O ambiente incandescente, quando não cegamente brutal, das redes sociais não faz bem para quem procura ter atitudes equilibradas ou talvez acabe pecando por otimismo.
Do alto de seu 1,78 metro de altura, Gal Gadot, ex-miss Israel e ex-modelo que se tornou celebridade global como a Mulher Maravilha, foi mais uma vítima das fogueiras virtuais.
A atriz teve que se autoexilar do Twitter depois de postar, na semana passada, uma mensagem em que dizia estar com o coração partido. “Meu país está em guerra. Eu me preocupo por minha família, meus amigos. Eu me preocupo por meu povo. Este é um ciclo vicioso que está se perpetuando por muito tempo”.
“Israel merece viver como uma nação livre e segura. Nossos vizinhos merecem o mesmo”.
“Rezo para que nossos líderes encontrem uma solução para que possamos viver lado a lado e em paz”.
O que pode ter de errado nisso? Talvez uma certa ingenuidade, como ela demonstrou no início da pandemia do coronavírus, convocando colegas para uma algo constrangedora interpretação de Imagine.
“Seu país não está em guerra. Seu país está perpetrando crimes de guerra, genocídio, limpeza étnica e apartheid”, tuitou, em termos absurdos, Yasser Abu Hilalah, ex-diretor da Al Jazeera. A coisa foi daí para frente, com celebridades da lista B fazendo fila para linchar virtualmente a atriz.
Está na moda ser contra Israel e “a favor da Palestina”, como se não fosse possível entender as razões de ambas as partes e almejar que venham um dia resolver o nó de uma questão de incrível complexidade, sem paralelos com outras disputas territoriais ou nacionais.
Na linha de frente dos ataques a Israel militam as irmãs e modelos Gigi e Bella Hadid, filhas de Mo (de Mohamed) Hadad, empresário palestino radicado na Califórnia – do ramo da construção e hotelaria, como Donald Trump.
Gal Gadot, que foi instrutora de educação física quando serviu nas Forças de Defesa de Israel, também foi criticada pelo lado oposto. O filho de Benjamin Netanyahu, Yair, hiperativo nas redes sociais, comparou-a às irmãs Hadid, que “fazem propaganda antissemita contra Israel 24 horas por dia”.
“A única personalidade israelense com o mesmo número de seguidores e com o poder da celebridade que pode esta à altura delas é Gal Gadot. Mas ela escolhe escrever um post neutro como se fosse da Suíça”, esbravejou.
O filho briguento de Bibi fala muito, e muitas vezes erradamente, mas tem razão numa coisa: aqueles que apoiam Israel são hoje uma voz tímida, ou intimidada, no grande debate virtual.
Na guerra dos influencers, ao contrário da guerra real, Israel sai perdendo.
Já foi pedida até a expulsão da representante de Israel no Eurovision, a maravilhosamente brega disputa musical que segue um critério elástico de Europa.
É quase inacreditável ver artistas brancos, como os irmãos Jedward, pedirem a execração pública de uma cantora negra, Eden Alene, israelense de origem etíope.
Num manifesto muito cuidadoso a organização Comunidade Criativa pela Paz, que reúne judeus e simpatizantes da indústria do entretenimento, fez um apelo nos seguintes termos: “Apelamos a nossos colegas e amigos na comunidade do entretenimento para que parem de postar desinformação e narrativas unilaterais que só servem para inflamar o conflito em vez de trazer paz”.
Assinam-no, entre outros, Gene Simmons, o baixista e cantor do KISS – nascido Chaim Witz em Haifa.
Quando Gene Simmons, que aprendeu a literalmente cuspir fogo como o personagem The Demon, dá um exemplo de moderação e equilíbrio é porque o outro lado está muito descompensado.