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Eleição americana: Trump sobreviverá ou a cobra vai fumar?

Perder a maioria na Câmara pode significar um inferno astral para o presidente que nem a varinha mágica da economia vibrante conseguirá exorcizar

Por Vilma Gryzinski 3 nov 2018, 15h41
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  • Perder as eleições de “metade do mandato” é quase um ritual nos Estados Unidos. O partido de oposição ao presidente, seja ele quem for e estando no fim do segundo ano de mandato, ganha mais votos na Câmara dos Deputados ou no Senado, ou ambos, além de governos estaduais.

    É como se o eleitorado quisesse contrabalançar o poder do executivo. Existem estatísticas bem eloquentes nesse sentido: nas últimas 21 eleições desse tipo, o partido do presidente perdeu em média 30 deputados e quatro senadores.

    Como tudo nos Estados Unidos anda exagerado ao ponto da histeria, o mundo de Donald Trump é dado como à beira da extinção depois das eleições da próxima terça-feira.

    As pesquisas indicam que o Partido Republicano realmente deve perder a maioria na Câmara. No Senado, o mais provável é que os democratas não consigam virar o jogo.

    Acreditar em pesquisas anda ficando cada vez mais difícil, mas a hipótese é considerada tão concreta que até o próprio Trump já disse que “vai pensar numa saída” se de fato ficar em minoria.

    Qualquer coisa que não seja uma derrota acachapante pode ser apresentada como favorável a Trump. Ele tem mais de 90% da mídia martelando dia e noite todos os defeitos que tem e inventando outros.

    Parece continuamente que vai ser engolido pela “crise do dia”, seja um novo livro, um novo escândalo ou um novo tuíte.

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    Comparar Trump a Hitler? Virou normal.

    Um agente plantado por Vladimir Putin? Só se fala menos nisso porque o caso da suposta conexão secreta com os russos para ganhar a eleição presidencial anda em baixa.

    Antissemita? O hediondo ataque a uma sinagoga em Pittsburg desencadeou acusações em massa.

    Como Trump mudou a embaixada dos Estados Unidos em Israel de Telavive para Jerusalém e cortou verbas para palestinos, o comentarista Leon Hadar disse com uma ponta bem afiada de ironia que ele parece ser o primeiro presidente quântico: consegue ser uma coisa e seu oposto, ao mesmo tempo, como no mundo de incertezas e ambiguidade da física quântica.

    Chamou esse fenômeno de Paradoxo de Trump.

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    A oposição democrata está apostando tão alto nas eleições de terça-feira porque espera bloquear todas as iniciativas do governo na Câmara, abrir investigações em massa e até arriscar um processo de impeachment, mesmo sabendo que, no futuro próximo, não existe a possibilidade de que dois terços do Senado o aprovem.

    Mas com um presidente quântico nunca se sabe.

    Só para dar uma ideia do clima e das quantias astronômicas envolvidas nas eleições americanas.

    Até agora, a disputa pelo lugar de senador pelo Texas já teve 109 milhões de dólares em doações, a mais cara da história.

    O mais favorecido é o democrata Beto O’Rourke – o apelido meio hispânico é considerado um trunfo a a mais.

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    A ironia é que Ted Cruz, seu adversário republicano, é quem tem herança hispânica, como filho de cubano.

    Trump se jogou na campanha de Ted Cruz, com quem já tinha feito as pazes depois das baixarias da época da eleição presidencial. Cruz parecia um candidato viável, como encarnação de todos os valores apreciados pelo eleitorado conservador. Até cruzar com o Paradoxo de Trump.

    Além dos bilionários liberais abrindo a carteira, o Partido Democrata também conta com a adesão em massa de artistas de Hollywood e do mundo do show business em geral.

    Oprah Winfrey, a apresentadora mais famosa da televisão americana, está fazendo campanha diretamente, de porta em porta, para que Stacey Abrams seja a primeira governadora negra da Georgia.

    O mesmo valor simbólico teria a eleição de Andrew Gillum na Flórida. Uma investigação por práticas corruptas e a encrenca do assessor de campanha chamando a Flórida de “estado de branquelos” tornaram a campanha mais emocionante.

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    Barack Obama apareceu na Flórida para reforçar a campanha dos democratas e chamar “políticos” – adivinhem quem – de “mentir flagrantemente, repetidamente, desavergonhadamente”.

    Já que Obama abriu mão do distanciamento da política partidária esperado de um ex-presidente, não seria Trump quem deixaria de descer a língua num antecessor, apontando seus exemplos de estranhamento com a verdade.

    Apesar do clima catastrófico, real ou exagerado, Trump não vai tão mal na avaliação do eleitorado. Segundo a média das pesquisas do site RealClear Politics, ele é aprovado por 44% dos americanos e desaprovado por 52%.

    Outra pesquisa, da televisão NBC e do Wall Street Journal, dá uma aprovação maior: 47%.

    O apoio fiel, inabalável, inquebrantável, vem do eleitorado republicano: 90% aprovam o presidente. Isso ajuda a explicar por que ele não muda o discurso nem tenta exercer um papel conciliador, de estadista equilibrado.

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    O apelo real de Trump está nos números da economia, todos impressionantes. O desemprego está 3,7%. Só em outubro, foram criados 250 mil empregos. Na indústria de manufaturas, foram 32 mil novos empregos desde a eleição de Trump – o que era dado como impossível.

    Outra “impossibilidade”: crescimento da economia acima de 3%. Com o aquecimento geral, os salários tiveram um aumento de 3,1%.

    Talvez o aspecto mais estranho do Paradoxo de Trump venha a ser “perder” eleição no meio de uma economia vibrante que está colocando mais dinheiro no bolso dos americanos. Ou talvez os eleitores estejam aprontando outra surpresinha.

    Um dos fatores mais importantes de qualquer eleição em país normal – ou seja, onde o voto não é obrigatório – é convencer as pessoas a sair de casa para votar.

    Nessa eleição, a briga é boa. Quem tem mais motivos para sair de casa: os que têm tanta raiva de Trump que ignoram a bonança na economia ou os que, além de gostar dele, estão melhorando de vida?

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