Se fosse um país, a Universidade de Yale seria o quinto maior do mundo pelo critério de número de Prêmios Nobel: 65 (atrás de Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França).
Ainda está longe dos 150 de Harvard e provavelmente vai continuar assim. Ao politizar o ensino da ciência, Yale inevitavelmente entra na lista das instituições que, por vontade própria, deixam a categoria em segundo plano.
“Quer ser um biólogo molecular em Yale? Garanta que você tem um plano de dez etapas para desmantelar o racismo sistêmico”, escreveu o acadêmico John Seiler no The Free Press.
“Ao fazer contratações para o departamento de biofísica molecular ou bioquímica de Yale, os professores são instruídos a colocar o DEI ‘no centro de todas as decisões’”.
O conceito de DEI promove critérios de raça, gênero, orientação sexual e outros itens da pauta identitária. Os candidatos a cargos no corpo docente levam zero pontos de “não tiverem conhecimento e conscientização das questões relacionadas à DEI”, “não se sentirem pessoalmente responsáveis por ajudar a promover um ambiente de equidade e inclusão”, “não se envolverem em atividades que promovam a DEI” e “não tiverem objetivos ou planos para promover a DEI”.
Os que fizerem o oposto, obviamente, ganharão a qualificação “excepcional”.
COMISSÁRIO CULTURAL
Yale não é, com certeza, a única universidade de elite com esses critérios, mas chama a atenção pela rigidez. É certo procurar ampliar o leque da diversidade em todos os ambientes de ensino e trabalho? Com certeza. É certo colocar o critério do conhecimento em segundo plano?
Essa é uma discussão constante. A interferência de critérios políticos nas atividades artísticas e científicas tem um histórico de erros fenomenais, especialmente na antiga União Soviética.
O ápice desse absurdo foi representado por Andrei Jdanov, transformado por Stálin no supercomissário cultural, encarregado de formatar tudo aos conceitos ideológicos. Músicos como Shostakovich e Prokofiev foram “instruídos”sobre a maneira politicamente correta de compor. Ele deu nome até a uma doutrina, chamada Jdanovshchina, que vigorou entre 1946 e 1953. Artistas, cientistas e intelectuais tinham que enquadrar tudo, de obras de arte a pesquisas, na linha do partido.
“Em 24 de junho de 1947, Andrei Jdanov ampliou a política para incluir os campos da astronomia e da cosmologia, argumentando que deveriam ser expurgados das ideias burguesas, baseadas em mentiras e ilusões”, escreveu o jornalista italiano Piergiorgio Pescali. “Entre essas ideias estavam o Big Bang, a mecânica quântica e a teoria da relatividade de Einstein”.
“A teoria quântica foi rejeitada porque não descrevia a matéria como uma estrutura única e real, aparentemente negando o materialismo”.
PERIGO BÍBLICO
A rejeição ao Big Bang, que ainda era discutido por cientistas ocidentais, também tinha critérios políticos. “A cosmologia stalinista declarava que o universo é infinito (sem limite de espaço e matéria), eterno (nunca começou, nunca acabará), a matéria é apenas a manifestação material do movimento e da energia (não se contempla a dualidade das partículas de onda)”.
“Todas as teorias devem se enquadrar na filosofia materialista e dialética”.
O Big Bang tinha o perigo adicional de teorizar “uma criação que poderia ser comparada ao Gênesis da Bíblia”.
Problema: Igor Kurchatov, o pai da bomba atômica soviética, disse ao monstro Beria, chefe da política política e encarregado de comandar o programa nuclear, para contrabalançar a vantagem americana, que se a teoria da relatividade e a mecânica quântica fossem rejeitadas, a bomba atômica teria que ser também.
Beria relatou a “vacilada” a Stálin, mas a conferência de físicos nucleares convocada com o objetivo de rejeitar esses conceitos “antimaterialistas” acabou cancelada. Cinco meses depois foi testada a primeira bomba nuclear soviética. Kurchatov, um comunista dedicado, morreu com um retrato de Stálin ao lado da cama, mesmo depois que o grande ditador já havia mudado de plano e sido postumamente expurgado.
Jdanov, que era co-sogro de Stálin (seu filho Yuri era casado com Svetlana), caiu em desgraça antes e morreu em 1948.
PONTOS SOCIAIS
Estarão os grandes centros de pesquisa do país com o mais bem sucedido conjunto de conquistas científicas da história da humanidade ameaçando seu notável desempenho com políticas como a DEI, na prática o estabelecimento de cotas para as minorias? O critério da meritocracia está permanentemente eliminado ou haverá uma conciliação com as duas preocupações, a performática e a inclusiva?
Irão universidades e empresas abandonar os critérios politicamente corretos ou estes se tornarão uma prática permanente?
É importante lembrar que as empresas ganham pontos sociais, como na China, quando aplicam a DEI – e também podem se proteger de eventuais processos por discriminação se comprovarem que tinha um engajamento ativo com as políticas inclusivas.
O Citigroup, por exemplo, anunciou seus objetivos para 2025: ter 43,5% de mulheres nos seus quadros em escala global, 11,5% de negros e 16% de hispânicos e latinos no ramo americano, além de 10% de pretos e pardos no Brasil (pardos, essa invenção local, usado no original).
Há pelo menos um outro grande banco exigindo que funcionários brancos assinem declarações que reconhecem seus “privilégios” em relação a minorias raciais.
Os soviéticos deixaram um legado de bom ensino de matemática, física e astronáutica, depois que abandonaram as loucuras ideológicas, mas nunca se destacaram na alta tecnologia como os Estados Unidos. Estarão estes, num momento em que a competição da China cria uma concorrência jamais enfrentada, abrindo mão de sua hegemonia científica e tecnológica?
Terá Yale as respostas ou tudo já está perdido?