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É certo a esquerda fazer manifestações na França contra partido eleito?

Por que a direita não pode votar em seus candidatos se eles fazem parte do jogo democrático e aceitam suas regras?

Por Vilma Gryzinski 1 jul 2024, 06h47

Mesmo antes da eleição de ontem, o primeiro turno da escolha de um novo parlamento, a frente de esquerda já estava nas ruas, quando não quebrando bens públicos e privados, para protestar contra a ascensão do Reunião Nacional, o partido que teve 33% dos votos, um resultado esperado, mas ainda assim impressionante.

Como é possível contestar a vontade dos eleitores, livremente manifestada, e chamar isso de defesa da democracia?

Qualquer pessoa de esquerda, diante dessa pergunta, provavelmente responderá com a data fatídica de 5 de março de 1933, quando o Partido Nazista recebeu 33% dos votos e consolidou uma aliança de governo, depois da tomada do poder propiciada pelo incêndio do Parlamento, o Reichstag, o pretexto usado para o avanço da pior experiência política da história da humanidade.

“Ah, se os alemães tivessem protestado em 1933…”.

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É justa essa comparação? O partido Reunião Nacional certamente tem origem no pétainismo, como os franceses chamam o regime que colaborou com os invasores nazistas, mantendo sob sua órbita um governo falsamente autônomo. O nome vem do marechal Philippe Pétain, um homem que saiu da I Guerra Mundial como herói e foi condenado à morte depois da II (pena comutada por Charles de Gaulle, permitindo-lhe uma sobrevida até 1951).

Xenofobia e antissemitismo foram expurgados a duras penas do partido pela filha de seu fundador, Marine Le Pen. O jovem líder que ela promoveu, Jordan Bardella, cumpriu muito bem o papel de deixar as origens do partido no passado e, ao mesmo tempo, evocar os assuntos que fazem o sucesso da direita populista na França: enquadrar os criminosos imigrantes nativos, controlar a entrada de estrangeiros ilegais no país, restaurar o senso de castigo e justiça de forma geral.

IMPOPULARIDADE DO PRESIDENTE

É possível abominar toda essa linha de pensamento, mas não ignorar o fato de que muitos franceses sentem que perderam o controle do país e o sistema não absorve mais estrangeiros, em parte nada interessados em ser absorvidos, ao contrário, aderindo ao ódio à França.

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Imaginem ter milhões de habitantes estrangeiros ou descendentes que odiassem o Brasil e desejassem que todo o seu sistema fosse substituído pelas leis mais estritas da religião muçulmana? E que alguns deles praticassem atos que vão do vandalismo cotidiano ao horror do terrorismo, incluindo a decapitação de dois professores e um padre?

Mesmo os que não compartilhassem dessa ideia e levassem vidas decentes, seguindo todas as leis e normais da sociedade, seriam considerados corpos estranhos.

É injusto, mas é assim que funciona. E ajuda a entender a adesão de tantos eleitores à direita nacionalista, um termo substituto aceitável de extrema direita visto que ninguém está incendiando o Reichstag na França.

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O grande avanço da frente de esquerda, com 28% dos votos, também é outro sinal da impopularidade do presidente Emmanuel Macron e de suas propostas, embora equilibradas e necessárias para evitar a insustentabilidade do ótimo regime de bem-estar social, sem contar um sistema trabalhista que engessa o empreendedorismo.

IDEIAS ATRASADAS

A direita lepenista está à esquerda de Macron nessas questões – ah, a França…. Não tem nada de liberal no sentido econômico. Os conspiracionistas acham que Macron quer justamente fritar os lepenistas ao expô-los às realidades da administração econômica e ao atraso de suas ideias.

Alguém está quebrando vitrines de lojas porque a esquerda, incluindo os radicais do França Insubmissa, foi tão bem votada?

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Obviamente, não.

A situação na França é complexa, com um “caçador de colaboracionistas” como o veterano Serge Klasfeld tendo declarado que, no segundo turno, entre um candidato do Reunião Nacional e um da Nova Frente Popular, optaria pelo primeiro por causa do antissemitismo e antissionismo que estão explodindo na esquerda.

Macron tomou a iniciativa de convocar novas eleições parlamentares, unanimemente considerada intempestiva, porque seu partido levou uma sova nas eleições para o Parlamento Europeu e ele queria que os franceses decidissem quem vai governar o país, segundo disse.

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ALTERNÂNCIA DE PODER

Confirmadas as pesquisas, com seu bloco, reduzido ao terceiro lugar, o presidente apelou a uma frente dos democratas contra a direita lepenista.

Marine Le Pen, exultante, foi fina: a melhor prova da democracia é a alternância de poderes, disse. Mas não resistiu a dizer que Macron foi esmagado.

Jean-Luc Mélenchon, o líder da esquerda radical, também teve um gesto de impacto, anunciando que a Nova Frente Popular retirará as candidaturas para o segundo turno onde estiver em terceiro lugar, para enfraquecer o Reunião Nacional.

Muitos estabelecimentos comerciais se anteciparam e colocaram barricadas de compensado na frente de suas vitrines, sabendo que viria quebra-quebra.

Infelizmente, todos já estão acostumados com isso na França.

E se a esquerda realmente conseguir uma frente ampla com o partido de Macron e ganhar o governo, como ficará? O RN terá o direito de sair quebrando tudo?

Ou pelo menos de retribuir a “gentileza” do jornalista esportivo Benjamin Bernard sobre os eleitores lepenistas, “doze milhões de ****** da ****”?

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