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Epidemia de cinismo

A nova variante derruba até a crença em conquista da medicina

Por Vilma Gryzinski 5 dez 2021, 08h00

Sem a vacina, estaríamos muito pior. Mas com a vacina não estamos tão bem como esperávamos quando surgiram os primeiros imunizantes, numa velocidade acelerada que encheu a humanidade de entusiasmo pelo inédito feito científico. Psicologicamente habituados a resultados 100% positivos, como na pioneira vacina da varíola ou no caso de uma doença multifacetada como a meningite, agora vivemos uma espécie de ressaca. A variante ômicron, mesmo com efeitos ainda em estudos, derrubou os ânimos e as bolsas. A situação é pior em países europeus que já passaram por confinamentos estritos e agora são empurrados para novas restrições. A perspectiva de voltar a passar um inverno em quarentena está alimentando um fenômeno chamado de cinismo da vacina, uma espécie de desilusão com promessas que não conferem inteiramente com a realidade ou com as expectativas criadas. Cada morte de um duplamente vacinado é vista como exemplo de ilusões perdidas — exemplo errado, pois a imunização ainda evita número muito maior de hospitalizações e mortes.

“Psicologicamente habituados a resultados 100% positivos, vivemos uma espécie de ressaca”

Mas não é o manto de invulnerabilidade que tanto desejávamos. Hoje estão morrendo em média 800 pessoas por dia de Covid-19 nos Estados Unidos, um número pouco auspicioso. Até recentemente, os não vacinados eram 90% desses mortos; agora, a proporção já se aproxima dos 50% de cada lado. A conta certa tem de ser feita levando em consideração o porcentual total de cada grupo, vacinados e não, mas a mente humana quer explicações mais fáceis e que coincidam com o atual estado de espírito de fadiga psicológica diante de um vírus que está nos dando um baile atrás do outro.

Vamos viver tomando doses de reforço da vacina contra a Covid? Depois da terceira, virão a quarta, a quinta, a sexta? “Não é irrazoável”, resumiu o ministro da Saúde de Israel, sobre a iminência da quarta dose. A perspectiva de vacinações sucessivas alimenta o desalento dos que se inclinam a rejeitar a imunização ou a sua obrigatoriedade. Na Europa, os partidários da antivacinação são geralmente simpatizantes da direita dura ou, no espectro oposto, defensores da medicina natural e do modo de vida equivalente. A bronca com a obrigatoriedade da imunização bebe do mesmo combustível inflamável que alimentou a Revolta da Vacina, no Rio de 1904, uma cidade perigosa por causa dos miasmas das doenças transmissíveis. Curiosamente, a interpretação esquerdista da história sempre tentou mostrar esse movimento popular como um episódio da luta de classes, turbinado pela brutalidade do presidente Rodrigues Alves e do sanitarista Oswaldo Cruz, na campanha de higienização que incluiu desde a destruição de barracos no centro do Rio até a prisão dos que recusavam a vacina contra a varíola e a condenação de revoltosos a trabalhos forçados em seringais de lugares remotos como o Acre. Detalhe: Rodrigues Alves posteriormente se tornou o primeiro presidente reeleito no Brasil, mas nem chegou a tomar posse. Morreu em 1919, de gripe espanhola, a grande epidemia que introduziu a humanidade ao conceito de máscaras e quarentenas. Perto dela, a Covid-19 é um passeio. Mas que cansa, cansa.

Publicado em VEJA de 8 de dezembro de 2021, edição nº 2767

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