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Futuro presidente tem o que aprender com Trump? Tem, sim

Os maus exemplos, especialmente a língua solta, são muitos, mas o presidente americano também pode oferecer um saldo interessante de experiências

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 23 out 2018, 15h26 - Publicado em 23 out 2018, 13h55
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  • Donald Trump chegou à presidência da maior superpotência da história sem ter um único dia de experiência em qualquer área do governo. Quebrou e continua quebrando a cabeça em muitos aspectos.

    No próximo dia 6 de novembro, vai passar pelo teste das eleições para o Congresso e governos estaduais que são sempre consideradas uma espécie de julgamento popular sobre o presidente. Mesmo desmoralizadas, as projeções no momento não são muito favoráveis a ele.

    Com todos os seus inúmeros defeitos, Trump tem o que vender para o eleitorado. Algumas de suas iniciativas podem até ser um interessante objeto de estudo para o próximo presidente do Brasil:

    1. Comecemos pela mais chata: desregulamentação. A palavra trava a língua, mas a atitude destrava a economia. O Brasil já teve até ministro da Desburocratização, mas a caneta de Trump tem agido com uma simplicidade exemplar.

    No primeiro dia como presidente, ele mandou congelar todos os órgãos regulatórios federais. Dez dias depois, assinou um decreto com um princípio simples: a cada nova norma regulatória criada pelo governo, duas deveriam ser extintas.

    Encontrar o equilíbrio entre o necessário papel regulatório do Estado e o incontrolável furor regulatório que inibe a iniciativa privada é um dos maiores quebra-cabeças de qualquer governante.

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    Trump deixou bem clara sua opção. Ainda não aconteceu a grande crise que indicaria erro na eliminação da Lei Dodd-Frank, que regulamentou o mercado financeiro depois do baque de 2008. Depois de muito barulho, ninguém nem se lembra mais da eliminação da “neutralidade da NET”.

    Nesse campo, pesou a experiência de Trump como empresário. Na semana passada, os Estados Unidos recuperaram o primeiro lugar como economia mais competitiva do mundo.

    O índice é feito pelo Foro Econômico Mundial. Os Estados Unidos estavam há dez anos fora do pódio.

    Singapura, Alemanha, Suíça e Japão aparecem em seguida. A lista é longa, com 140 países, e demora um bocado até chegar na posição do Brasil. Dá vontade de chorar quando o número 74 aparece.

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    2. Todos os especialistas diziam que era impossível. E muitos continuam a dizer que vai acabar mal. Mas Trump conseguiu desmentir um bocado de gente. Crescimento do PIB anualizado de 4,2% é de cair o queixo.

    Vai durar? É sustentável? Provoca inflação? Tem mão de obra para segurar a expansão num momento em que a taxa de desemprego é a menor em meio século?

    Ah, que delícia de problemas.

    O crescimento da economia é a única conquista de Trump que pode apelar a eleitores situados em todos os campos do espectro político.

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    3. Generais fortes, mas não imexíveis. Entrou, não deu certo, saiu. Sem contatos na política, inclusive no Partido Republicano, Trump apelou a militares reformados de alta patente para os cargos ligados à segurança nacional.

    É claro que os Estados Unidos são muito diferentes do Brasil, mas os dois generais que sobreviveram até agora ao estilo caótico de Trump, Jim Mattis, na Defesa, e John Kelly, na Casa Civil, são material de alta qualidade.

    O carismático Mattis virou um túmulo no cargo. Não aparece e dá pouquíssimas entrevistas. Kelly também fala pouco, mas executa com disciplina militar as demissões que Trump, ao contrário do estereótipo criado em O Aprendiz, não gosta de fazer.

    Foi ele quem cortou sem piedade algumas das figuras mais bizarras levadas por Trump, como Anthony Scaramucci, que durou exatamente onze dias no cargo equivalente a ministro das Comunicações, e Omarosa Manigault, que deveria fazer a mediação com as lideranças negras, mas tinha comportamento exótico e saiu cuspindo fogo.

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    O próprio Kelly não é nada fleumático e agora estão surgindo histórias de que chegou a pegar um dos amigos conselheiros de Trump pelo colarinho. Não é difícil apostar em quem estava do lado certo.

    Se a paciência, de ambos os lados, acabar e Kelly sair do governo, será uma perda. Mas não podem existir generais imexíveis em nenhum governo democrático.

    4. Não cultivar inimizades perpétuas. Trump foi eleito apesar da rejeição quase unânime do próprio Partido Republicano, mas se aproximou de várias figuras que o criticaram e que foram impiedosamente troladas por ele.

    Está fazendo campanha pela reeleição para o Senado de Ted Cruz, adversário da época das primárias que tinha tudo para ser um inimigo eterno  Trump chamou a mulher dele nada menos do que feia, comparando fotos dela e de Melania.

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    “Ted Cruz virou um amigo”, disse Trump num comício, em declaração reproduzida pelo site POLITICO, uma das trincheiras avançadas do antitrumpismo. Outros desafetos do partido com quem fez as pazes: os senadores Mitch McConnel, Lindsey Graham, Marco Rubio (o “pequenininho” chamava-o Trump durante as primárias) e Rand Paul. Com alguns até joga golfe.

    Sem a frente unida deles, não passaria a tempestuosa nomeação de Brett Kavanaugh para a Suprema Corte. Os republicanos têm maioria de um único voto no Senado e não é impossível que a percam em novembro.

    Na Câmara, o mago Nate Silver calculou em 85,6% a probabilidade de que os democratas ganhem a maioria. Claro que todo mundo ainda tem em mente as garantias inabaláveis que ele deu sobre a vitória de Hillary Clinton. Mas até os profissionais das projeções podem acertar de vez em quando.

    5. Menos impostos, menos impostos, menos impostos.

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