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Ninho de ratos no Peru: Congresso, presidentes e Supremo

Da cadeia, uma quase presidente, Keiko Fujimori, comanda o caos e o choque aberto entre poderes e instituições que não funcionam está instalado

Por Vilma Gryzinski 1 out 2019, 11h55
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  • Imaginem um país em que ordens políticas vitais emanam da cadeia, o povo está revoltado com o Congresso e o Supremo Tribunal, a corrupção patrocinada por uma grande construtora envenena as instituições e ninguém sabe quem é o presidente.

    Isso que ainda nem chegamos no cerne dos problemas do Peru, onde o Congresso foi dissolvido, mas a ala política dominante não aceitou e tentou virar o jogo.

    Martín Vizcarra, presidente ou ex-presidente, dependendo da ótica – sendo que nem tinha sido eleito para o cargo, assumindo-o na condição de vice – não precisou de um soldado e um cabo para dissolver o Congresso porque tinha muito mais: o apoio explícito, com foto e tudo, dos comandantes das Forças Armadas e da polícia.

    Também não era um golpe de mão, apesar da gravidade da iniciativa. Haveria, ou haverá, sabe-se lá no momento, novas eleições.

    O Congresso, onde fujimoristas e outros partidos de direita são majoritários, foi dissolvido porque estava tentando uma esperteza: nomear membros do Tribunal Constitucional, o equivalente ao Supremo Tribunal.

    Até o fim do ano, nomearia seis juízes. No Peru, o cargo não é vitalício.

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    Surpresa, surpresa. O Tribunal Constitucional tem importantes decisões a tomar sobre o caso Odebrecht, a construtora brasileira que, em combinação com o apenado e influencer de Curitiba, exportou para o Peru o modelo aparentemente perfeito de corrupção.

    Sob o controle da Força Popular, os novos integrantes do tribunal seriam simpáticos a Keiko Fujimori.

    Quase eleita presidente duas vezes, ela está presa preventivamente há um ano por lavagem de dinheiro e recebimento de contribuições não declaradas.

    A construtora brasileira dava dinheiro a todos os candidatos, para não ficar a descoberto com nenhum deles.

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    Também foi beneficiado o candidato que derrotou Keiko por pequena diferença, Pedro Pablo Kuzscynski, em prisão domiciliar por idade e doença cardíaca.

    PPK queimou o filme quando indultou Alberto Fujimori, envolvido em crimes mais graves de corrupção e repressão descontrolada, envolvendo inocentes, no combate ao brutal e assassino grupo maoísta Sendero Luminoso.

    O problema de Kuzscynski, um economista de reputação internacional que voltou ao Peru para salvar o país e foi engolido por ele, era o mesmo que está provocando o caos atual: a oposição fujimorista impedia que governasse.

    O indulto a Alberto Fujimori talvez desimpedisse o caminho, mas isso nunca será provado.

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    PPK acabou sendo obrigado a renunciar, em março do ano passado.

    Assumiu o primeiro vice-presidente Martín Vizcarra, que tentou sua própria manobra, também sem sucesso.

    No lugar dele, prestou juramento perante o Congresso, sem que isso garanta sua legitimidade como presidente interina, a segunda vice-presidente, Mercedes Araóz.

    Economista bem falante e bem alinhada, pelos padrões latino-americanos, ela evocou como motivo da resistência o fechamento do Congresso decretado por Alberto Fujimori, um engenheiro agrícola que virou ditador, em outra das guinadas surrealistas do Peru.

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    Ela lembrou, nesse caso com razão, que na época, Fujimori teve 90% de aprovação popular. Da mesma forma, hoje existem manifestações de apoio ao fechamento do “ninho de ratos”.

    Ironia das ironias: os congressistas que reagem ao fechamento e decretaram a desabilitação de Martín Vizcara são justamente os fujimoristas.

    Ah, sim. Alberto Fujimori voltou para a cadeia.

    Dessa forma, o Peru tem hoje pai e filha, importantes líderes políticos, igualmente presos; dois presidentes; um Congresso dissolvido e um Congresso que se declarou funcional e ninguém sabe que saída para essa encrenca toda.

    Os ratos estão deitando e rolando.

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