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Esportistas estão certas por reclamar da sexualização de seus corpos?

A beleza esculpida por exercícios de altíssima intensidade é um dos atrativos dos Jogos Olímpicos, mas quem não quer mostrar muito se complica

Por Vilma Gryzinski 26 jul 2021, 08h38

Nada havia preparado o mundo para a erupção de Nadia Comaneci na Olimpíada de Montreal, em 1976. 

A mistura de perfeição absoluta dos movimentos da ginástica, os arriscados arabescos que feitos por ela pareciam fáceis e orgânicos, com o jeito quase infantil de seus 14 anos e 1,49 de altura criou imagens que continuam a impactar até hoje.

O ar pubescente da ginasta romena certamente ajudou a conquistar corações – e atenções indesejadas de mentes perturbadas. A mãe de Nadia diz que a jovem viria a ser estuprada e barbaramente torturada pelo filho do chefão comunista Nicolae Ceausescu – uma atrocidade que Nadia nunca confirmou.

Mais de quarenta anos depois, ginastas da equipe alemã foram treinar em Tóquio com leotard longo, um macacão de malha até os pés, como protesto contra a “sexualização da ginástica”.

Com a evolução tecnológica dos tecidos para trajes esportivos, as roupas que cobrem mais o corpo permitem tanta elasticidade quanto as mais exíguas. Foi este um dos argumentos dado pelas integrantes do time de handebol de praia da Noruega para não usar o biquíni obrigatório na modalidade, num jogo do campeonato europeu.

Cada jogadora foi multada em 150 euros.

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O biquíni dos esportes de areia, principalmente o vôlei, é um dos atrativos da modalidade – e não só para espectadores masculinos; mulheres também gostam de ver os corpos esguios mas bem definidos, com pouca musculatura aparente, moldados por um dos esportes mais populares no Brasil. Nem que seja só para imaginar como seria bom ter aquelas barrigas chapadas.

Esculpir corpos bem torneados é motivo pelo qual tanta gente se esfalfa em academias, sem a menor intenção de competir em qualquer esporte. E o objetivo de ter corpos assim, evidentemente, é aumentar a atração sexual.

Para os atletas profissionais, a beleza física também turbina o valor das campanhas publicitárias e a venda de produtos licenciados. 

Apesar de sua admirada habilidade nos passes, David Beckham dificilmente teria uma fortuna de 450 milhões de dólares se não fosse pelo rostinho bonito e o físico de derrubar arquibancadas.

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Maria Sharapova foi a atleta mulher mais bem paga do mundo durante onze anos com uma boa ajuda do físico de modelo e da longa cabeleira. Na carreira como a tenista mais linda do mundo, embora nem sempre a melhor, amealhou uma fortuna calculada em 285 milhões de dólares.

As reclamações sobre o excesso de exposição corporal são relacionadas a uma identificação maior com ideias do feminismo atual, já bem distante da era de libertação sexual e livre exposição dos corpos das gerações anteriores.

Todo mundo sabe que os atletas dos Jogos Olímpicos originais competiam nus e assim eram celebrados nas esculturas e nas pinturas de ânforas que atravessaram milênios para nos dar uma imagem perfeita do culto ao corpo original.

Os atletas gregos não eram exatamente os nobres puristas dos tempos heroicos, tal como retratados pelo classicista E. Norman Gardiner, o grande especialista do século XIX em esportes da antiguidade.

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Não tinham comportamento muito diferente de celebridades e influencers dos tempos atuais e a coroa de louros, ou de ramos de oliveira, muitas vezes era acompanhada por prêmios em dinheiro. As reformas jurídicas de Solon, um dos grandes estadistas gregos, incluíam um prêmio de 500 dracmas aos atletas atenienses que fossem vitoriosos nos jogos de Olímpia. Nos Jogos Ístmicos, disputados no istmo de Corinto, o prêmio era menor, de 100 dracmas.

Outros benefícios, dependendo da época: salário vitalício pago pelos cofres públicos, lugar de honra em eventos públicos e isenção de impostos.

No início das Olimpíadas modernas, as mulheres jogavam tênis com longos vestidos brancos. A francesa Suzanne Lenglen introduziu um vestido com saia plissada, na altura do joelho – e sem espartilho, uma excepcional libertação.

Em esportes coletivos, os shorts largos, no meio da coxa, surgiram nos anos trinta.

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“Só queríamos mostrar que toda mulher deveria ter o direito de escolher o que usar”, disse a ginasta alemã Elisabeth Seitz. No esporte, não é exatamente assim. São as federações que definem os trajes, chegando a minúcias como estabelecer a cava e a largura da lateral da calcinha do biquíni dos esportes de areia.

A saída seria implantar o burquíni, o traje que cobre todo o corpo e os cabelos admitido em muitas modalidades para as esportistas que seguem as regras muçulmanas?

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