repúdio a Israel e apoio ao regime de teor teocrático que vigora no Irã desde então.

Foucault tinha um fetiche pela religião muçulmana em seus aspectos extremos, como o culto ao martírio, com tinturas masoquistas. Buscava, segundo um biógrafo, James Miller, um estado de “sofrimento-prazer” para obliterar “as fronteiras separando o consciente do inconsciente, racional e irracional, prazer e dor”. Via aspectos quase místicos nas multidões que enfrentavam a polícia do xá e clamavam pela volta de Khomeini.

Segundo o cientista político Reza Parchizadeh, Foucault e Edward Said, o autor de Orientalismo, são os intelectuais que mais influenciaram o mundo acadêmico, criando a categoria conhecida como estudos pós-coloniais. O francês “tonou muito mais fácil para os islamistas justificar suas posições ao público ocidental, apesar de sua tirania e violência no Oriente Médio, Norte da África e Sudeste Asiático”.

Isso ajuda a entender, embora a explicação seja mais difícil, como um homossexual como Foucault apoiava um regime que proscreve os gays, sujeitos à pena de morte pela forca ou a operações forçadas de mudança nos genitais -, sendo pioneiro nisso. Nem é preciso mencionar o sucesso acadêmico que se multiplica até hoje das teorias que embasam, muito equivocadamente, o ódio aos Estados Unidos e Israel.

CABELOS PERIGOSOS

Os mulás, ou clérigos iranianos, também se aliaram no início dos protestos a outras forças contrárias ao regime, inclusive múltiplos grupos de esquerda, alinhados à União Soviética ou independentes. A repressão a estes grupos foi brutal e durou vários anos.

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O primeiro presidente da república islâmica, Abolhassan Bani Sadr, teve que fugir do país num avião desviado. Apesar da tendência esquerdista, ele havia endossado os mais importantes princípios fundamentalistas, inclusive a obrigatoriedade do uso do pano na cabeça, dizendo que os cabelos femininos emitiam vibrações perigosas para os homens.

É claro que para as esquerdas, ocidentais ou iranianas, o que mais pesava era o anti-imperialismo, ou antiamericanismo da revolução dos turbantes. Isso se sobrepunha até a movimentos já estabelecidos na esquerda, como o feminismo.

Imaginando que o mundo havia mudado, feministas iranianas e estrangeiras saíram às ruas em 8 de março de 1979 para protestar contra a imposição do uso do chador, como os iranianos chamam a vestimenta que cobre os cabelos e o corpo das mulheres. A feminista radical Kate Millett foi deportada e criticada por iranianos e americanos.

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GOSTO PELO VIL METAL

Uma parte dos erros extremos em relação à revolução dos turbantes pode ser extrapolada para o regime do xá Mohammad Reza Pahlavi. Ele alienou a população mais religiosa pelas reformas modernizantes, mas também promoveu a alfabetização universal, a reforma agrária e a nacionalização do petróleo.

Comandou um regime brutalmente repressivo e corrupto, mas o que veio depois o superou nessas categorias. Só nos primeiros cinco anos depois da revolução islamista, calcula-se que foram executadas até 9,5 mil pessoas. As vozes a oposição foram eliminadas, calaram-se ou seguiram o caminho do exílio.

O aspecto religioso de líderes como El Supremo, Ali Khamenei, pode achar que são santos, só preocupados em morrer pela causa. Estão enganados, embora defensores do fundamentalismo, também gostam do vil metal. Cada um dos três filhos de Khamenei, por exemplo, tem fortunas calculadas entre 200 e 400 milhões de dólares. Na escala de 0 a 100 da Transparência Internacional, o Irã na posição número 23 (o Brasil, fica com 34; a campeã de bom comportamento, a Dinamarca, tem invejáveis noventa pontos).

Certas coisas mudam para continuar como sempre foram e a esquerda deveria ser a primeira a saber disso.

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