Deu aflição, angústia e, para os que têm empatia, pena. Aos 81 anos, Joe Biden deixou o país mais em dúvida do que nunca sobre suas capacidade de ser presidente.
Em compensação, Donald Trump, que tem apenas quatro anos menos, foi Trump como sempre – mas estava afiado e confiante, sem nenhum receio aparente de enfrentar não só o adversário para a Casa Branca como dois excelentes jornalistas que, resumidamente, o odeiam.
Trump já chegou numa posição de vantagem: as últimas pesquisas que precederam o debate começaram a mostram que ultrapassou o campo do empate, na faixa de um ou dois pontos de vantagem, para consolidar de quatro a cinco pontos à frente.
A última pesquisa da Quinina, dá 49% a 45% de vantagem para Trump. A do New York Times, 48% a 42%. O Washington Post deu vitória para Trump em cinco dos sete estados pêndulo.
O Biden confuso, trôpego, com voz quase inaudível visto no debate tende a a retroceder ainda mais. Nada surpreendente que tenha batido um pânico entre as lideranças democráticas.
Existe ainda tempo para trocar de candidato até a convenção do Partido Democrata, em 19 de agosto? A hipótese, extremamente remota antes do desastre do debate, começa a ser discutida bem publicamente.
SEM CANDIDATO NATURAL
Quem entraria no lugar dele? O site conservador Citizen Free Press, comentou, não sem razão que Hillary Clinton “está morrendo de vontade de ser candidata” – ela já negou milhares de vezes, mas não adianta.
E por que ter uma candidata que já perdeu para Trump?
O Drudge Repor, que virou antitrumpista militante, fez uma “pesquisa” entre seus leitores sobre possíveis substitutos. Gavin Newson, o governador da Califórnia com cara de presidente de cinema, levou 23%. É um dos políticos mais liberais do país e dificilmente ganharia votos de trumpistas arrependidos ou indecisos. A vice-presidente Kamala Harris, uma promessa que se mostrou decepcionante, teve 14%; Hillary, 13%.
Não existe, portanto, um candidato natural, com apelo popular, carisma para enfrentar Trump e um programa econômico convincente.
Se os americanos estivessem satisfeitos com seus salários, poder de compra e rumo geral da economia, Biden poderia fazer qualquer bobagem que seria relevado. Acontece que não estão, embora nada menos que dezesseis ganhadores do Nobel de Economia tenham assinado um manifesto no qual afirmam, de maneira hilariante, que o programa econômico de Biden é muito melhor do que o de Trump.
Só faltou combinar com o povo: uma pesquisa mais recente mostra que 37% acham que Biden é melhor para a economia, contra 43% para Trump.
POÇO SECOU
Todas as declarações das eminências da economia acadêmica – obviamente, simpatizantes do Partido Democrata – não valem um vídeo do TikTok em que um “carinha” – jovem, cabelão, meio chapado – conta como encomendou exatamente a mesma compra de supermercado que tinha feito em 2022. De 104 dólares, a conta passou para 414. Irrespondível.
Biden provoca dúvidas sobre sua capacidade e até sua candidatura num momento de alta complexidade, com a possibilidade de que o Irã, no limiar da bomba nuclear, possa se envolver numa guerra entre Líbano e Israel; Vladimir Putin aumenta o tom das ameaças constantes contra o “Ocidente” pelo apoio à Ucrânia e a China espera o momento certo para “estrangular” Taiwan.
Biden passou uma semana ensaiando para o debate com especialistas em media training – uma coisa de que nunca precisou em seus mais de cinquenta anos na política. O site satírico Babylon Bee fez uma brincadeira cruel sobre os preparativos do adversário: “Trump treina para o debate visitando casa de repouso”.
Ao New York Times, um “veterano democrata” resumiu: “Biden vai enfrentar uma onda de apelos para que saia do páreo. Joe tinha um reservatório enorme de afeto entre os democratas, mas ele já secou”.