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Bilionário, príncipe, poderoso e preso: Arábia Saudita treme

Onda de prisões na cúpula do poder atinge o mais conhecido e influente súdito do reino, o príncipe Alwaleed, e convulsiona mais ainda a sucessão

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 20h41 - Publicado em 5 nov 2017, 09h38
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  • Como será que se diz Lava-Jato em árabe? De um modo bem único, é isto que está acontecendo na Arábia Saudita desde que, numa espécie de golpe palaciano, o rei Salman , idoso e doente, entregou a sucessão ao filho favorito, príncipe Mohammed bin Salman.

    E o herdeiro está com a rédea solta. A última e chocante jogada de MBS, como é conhecido, foi mandar prender 11 príncipes, quatro ministros e mais um número indeterminado de ex-ministros.

    Dentre eles, o nome mais impressionante: Alwaleed bin Talal. Príncipe também, embora não do círculo mais poderoso da família real, ele é um dos homens mais ricos do mundo, com fortuna avaliada em 19 bilhões de dólares.

    Circula entre a nata da nata da elite global. Não existe nenhum outro saudita tão conhecido, desenvolto e diversificado em matéria de investimentos, que controla através da sua Kingdom Holdings. Para dar uma ideia dos negócios onde tem controle ou participação: Citigroup, Twitter, Apple e 21st Century Fox. Esta última inclui a News Corporation, de Rupert Murdock.

    Como todo bilionário movido ao petróleo que jorra no Golfo Pérsico, adora hotéis históricos, Em Londres, tem o Savoy. Em Paris, o George V.

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    Entre suas três casas principais, a de Riad, a capital saudita, é um palácio de 23 mil metros quadrados com piscina coberta imitando uma lagoa tropical. Nos anos noventa, quando quis trocar de iate, comprou o de Donald Trump, que estava com uns probleminhas de dinheiro na época.

    Quando Trump entrou, estrondosamente, para a política, Alwaleed se estranhou com ele, dizendo que era uma desgraça para o Partido Republicano, em particular, e os Estados unidos em geral. Resposta via Twitter: “O príncipe pateta quer mandar nos políticos americanos com o dinheiro do papai”.

    Depois de eleito, Trump se aproximou muito do rei saudita ainda em exercício e de seu ativíssimo herdeiro. O príncipe de 32 anos quer modernizar o reino do deserto, onde impera uma das versões mais severas da religião muçulmana, o wahabismo.

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    Em política externa, é linha dura: tem sua assinatura a intervenção bem mal parada no Iêmen e a ruptura com o Catar. Em ambos os casos, o que está por trás é uma guerra não declarada com o Irã, a potência ascendente governada pelos princípios xiitas, a corrente muçulmana minoritária.

    Um dos capítulos dessa guerra aconteceu no Líbano exatamente no mesmo momento em que rolavam as prisões dos poderosos sauditas. Saad Hariri, o homem da Arábia Saudita no Líbano, tal como seu pai, assassinado em 2005, renunciou ao cargo de primeiro-ministro. Disse que estava prestes a seguir o destino do pai. Agora, o Irã tem controle total do país, através do Hezbollah e de aliados cristãos, como o presidente Michel Aoun.

    Todos os presos sauditas, recolhidos ao luxo vigiado do Ritz Carlton de Riad, são acusados de corrupção. Mesmo num país onde as comissões sobre grandes negócios são regulamentadas, ainda sobra bastante espaço para roubalheiras.

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    O comitê de combate à corrupção pode investigar, recolher passaportes, prender e congelar bens. Adivinhem quem é o poderoso chefão? O príncipe herdeiro, claro. A quantidade e a qualidade, política e financeira, dos onze príncipes e outros presos indicam que MBS está enfrentando resistências internas.

    Entre outros demitidos e detidos estão o comandante da Guarda Nacional, o ministro da Economia, o prefeito de Riad e uma penca de ex-diretores de estatais.

    Qual o papel do príncipe Alwaleed nessa encrenca toda? Ele também é modernizador – basta ver o bigode, que parece retrô, mas soa desafiador num país onde a barba é praticamente obrigatória, por motivos religiosos. Apoia o “Islã moderado” prometido recentemente pelo príncipe herdeiro. E com certeza teria o maior interesse no ambicioso programa de reformas econômicas que incluiria até a privatização de uma parte da Aramco, a estatal do petróleo.

    A prisão de Alwaleed tem enorme repercussão internacional devido aos investimentos globalizados do príncipe e seus contatos no topo da elite mundial. Ele chegou a ser chamado de “Warren Buffet da Arábia Saudita” pela sagacidade financeira. No momento, talvez seja necessário encontrar a expressão em árabe para Terremoto a Jato.

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