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Estados Unidos: é certo dar renda básica apenas para famílias negras?

Duas cidades americanas criam programas de combate à pobreza que excluem brancos - e abrem, claro, uma tremenda discussão

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 31 mar 2021, 08h01 - Publicado em 31 mar 2021, 07h57
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  • Oakland é uma cidade rica com bolsões de muita pobreza e contrastes que fazem os do Brasil parecer brincadeira.

    Como em tantas outras cidades americanas, as áreas mais pobres têm uma população quase exclusivamente negra.

    Agora, a cidade da baía de São Francisco, bafejada pelas fortunas provenientes do mundo High tech do Vale do Silício, tem uma inovação: um programa de renda mínima destinado apenas a famílias com ao menos um filho abaixo dos 18 anos e renda que seja pelo menos metade do que a média dos Estados Unidos (59 mil dólares).

    O programa é financiado inteiramente por doações filantrópicas, o que facilita, mas não elimina um possível obstáculo constitucional: ele se destina apenas a famílias na categoria BIPOC – sigla em inglês para negros, indígenas e pessoas de cor.

    Seiscentas famílias nessa condição receberão 500 dólares por mês durante um ano e meio.

    “A pobreza que estamos vendo hoje em dia não é produto de fracasso pessoal, mas de falência sistêmica”, disse a prefeita Libby Schaaf, tão à esquerda, no espectro político americano, que criou um sistema de alerta sobre batidas da polícia de imigração a clandestinos radicados na cidade, durante o governo Trump.

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    Nem é preciso dizer que um programa social que exclui brancos pode ser considerado inconstitucional.

    O programa é similar a um já em vigor em Marin County, o terceiro município mais rico dos Estados Unidos, que paga o dobro, mil dólares, aos contemplados, e é bancado, em parte, com dinheiro público.

    “A estrutura do programa é racialmente discriminatória”, disse ao site Reason o analista jurídico Walter Olson.

    Segundo ele, mesmo que as verbas tenham origem privada, o grau de participação de funcionários municipais na distribuição vai pesar se houver contestação na justiça.

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    O bolsa-família para negros pode criar confusão com um outro tipo de subvenção, a indenização de inspiração racial.

    Um município da região de Chicago, Evanston, aprovou um programa-piloto que dará 25 mil dólares a 16 famílias negras para reformas doméstica ou como entrada em outro imóvel.

    Detalhe interessante: os 400 mil dólares iniciais são bancados pelo imposto sobre a maconha legalizada.

    O programa pretende compensar danos discriminatórios sofridos por habitantes negros no campo da habitação.

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    O dinheiro não vai diretamente para as famílias, mas para as lojas de material de construção ou os bancos que financiam novos imóveis.

    Por causa disso, está sendo chamado de “paternalista”.

    A discriminação por raça só é admitida nos Estados Unidos, em circunstâncias específicas e por período limitado, no âmbito das admissões universitárias.

    É claro que separar pessoas por cor para receber benefícios sociais tem um potencial de alta complexidade. 

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    As discussões sobre esses programas pioneiros vão moldar os próximos e, por motivos óbvios, têm interesse também para o Brasil por causa das perguntas fundamentais que coloca: as desvantagens por raça ou cor se sobrepõem às desvantagens sócio-econômicas? Onde acaba uma e começa outra? Reparações por discriminação com origens na escravidão ou por circunstâncias específicas são uma forma razoável ou desejável de fazer justiça?

    Não existem respostas fáceis.

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