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Ninguém gostaria de tomar uma cerveja com ela, mas Liz Truss pode vencer

Uma primeira-ministra que não incendeia as bases? Segunda colocada na corrida eleitoral britânica está na frente para levar o voto dos conservadores

Por Vilma Gryzinski 21 jul 2022, 08h03
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  • Ela não é campeã de simpatia, não votou pelo Brexit, não tem a pureza ideológica da líder que procura imitar – Margaret Thatcher – e não apela a uma fatia do eleitorado da oposição esquerdista, fator essencial para ganhar a eleição em que todo mundo está de olho, a de 2024.

    A verdade é que pouca gente gostaria de tomar uma cerveja com Liz Truss, para usar uma definição clássica de popularidade suprapartidária da política americana.

    Ter chegado à final com o primeiro colocado, Rishi Sunak, foi não apenas um feito extraordinário para a política de 46 anos como abre a possibilidade, potencialmente, de ser eleita pelas bases para chefiar o Partido Conservador e tomar o lugar de Boris Johnson como primeira-ministra. Nas pesquisas e nas casas de apostas, já está na frente. 

    Embora Rishi seja o favorito dos parlamentares, tendo chegado à final com 137 votos, contra 113 para Truss, os membros de carteirinha do partido, que agora têm a palavra final, não gostam dele. Acham que traiu princípios fundamentais do evangelho conservador ao gastar demais durante a pandemia e depois aumentar impostos para reequilibrar o orçamento.

    Preferem Liz Truss, mesmo que ela tenha feito campanha contra o Brexit, outro pilar dos eleitores comuns do partido – cerca de 160 mil, que vão votar pelo correio, numa decisão que será conhecida em 5 de setembro. A promessa de cortar impostos que ela tem repetido virou um mantra.

    Truss foi hábil em fazer alianças de bastidores para desbancar a favorita para o segundo lugar, Penny Mordaunt, desconstruída pelos depoimentos de vários ex-chefes que a pintaram como uma fachada vazia: boa de estampa e simpática com as bases, mas acometida por laborfobia e falta de substância.

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    Apesar da virada que a levou à final, Liz – apelido de Mary Elizabeth – conseguiu o apoio de poucos figurões do partido. Um deles, já bem do passado, o ex-líder Ian Duncan Smith, elogiou: “Ela está certa na questão da economia. Reconhece que, ao controlarmos a inflação, não podemos prejudicar o crescimento, o que nos levaria à estagflação. Se não fizermos nada, a carga fiscal mais pesada desde os anos quarenta combinada com o aumento das taxas de juros significará que não apenas as faixas de renda mais baixas como também a ‘classe média espremida’ vão lutar para pagar as contas”.

    Duncan Smith também ressalta que ela tem experiência de governo, já ocupou seis postos ministeriais ou equivalentes, inclusive a pasta das Relações Exteriores, conseguiu acordos comerciais importantes no mundo pós-Brexit, com países como Austrália e Japão, e tem capacidade para promover reformas essenciais, para as quais a máquina permanentes do estado faz corpo mole.

    Os adversários dizem que Liz Truss não tem o jogo de cintura de um Tony Blair ou um Boris Johnson, políticos de partidos opostos que conseguiam apelar para o eleitorado adversário. Boris, com todos seus conhecidos defeitos – e, em certos casos, por causa deles – levou o Partido Conservador a ter uma maioria de 80 integrantes na Câmara dos Comuns. Em eleições locais, conquistou votos de eleitores que a vida inteira tinham sido fiéis ao Partido Trabalhista.

    Liz Truss conseguirá algo remotamente parecido se for eleita primeira-ministra e liderar os conservadores na eleição geral de 2024?

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    As condições em que ela, ou Rishi, assumirão são tétricas – como em tantos outros países do mundo às voltas com as consequências da pandemia, o rombo que abriu nas contas públicas e pragas ressuscitadas como inflação e crise de combustíveis.

    “Liz Truss é a pior colocada para conquistar eleitores trabalhistas. Naturalmente, é a favorita dos conservadores”, sibilou na Spectator o comentarista James Kirkup.

    Ele acha que Truss seria um desastre em 2024, mas todo mundo sabe que, em política, dois anos são várias eras geológicas.

    No Telegraph, onde relutantemente elogiou as performances impagáveis de Boris Johnson – que outro político se despediria dizendo “Hasta la vista, baby”? -, Sam Ashworth-Hayes disse que a perspectiva de que Liz Truss tome o lugar dele nos debates com o líder trabalhista Keir Starmer, outro orador pouco inspirado, “é suficiente para contemplar a possibilidade de aniquilação nuclear”.

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    Truss costuma ser ridicularizada (por conservadores, claro, o inimigo maior é sempre o do seu campo) por tentar imitar Margaret Thatcher não só no discurso como até em imagens icônicas, armando fotos no alto de um tanque, com capacete, ou de chapéu de pele em Moscou.

    Como Thatcher, ela também estudou em escola pública e chegou a Oxford, o ápice da elite. Filha de pais esquerdistas radicais que a levavam para protestos de rua, inclusive contra Margaret Thatcher, espantou a família ao entrar para o Partido Conservador. O pai, professor universitário, se recusou a fazer campanha por ela quando se candidatou pela primeira vez.

    Pode não ser uma Margaret Thatcher 2.0, mas se não for uma Theresa May, a primeira-ministra que foi um fiasco ao não conseguir conduzir as negociações para concretizar o Brexit, já estará em vantagem.

    Antes, naturalmente, tem que convencer o eleitorado conservador que é melhor do que Rishi Sunak, muito mais preparado do que ela em matéria de economia – o tema dominante em qualquer lugar do mundo no momento. Além do debate público, tem que vencer a guerra de bastidores, onde já está sendo ressuscitado um caso que ela teve com outro parlamentar e quase a levou a perder uma candidatura pelo Partido Conservador. Ela continuou casada com o contador Hugh O’Leary, com uma London School of Economics no currículo para ajudar no debate doméstico. Têm duas filhas, Liberty e Frances. 

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    Para controlar as meninas no uso do celular, apelou ao método de trancar os telefones numa caixa por determinados períodos. “Fiquei conhecida em casa como a carcereira de celular”, já disse.

    Até que Margaret Thatcher não desaprovaria o método.

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