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Por Vilma Gryzinski
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Café com o presidente: planos de dono da Starbucks e outros

Bilionários americanos sondam se podem se arriscar no caminho para a Casa Branca, mas não entendem o plano que levou Donald Trump até lá

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 20h26 - Publicado em 5 jun 2018, 12h28

Eles nadam em dinheiro, têm propósitos elevados e, acima de tudo, querem consertar os Estados Unidos.

Harold Shultz, o dono da infinitamente replicada rede de cafés Starbucks, é o mais recente da lista de bilionários com o dom da genialidade empresarial a achar que podem imitar Donald Trump e, sem nenhuma experiência política, sair direto da cadeira de CEO para a escrivaninha feita com madeira do navio de exploração Resolute e presenteada pela rainha Vitória ao ocupante do Salão Oval.

É uma lista de cair o queixo em matéria de sucesso. Mark Zuckerberg tem 34 anos, 76 bilhões de dólares e Facebook gravado no nome (infelizmente, já chegaria também com uma lista de inimigos bem grande, incluindo os que inventaram um slogan matador: F**k Zuck).

O megafinancista MarK Cuban tem cara de presidente; um time de basquete, o Mavericks de Dallas; um programa de televisão (Shark Tank, sobre empreendedores iniciantes que tentam conquistaram investidores com instinto de tubarão) e ambição que está dependendo, no momento, da aprovação da patroa para se jogar na pré-campanha como candidato independente.

Howard Shultz não fez nenhum segredo sobre o motivo que o levou a deixar o comando do Starbucks, com suas 27 mil unidades no mundo.

“Estou profundamente preocupado com nosso país: as divisões internas que crescem na frente doméstica e nossa posição no mundo. Uma das coisas que quero fazer no novo capítulo da minha vida é pensar como retribuir o que ganhei.”

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TUBARÕES BONZINHOS

Já deu para perceber que os geniais e espetacularmente bem sucedidos aspirantes a presidente não entenderam nada do que Trump fez.

Em lugar de “consertar” os Estados Unidos e enquadrar o país em padrões mais politicamente corretos ainda, como pretendem os tubarões bonzinhos, Trump prometeu soltar o espírito animal do capitalismo que andava meio domesticado – o que está, no momento, de fato acontecendo.

Jamie Damon, fera das finanças e do JPMorgan que também anda pensando no assunto Casa Branca, aprovou algumas iniciativas de Trump, principalmente no campo da desburocratização.

Quando fala em imigração, talvez o assunto que mais impulsionou Trump, argumenta que os estrangeiros candidatos a virar americanos deveriam “ter aulas de história dos Estados Unidos”.

Comparem isso com o que o tubarão malvado atualmente no Salão Oval prometeu: construir um muro bem alto na fronteira com o México e fazer os mexicanos pagar com ele.

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Entre muro e aulas de história, o eleitor que continua a querer controles sobre a entrada de estrangeiros, legais ou por baixo do pano, optaria por qual solução?

Falar de assuntos proibidos, com palavras idem; incentivar sentimentos de ódio ao establishment; sapatear na cabeça de adversários com tuítes e apelidos massacrantes; usar um passado mais que perfeito como template para o futuro – alguém imagina Howard Shultz e correlatos fazendo algo remotamente parecido com as táticas de Trump?

Antes de anunciar que estava saindo do comando do Starbucks, Shultz fechou todos os oito mil cafés nos Estados Unidos para fazer um “treinamento” sobre racismo inconsciente.

REEDUCAÇÃO COLETIVA

Motivo: o episódio num Starbucks de Filadélfia onde dois homens negros estavam sentados, sem fazer nenhum pedido, e um deles quis usar o banheiro.

Um empregado do café chamou a polícia, os não-fregueses bateram boca e acabaram detidos, num óbvio exagero do uso da força. Quem não se sentiria humilhado em situação semelhante?

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E, ao mesmo tempo, quem não sabia que o sucesso do Starbucks foi criado em cima do fato que, pelo preço de um café, dava para passar o dia inteiro na frente do computador? Mas é preciso pagar o café?

Schultz usou o caso para fazer a sessão de reeducação coletiva e anunciar que todos os estabelecimentos passariam a abrir as portas para quem quisesse ficar lá, sem consumir nada.

Houve funcionários que gostaram, outros disseram que enfrentariam problemas com moradores de rua e a maioria calou a boca: o emprego de barista, palavra italiana disseminada pela rede da sereia, é uma alternativa para quem está estudando ou precisa de uma fonte de renda mais rápida.

Além do ar de modernidade que o Starbucks imprimiu à atividade, embora sem o arrogante gestual dos baristas italianos originais.

Schultz, que começou famosamente em Seattle, no estado de Washington, com torrefadores de café que acabaram não querendo entrar no ramo do varejo, transformou o Starbucks (nome do imediato do obcecado capitão Ahab em Mobby Dick) na própria encarnação do clichê de empresa que tem uma missão e não vende produtos, mas estilo de vida.

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Muitas vezes, exagerou na mão. Em certa ocasião, mandou que todos os pedidos na rede fossem feitos em nome de “Black Lives Matter”, o movimento negro radical, por ocasião dos protestos violentos contra mortes praticadas por policiais em ação.

Quando Donald Trump anunciou a primeira lista de países cujos cidadãos ficavam temporariamente proibidos de entrar nos Estados Unidos, por causa das atividades terroristas no lugar de origem, Howard Shultz disse que o Starbucks iria contratar dez mil refugiados.

Abriu caminho para que um pequeno distribuidor de café, assumidamente chamado Black Rifle Coffee, anunciasse um plano para contratar dez mil veteranos das Forças Armadas americanas (na verdade, o Starbucks já tem um programa do tipo).

O Black Rifle, criado por um ex-boina verde, com nome e logotipo referentes ao fuzil padrão do exército, é uma espécie de anti-Starbucks.

Seus comerciais são uma sátira a todas as fantasias machistas, de loiras de calcinha a uma quantidade inacreditável de armas, tiros e tatuagens. Como os americanos podem fazer isso, o Black Rifle vai entrar no varejo com cafeterias instaladas literalmente em stands de tiro.

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SOROS ENSANGUENTADO

Milionários bonzinhos dispostos a salvar seus países são um fenômeno comum, de Macri, na Argentina, a Macron, na França. O único remotamente comparável a Trump foi Silvio Berlusconi.

Falar o que vem à cabeça é uma característica dos muito ricos pouco acostumados ao contraditório. Um exemplo disso foi dado esta semana por George Soros.

Com 87 anos e 8 bilhões de dólares colocados em seus planos de mudar o mundo, o financista aposentado que estudou na London School of Economics e é um seguidor de Karl Popper, foi à Itália passar atestado de novato político.

Referindo-se a Matteo Salvini, o líder da direitista Liga do Norte e político mais popular da Itália, onde divide o poder com o Movimento Cinco Estrelas, o bilionário esquerdista respondeu assim uma pergunta: “Nãp sei se Salvini é financiado por Moscou, mas, se for, o povo italiano tem direito a saber.”

O mesmo princípio maluco poderia ser aplicado à seguinte declaração: “Não sei se George Soros é um satanista que quer extinguir a civilização ocidental cristã, mas, se for, o povo dos países onde faz doações políticas tem direito a saber.”

Salvini preferiu acertar um golpe na defesa aberta por Soros com mais efetividade.

“Nunca recebi uma lira, um euro ou um rublo da Rússia, considero Putin um dos melhores estadistas e me envergonho do fato de que tenha sido convidado a falar na Itália um especulador sem escrúpulos.”

O que faria Howard Schultz num ambiente assim? Pediria um Iced Starbucks Blonde Cold Foam Cappuccino?

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