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G20: do superpopular líder indiano Modi aos que sofrem nas pesquisas

A reunião de cúpula não é um concurso de popularidade, mas serve para indicar as políticas – e os políticos – que dão certo

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 15 nov 2024, 11h54 - Publicado em 15 nov 2024, 07h17

A reunião do G20 no Rio de Janeiro pode ser comparada a uma festa de Natal em família. O vovô que está se despedindo, já com um pé em outro plano? É Joe Biden. Tem 81 anos e apenas mais dois meses na Casa Branca, com aprovacão anêmica de 38%, fruto sobretudo de uma política econômica que admitiu “um pouquinho” de inflação. Transmitirá o poder, em janeiro, ao maior dos inimigos.

A diferença de idade com Narendra Modi nem é tanta – o primeiro-ministro indiano está com 73 anos. Mas é septuagenário vibrante: foi maciçamente reeleito, levou a Índia ao quarto lugar entre as economias mundiais e tem 75% de aprovação, um recorde mundial entre os grandes países. Não há o que se compare a crescimento econômico e mais dinheiro no bolso. O PIB per capita da Índia, o país mais populoso do mundo, cresceu 40% durante sua administração, de cinco mil para sete mil dólares – ainda baixo, mas considere-se que são 1,4 bilhão de habitantes.

Abaixo dele, segundo uma pesquisa YouGov, com 62%, está a mexicana Claudia Sheinbaum, também saída recentemente de um banho de urna, em grande parte decorrente das bênçãos do populista de esquerda Andrés Manuel López Obrador, com uma gestão discutível, mas a vantagem de estar pertinho dos Estados Unidos – uma proximidade quase divina – numa fase em que a China se tornou um destino industrial indesejável.

Da mesma linhagem do mexicano, o presidente do Brasil, Lula da Silva, e o da África do Sul, Cyril Ramaphosa, estão com popularidade quase empatada, com 40% e 41%, respectivamente, segundo a pesquisa YouGov. Não são números a ser efusivamente celebrados. E não valeriam lugares centrais numa hipotética mesa de Natal.

PARENTES BRIGADOS

A pesquisa YouGov dá a Javier Milei 60% de aprovação, muito mais do que as sondagens argentinas. Uma das mais recentes delas, da Opina Argentina, mostra 43% de aprovação à gestão do presidente ultralibertário e 49% de imagem positiva. São sinais de que ele continua razoavelmente bem colocado na mesa de Natal e que suas políticas duríssimas – exatamente como havia prometido – ainda contam com uma reserva de boa vontade.

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Milei comemorou números positivos, como uma inflação mensal que, pela primeira vez no atual processo, caiu para menos de 3%. Para os padrões argentinos e pelos métodos que Milei está usando, é uma conquista tremenda. O FMI acha que a Argentina começa a crescer ainda este ano, dando os primeiros sinais de vida depois da mais amarga dosagem de remédio do mundo, com cortes de gastos jamais vistos, inflação apenas gradualmente controlada e um aumento da pobreza.

Se der certo, Milei estará no centro de qualquer conferência internacional do futuro, não só de eventos conservadores como fará hoje nos Estados Unidos, aproveitando para se reunir com Donald Trump. Se der errado, pobres argentinos: voltarão aos surrados modelos de sempre.

No G20, é claro que será intensamente observado: ele e Lula são como aqueles parentes brigados que todo mundo fica com medo que não controlem os ânimos e estraguem a festa de Natal.

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No fim da fila da popularidade estão Keir Starmer, que se tornou primeiro-ministro britânico há apenas quatro meses e já tem pálidos 31% de números positivos: Emmanuel Macron, com 19% de aprovação dos franceses, e o alemão Olaf Scholtz, com meros 18%. Crescimento baixo e impostos altos derrubam qualquer um. Devido ao sistema parlamentarista e aos governos de coalizão, pois nenhum partido tem maioria sozinho, Scholtz está praticamente na categoria Joe Biden, já muito próximo do ocaso final.

FISSURAS GEOPOLÍTICAS

Note-se que a lista de popularidade não inclui Xi Jinping pela quase impossibilidade de testar confiavelmente o desempenho do líder de um regime que não segue os padrões democráticos.

Mas Xi certamente será uma das estrelas: ele dá presentes grandes para os parentes mais pobres, embora alguns desconfiem que tenham um preço embutido.

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Por trás da simbólica festa de Natal, como as emoções reprimidas em todas as famílias, estão as grandes correntes geopolíticas hoje em ação: a suprema armação da China, com a Rússia de Vladimir Putin como coadjuvante, para enfraquecer a superpotência americana e arrastar para sua órbita o autodenominado Sul Global. O nome dessa encenação é multilateralismo.

Para não estragar a festa com o desagradável assunto da ordem internacional de prisão por causa de crimes de guerra na Ucrânia, Putin nem vem. É o tiozão com “problemas”.

A próxima cúpula do G20 será na África do Sul e Donald Trump já estará em plena atividade com um programa que pretende reverter as grandes fissuras nas placas geopolíticas.

É possível que, até lá, os amigos secretos de Xi e companhia tenham que revelar mais explicitamente de que lado estão.

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