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Loira fatal, briga de casal e vizinhos de esquerda abalam Boris

Era só o que faltava: para detonar o candidato conservador, moradores fazem armadilha, chamam polícia e, claro, vazam bate-boca dele com a namorada

Por Vilma Gryzinski 24 jun 2019, 09h40
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  • Estão pensando que ciladas e baixarias são exclusividade tropical?

    Vejam o que aconteceu na Inglaterra, onde até 21 de julho deverá ser escolhido o líder do Partido Conservador e possível primeiro-ministro entre dois candidatos, o circunspecto Jeremy Hunt e o deliberadamente bufônico Boris Johnson, de longe o favorito.

    Um bondoso casal de moradores de um daqueles prediozinhos de Londres – casas subdivididas em apartamentos – ouviu uma altercação doméstica. Uma mulher gritava muito e o seu acompanhante tentava acalmá-la.

    O marido começou a gravar tudo no celular. Bateu à porta do apartamento onde rolava a briga, não foi atendido. Chamou a polícia. E, curiosamente. continuou gravando.

    Policiais gentilmente britânicos vieram, falaram com os briguentos, estava tudo em ordem e foram embora. O casal que havia alertado as autoridades ainda recebeu um telefonema da polícia avisando que não havia problemas.

    O que fizeram em seguida os bons cidadãos, preocupados com a possibilidade de que haviam testemunhado um dos tantos casos de violência doméstica? Foram dormir tranquilizados?

    De jeito nenhum. Vazaram a gravação para o Guardian, o protótipo de jornal de esquerda – o mesmo, aliás, que recebe contribuições de Pierre Omidyar, o bilionário dono do site Intercept, a esta altura alegremente catapultado à fama no Brasil.

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    Ah, sim, tiveram o cuidado de pedir anonimato e dizer que não tinham nenhuma motivação política

    O furo, obviamente, teve efeito vulcânico: o candidato mais cotado para ser primeiro-ministro, de vida amorosa atribulada, flagrado no meio da campanha em virulento bate-boca com a loira muito mais jovem por quem abandonou a mãe de seus quatro filhos.

    Nada surpreendentemente, a farsa foi desmontada bem depressa. Os vizinhos preocupados na verdade são ativistas de causas de esquerda que já haviam feito diversas manifestações de ódio a Boris Jonhson.

    O marido é dramaturgo alternativo e mágico, a mulher é dramaturga alternativa e milionária. É Eve Leigh, filha do compositor americano Mitch Leigh, que fez fortuna não apenas como autor do musical O Homem da Mancha (quem nunca ouviu uma versão, ás vezes menos do que afinada, de Impossible Dream?) como no mercado imobiliário.

    Criada numa casa de 15 milhões de dólares em Nova York, Eve foi descrita por um amigo como típica “americana judia budista de esquerda”.

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    O que a qualificaria a postar barbaridades como “políticos conservadores fingem respeitar a memória dos mortos do Holocausto” – um assunto complicado na Grã-Bretanha porque o líder trabalhista Jeremy Corbyn é conhecido por sucessivas manifestações de antissemitismo.

    Eve também postou sobre um gesto obsceno que fez para Boris Johnson e outras infantilidades. O marido, Tom Penn, responsável pela gravação, o telefonema à polícia e o vazamento para o Guardian, disse que Boris Johnson tinha que “ser responsabilizado” por todos seus “atos, palavras e comportamentos”.

    Sem dúvida, políticos que estão na vida pública devem ser cobrados e fiscalizados pelos cidadãos comuns e a imprensa.

    Mas há indícios suficientes para concluir que Tom Penn e Eve Leigh, os vizinhos enxeridos, armaram uma cilada. Talvez até tenham levado à imprensa simpatizante os antecedentes domésticos do vizinho famoso e recebido sugestões de registrar tudo direitinho.

    Boris Johnson, 55 anos, e Carrie Symonds, 31, tinham brigas explosivas, aceleradas sob a pressão das últimas semanas, depois que a primeira-ministra Theresa May finalmente renunciou e as regras do parlamentarismo desencadearam a disputa pela liderança no Partido Conservador.

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    Pelo menos é o que amigos andam plantando para atenuar os efeitos do último bate-boca, cuja gravação foi transcrita, mas não transmitida – o que pode, evidentemente, acontecer a qualquer instante.

    Nela, Carrie grita muito, diz “saia da minha casa”, “saia de cima de mim”, ao som de pratos sendo espatifados. Mais curiosamente, chama Boris de mimado e diz que não liga para nada por nunca ter precisado de dinheiro.

    O motivo de tudo? Ele havia derrubado uma taça de vinho no sofá. Razão suficiente para despertar instintos uxoricidas em mulheres que detestam bagunça e acabam dividindo o teto com homens infensos aos nobres princípios de ordem e limpeza.

    Os mesmos amigos espalham que Carrie tem temperamento notoriamente incendiário e andava mais nervosa por novos desdobramentos no caso pavoroso de um criminoso em série conhecido como “o estuprador do táxi preto”.

    Preso desde 2008, John Worboys tem revelado aos poucos novas vítimas, abusadas sempre da mesma maneira. Ele passava com seu táxi de madrugada, na saída de baladas, e oferecia levar jovens por um precinho camarada porque “ia para o mesmo lado”.

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    Depois, dizia que estava comemorando um golpe de sorte num cassino, convidava a passageira a tomar uma taça de champanhe. Punha na bebida comprimidos de hipnóticos comprados com receita para insônia e esmagados num cinzeiro. Estuprava-as, diretamente ou com um vibrador. Todos os acessórios mencionados foram encontrados em seu porta-malas.

    Carrie Symonds foi uma das passageiras enganadas assim quando tinha apenas 19 anos. Até hoje ela não sabe se foi violentada pois se lembra apenas do que aconteceu até tomar uma bebida no táxi. Depois, apareceu vomitando e passando mal na casa da mãe.

    Esta história terrível, inclusive pela dúvida, já era conhecida antes de Carrie passar de jovem marqueteira do Partido Conservador a namorada de um homem casado e autopredestinado a se tornar primeiro-ministro.

    Ao fazer campanha pelo Brexit, Boris Johnson, folclórico, mediático e bastante razoável ex-prefeito de Londres, foi considerado um caso perdido.

    Estava jogando fora seu futuro político, diziam quando ainda parecia impensável a hipótese de que a maioria do eleitorado votasse por tirar o reino da União Europeia.

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    Com o cavalo selado passando à sua frente e uma vantagem de mais de 20 pontos sobre Jeremy Hunt na eleição direta pela base do Partido Conservador dentro de menos de um mês, Boris, um debatedor profissional e magnificamente treinado pelo sistema britânico de formação de polemistas brilhantes, pareceu meio abalado no último confronto com o adversário.

    Militantes de um grupo ultra-anarquista chamado Luta de Classes já apareceram fazendo panfletagem na frente do prediozinho onde estava morando com Carrie – e ao qual não podem mais voltar.

    Se os dois forem morar na famosa Downing Street, os vizinhos podem ser melhores, mas a vigilância vai aumentar.

    Todo establishment britânico, incluindo uma parte dos parlamentares conservadores, trama dia e noite para conseguir neutralizar, anular ou simplesmente conseguir uma solução mágica para que o Brexit desapareça da face da Terra.

    É claro que Jeremy Hunt e sua turma já estão explorando o barraco doméstico, fazendo de conta que não querem tratar de questões particulares, mas cobrando esclarecimentos de Boris sobre um tipo de incidente doméstico que as autoridades policiais sempre aconselham os cidadãos comuns a não deixar passar em branco.

    Com seu jeitão desarrumado e despenteado – um luxo reservado a membros da elite que estudaram em Oxford, falam grego e latim e outros badulaques das classes superiores -, Boris Johnson pelo menos deixou um exemplo de empatia com o povão.

    No único momento em que Boris grita, diz: “E devolva a porcaria do meu laptop”. É claro quer o termo usado não foi “porcaria”.

    Como qualquer marido apavorado, ele estava buscando no Google como limpar manchas de vinho tinto.

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