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Guerra comercial: França quer detonar Mercosul, Trump anuncia tarifas

Foram-se os tempos do livre comércio, diferentes movimentos protecionistas mudam as condições das relações entre os países

Por Vilma Gryzinski 27 nov 2024, 09h03

A esquerda ainda está balbuciando neoliberalismo, salpicado por ódio à globalização, enquanto o jogo de xadrez está lá na frente. O livre comércio, visto sob esta ótica como uma imposição dos países ricos, é hoje crucificado. Emanuel Macron vai bloquear o acordo do Mercosul com a União Europeia e Donald Trump nem assumiu, mas já anunciou uma sobretaxa de 25% sobre produtos do México, Canadá e China. E com a prerrogativa de aumentar a aposta.

É uma tremenda reviravolta, com o potencial de provocar medidas retaliatórias e tumultuar não só as relações comerciais, mas toda a dança entre países que são players mundiais.

A repulsa ao Mercosul, com os preços de produtos agrícolas com os quais os produtores franceses não podem competir, conseguiu o impossível: unificar todas as tendências políticas francesas. Macron já viu o que é incorrer na ira dos produtores rurais, que têm razão em reclamar de regulamentações infernais, domésticas e da União Europeia, e em se sentirem impotentes diante de custos altos e novos modelos de produção com os quais não podem concorrer. A Polônia vai seguir pelo mesmo caminho do boicote ao acordo.

“Nossos produtos”, como dizem orgulhosamente os franceses, são bons e caros. Querem pagar mais por eles? Têm todo o direito. Os problemas acontecem quando o manto protecionista prejudica o Brasil, a Argentina e outros exportadores. Não era o livre comércio que espalharia o bem e a liberdade pelo mundo?

IMPACTO DEVASTADOR

Disse Frédéric Bastiat, o bastião francês do liberalismo, injustamente menos conhecido do que os filósofos das ilhas britânicas: “Eles irão aprender no fim, às próprias custas, que é melhor suportar a competição por clientes ricos do que receber o monopólio sobre clientes pobres”.

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O clima não está para esses arroubos. Macron tem um governo extremamente vulnerável, minoritário no Parlamento e sujeito a cair a qualquer momento. Um presidente que já chegou a cogitar de que se plantasse soja na França, só de birra com exportadores como o Brasil, não vai deixar de se agarrar à boia protecionista.

Trump está, ao contrário, fortalecido pela maioria dos votos na eleição presidencial, fora a conquista do Senado, e quer causar. Em seu primeiro dia no governo, informou, implantará uma sobretaxa de 25% sobre todos os produtos provenientes do México e do Canadá, e 10% adicionais no caso da China, podendo chegar a estarrecedores 60%.

“Como todos sabem, milhares de pessoas estão transbordando através do México e do Canadá, trazendo crime e drogas a níveis nunca vistos”, justificou, abrindo uma nova frente de argumentação sobre a necessidade de sobretaxar os vizinhos, ao sul e ao norte.

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A sobretaxa adicional sobre os produtos chineses, afirmou, vai continuar até que o país pare de mandar fentanil, a droga que corrói os americanos.

A presidente mexicana Claudia Sheinbaum e o primeiro-ministro canadenses Justin Trudeau querem conversar. São sustentados pelo acordo comercial que substituiu o Nafta e que proíbe a imposição de sobretaxas. Mas quem garante que Trump não vire a mesa? Uma economia que importa três trilhões de dólares por ano tem um bom cacife.

“Ninguém ganhará uma guerra comercial”, reagiu, com cautela, o governo chinês.

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“O impacto de uma guerra comercial seria devastador para a China”, escreveu Melissa Lawford no Telegraph. “Economistas advertem que sobretaxas de 60% custariam milhões de empregos, dariam uma martelada nas metas de crescimento do presidente Xi Jinping e espalhariam raízes de grandes convulsões sociais”.

LADO INCENDIÁRIO

Trump montou uma equipe econômica forte, com duas feras do mercado nos ministérios do Tesouro e do Comércio, Scott Bessent e Howard Lutnick. Este tem se dedicado a desdenhar dos economistas que advertem sobre efeitos deletérios de sobretaxas, forçando a alta de preços e das taxas de juros para controlar a inflação. “Imprimir dinheiro é a única coisa que cria inflação”, responde ele. Ambos são considerados garantias de que não haverá aventureirismo para a plateia.

Mas a China aceitaria passivamente os prejuízos? Partiria para retaliações? Ou negociaria com os Estados Unidos? Trump, obviamente, aposta nessa última hipótese. Ele quer acordos mais favoráveis aos americanos, não atear fogo no circo gratuitamente.

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Ou será que seu lado incendiário está mais acentuado agora, com uma vitória que tantos consideravam impossível e um sentimento de invulnerabilidade, depois de escapar de uma chuva de processos, duas tentativas de assassinato e o constante massacre midiático?

É um mundo novo que se desenha e envolve mais do que comprar, ou deixar de comprar, carne em determinados estabelecimentos.

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