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Feminismo engana-trouxa e síndrome de “chama o sargento”

Indústria de cosméticos propaga falso “empoderamento” das mulheres e a turma que gosta de desafiar policiais humildes acha que é uma beleza

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 27 jun 2017, 13h48 - Publicado em 27 jun 2017, 07h53

Um homem de 45 anos é acusado por duas mulheres de ameaças e perseguição. Também investe contra as profissionais de saúde que tentam ajudá-lo no hospital ao qual foi levado em estado de descontrole. O que acontece em seguida?

Bom, todo mundo já sabe. O ator foi detido e teve um ataque de “chama o sargento”, o equivalente a “você sabe com quem está falando” sob a ótica dos autodenominados progressistas. O que não houve é mais impressionante ainda: silêncio total em relação às mulheres agredidas.

O chilique do detido é diretamente relacionado ao “complexo de ditadura”, um estado mental em que pessoas sequer nascidas ou sensientes na época do regime militar consideram que qualquer agressão a um policial não só é merecido como representa ou heróico ato de resistência.

A quê? À “ditadura”, lógico. Ainda que imaginária. E ainda que corporizada por policiais de classe social muito mais baixa do que os riquinhos adeptos do quebra-quebra.

Estes, se forem do universo das celebridades, ainda recebem manifestações de apoio e solidariedade, além de críticas aos que ousaram ver uma explosão de brutalidade,  movida a substâncias alteradoras de comportamento, por parte do envolvido. Sobrou até para os “populares”, mais conhecidos como povo, acusados de impiedade.

MARIA MARAVILHA

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É natural que familiares e amigos mostrem compreensão e solidariedade pelos defeitos, erros e vícios a que, sendo humanos, todos estamos sujeitos.

Mas onde estão as manifestações de solidariedade às mulheres envolvidas? O episódio do hospital, pelo menos, foi registrado num vídeo que mostra a perturbação causada às pacientes e profissionais de saúde presentes na hora do chilique.

O vídeo também mostra a paciência e a bondade dessas profissionais. Enfrentar um pronto-socorro de hospital é para as fortes de espírito. Muitas provavelmente nunca ouviram falar em “empoderamento” e “sororidade”, as palavras-chave do feminismo engana trouxa do momento.

Além de feias e falsas, são palavras macaqueadas do inglês – ignorando alternativas elegantes, como irmandade, entre outras. São também palavras usadas pela indústria do entretenimento e dos cosméticos para propagar seus produtos com uma mensagem enganosamente feminista.

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Só para lembrar: desenvolver produtos, fabricá-los e fazer campanhas de publicidade para maximizar sua venda são atividades intrinsecamente positivas. É bom que existam, não só para a economia, mas para garantir as liberdades mais amplas e fundamentais, associadas ao livre empreendimento. E todo o vasto etc, sobejamente conhecido e comprovado, pelo menos até que apareça um sistema que faça isso de forma melhor.

SÍNDROME DE PÂNICO

Também é parte do jogo fazer de conta que bancos se preocupam com a felicidade do cliente e produtores de um filme como Mulher-Maravilha querem “empoderar” as mulheres (ao contrário de Maria Maravilha, a deliciosa personagem de Betty Faria  num programa humorístico dos anos 90, que só precisava resolver problemas do cotidiano).

A falsificação acontece quando empresas de cosméticos resolvem ensinar mulheres, estes seres frágeis e tolos, a ser “mulheres”, os seres fortes e espertos que praticam ativa e alegremente a sororidade. E o empoderamento, claro.

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Está implícito, nesse tipo de estratégia de marketing, que as mulheres são essencialmente desequipadas para enfrentar realidades como a influência da aparência na sua autoimagem, na  vida emocional e na carreira profissional.

Competição é algo que provoca imediatamente síndrome de pânico nas coitadinhas. E é ver a imagem de uma modelo magra e linda para chegar à beira da anorexia.

Na prática, é a apropriação, como se diria nesses meios, das inúmeras bobagens desfiadas por Naomi Klein no livro O Mito da Beleza. Com uma diferença importante: a escritora canadense pelo menos tem uma formação intelectual sólida.

O fato de que a tenha usado para criar uma obra frágil é explicado pela ideologização. E o fato de que tenha usado esse nicho de mercado para ficar rica é outro sinal da superioridade do sistema de, claro, mercado.

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CRAVADA NO PEITO

No último festival de Glastonbury, um empreedimento onde jovens de classe média para cima vão para fingir que têm um estilo de vida alternativo, uma mulher nua subiu a um dos palcos. Tinha seios e aparelho reprodutivo pintados de preto em cima dos originais.

E, no peito, cravada a palavra feminista, hoje quase obrigatória, em especial para cantoras que usam seus formidáveis dotes físicos para fazer sucesso. Quanto maior o dote físico, maior o feminismo, aparentemente.

Rachel Rousham, a pelada, não é cantora. Faz parte de uma organização de defesa do parto seguro. Como isso já está garantido pelo progresso da medicina há mais de cem anos, pelo menos quando os princípios básicos são aplicados, a causa foi transferida para  imigrantes e refugiadas.

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É claro que o verdadeiro objetivo era aplaudir Jeremy Corbin, o líder de esquerda com ideias que são a vanguarda do atraso. E vaiar Theresa May.

Esta, aliás, acabou de garantir que vai continuar à frente do governo, através de um acordo com a líder de um partido protestante da Irlanda do Norte, Arlene Foster.

DOIS ATENTADOS

Nenhuma das duas entra na categoria empoderamento, tal como entendida pelos comitês de feminismo. Aliás, não devem ser nem consideradas mulheres, embora Foster tenha tentado usar o argumento da misoginia quando estava no governo e veio a público o escândalo de desperdício num projeto de conversão de dinheiro público em benefícios absurdos para empreendimentos privados que fizessem uso de energia renovável.

Felizmente, não colou. Mas só porque ela é de um partido à direita do general Pinochet. Quando Arlene Foster era criança, o pai dela, policial, escapou com ferimentos graves de um atentado  do IRA, os católicos armados que lutavam contra protestantes.

Também teve o atentado contra o ônibus escolar onde ela estava, porque o motorista também era da repressão, como diriam os adeptos do complexo de ditadura e o pessoal de Glastonbury, mesmo sem nenhuma experiência desta na história recente.

Aliás, se o ator tivesse dado chilique lá, provavelmente ninguém perceberia. Estava todo mundo na mesma sintonia. E acossar mulheres só pega mal se tiverem a palavra “feminista” escrita em alguma parte do corpo. Médicas e enfermeiras de Arcoverde que se lembrem disso.

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