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Corina, a guerreira que peita Maduro: “Já é passado. Nós o derrotamos”

Sem poder concorrer por manipulação do regime chavista e sabotada de todas as formas, María Corina Machado virou um perigo maior ainda

Por Vilma Gryzinski 24 jul 2024, 06h18
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  • A líder oposicionista María Corina Machado tem razão: Nicolás Maduro já foi derrotado na eleição desse domingo. Falta saber se haverá uma fraude em grande escala ou se o desacreditado presidente tirará algum outro truque de seu saco de maldades para anular o resultado das urnas.

    Todo mundo só fala em María Corina, com seu espírito de guerreira indomável, porque é ela quem transformou o suave diplomata Edmundo González Urrutia num candidato capaz de enfrentar uma máquina política totalmente aparelhada pelo regime chavista.

    Diz uma pesquisa do Centro de Estudos Políticos de uma universidade católica e do instituto de pesquisas Delphos: Edmundo, como todos o chamam, terá 59,1% dos votos, contra 24,6% para Maduro.

    O Delphos calcula 4,9 milhões de votos para o candidato oposicionista e 2,9 milhões para o presidente.

    Outro instituto, Poder y Estrategia, dá 64% contra 21%.

    Lembremos que o chavismo criou escravos dependentes de programas sociais, não eleitores conscientes que poderiam escolher livremente votar na esquerda populista ou preferir outros candidatos, se não fossem os mecanismos destinados a manter Maduro e companhia eternamente no poder.

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    ESPÍRITO GUERREIRO

    Para isso, os direitos políticos de Corina foram cassados por um Supremo Tribunal inteiramente submisso ao poder. A sua substituta de emergência, uma professora de filosofia septuagenária, não conseguiu registrar a candidatura. O nada carismático Edmundo González foi uma opção de undécima hora. Ninguém dava muita coisa por ele.

    Mas por trás estava a força telúrica de Corina. Sem acesso aos meios de comunicação, sem propaganda eleitoral e até sem palanques e sistemas de som – o Washington Post relatou como um modesto empresário do ramo foi detido e seus equipamentos confiscados pela ousadia de pensar em prestar um serviço à oposicionista -, ela subiu em cima de carros ao longo de toda a Venezuela e incendiou multidões com seu espírito guerreiro, uma característica que ou você tem ou não dá para imitar.

    María Corina, de 56 anos, tem três filhos, mandados para fora do país, por questão de segurança. Anda coberta de terços dados por simpatizantes, é de direita e admira Milton Friedman. Tem santo forte e poder de mobilização, ao contrário de centro-esquerdistas como Juan Guaidó, um sujeito decente que não eletrizou a massa nem quando os deputados de oposição o designaram presidente de direito.

    Ela encontrou um canal de comunicação direto com as massas, operando no mesmo campo emocional de Hugo Chávez, apesar das ideias antagônicas. Uniu a oposição e mobilizou os venezuelanos, ajudada por uma situação econômica tão pavorosa, inteiramente produzida pelo chavismo, que quase um quarto da população teve que deixar o país.

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    “BANHO DE SANGUE”

    Maduro usou muitos truques, incluindo todo o poder da mídia controlada pelo Estado. Inventou uma disputa fronteiriça com a Guiana e um plebiscito fake para mobilizar sentimentos nacionalistas.

    Órgãos do Estado e milícias comandadas pelo chavismo perseguiram, multaram e até fecharam pequenos negócios, como hotéis e restaurantes humildes que tinham a audácia de prestar serviços a Corina e sua pequena comitiva. Até pirangueiros que os transportaram na região amazônica perderam seu sustento.

    “As pessoas nos ofereceram tudo o que tinham: seus carros, suas casas”, contrapôs a oposicionista.

    Maduro ameaçou até com “guerra civil” e “banho de sangue”, se perdesse a eleição. Ou, na interpretação vergonhosa do assessor presidencial Celso Amorim, “a longo prazo, a luta de classes”.

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    “DERROTA ESPIRITUAL”

    “As ameaças de Maduro já não assustam ninguém”, disse María Corina., exaltando a capacidade de agregação da oposição, inclusive de ex-bolivarianos.

    “Não sobrou para eles nem um único pedaço da Venezuela. Já foi concretizada uma derrota moral, uma derrota espiritual, uma derrota política, porque toda a Venezuela está convencida de que vamos ganhar”, declarou Corina.

    Aos policiais que colocaram caminhões na estrada quando ia para um comício – ela desceu do carro e foi de moto -, disse que a luta era deles também. Segundo Corina, nem os funcionários dos órgãos de segurança estão a favor de Maduro porque “sabem da corrupção do sistema”.

    Irá esse sistema corrupto e falido, mas com a força das armas e das milícias bolivarianas do seu lado, simplesmente entregar o poder? Irá Maduro se aposentar em Cuba, desfrutando da maravilhosa vida da ilha onde o socialismo produziu 72% da população vivendo abaixo da linha da pobreza (alguns cálculos falam em 90%)?

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    Chávez e Maduro deram o melhor de si para copiar a falência do modelo econômico de Cuba, mas não mudaram organicamente o país nem instauraram um regime de partido único, embora tenham chegado perto de massacrar totalmente qualquer tipo de oposição.

    CHÁ DE CAMOMILA

    Existe alguma perspectiva de que a vitória dessas forças abra caminho a uma transição pacífica e a um futuro melhor para a Venezuela? Terá um presidente Edmundo González condições de exercer a chefia de governo? Como agirão as Forças Armadas?

    Um processo desse tipo seria formidavelmente complicado. O madurismo é dividido em feudos, com figuras que têm suas próprias ideias sobre como dominar o país e até suas próprias organizações armadas.

    Mas o grande tesouro venezuelano, o petróleo, arruinado pelo chavismo, combinado a um renascimento cívico, ajudaria muito na recomposição econômica, política e social de que o país tanto precisa. María Corina defende a privatização da PDVSA, um tabu para outros políticos de oposição, numa situação parecida com a do Brasil.

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    Talvez haja uma fresta de esperança, entre muitos motivos para ficar assustado, como disse alguém muito mais esperto do que Celso Amorim.

    Sobre a reação do presidente Lula da Silva, ao se declarar assustado com a fala do tiranete sobre banho de sangue, Maduro foi finíssimo: “Que tome um chá de camomila”.

    Talvez Maduro descubra que não tem tantos amigos como imaginava.

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