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As mulheres do Black Lives Matter: quem são, o que querem?

A impressionante popularidade do movimento criado por feministas, marxistas e militantes contra as “amarras do pensamento heteronormativo”

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 26 jun 2020, 09h53 - Publicado em 26 jun 2020, 08h48

As traduções em português não abarcam a precisão do Black Lives Matter – vidas negras são importantes, contam ou importam.

Quem, fora de uma minoria pervertida, pode ser contra o conceito de que o valor da vida dos negros é rigorosamente igual ao de todos os demais?

A revolta com a morte de George Floyd, sufocado por um policial branco, elevou a popularidade do Black Lives Matter a 53% da população geral americana. Só 25% são contra.

“É a organização política mais popular da América no momento”, exultou, depois da pesquisa, o cientista político Drew Linzer.

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Muitos militantes, inclusive provavelmente as três fundadoras do movimento, são contra o conceito de “organização”. Ou “movimento” ou “fundadoras” – quem frequentou assembleias universitárias sabe como são essas discussões sobre nomenclaturas.

Ao capturar a narrativa nacional e internacional – resumida em duas palavras “racismo sistêmico” – , as três mulheres passaram a fazer parte da mitologia que acompanha grandes explosões sociais.

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São elas Alicia Garza, Opal Tometi e Patrisse Cullers. 

A origem da expressão veio de um post de Alicia quando George Zimmerman – meio branco, meio latino como dizem os americanos – foi absolvido por comprovar legítima defesa na fatídica briga com Trayvon Martin

“Continuo a ficar surpresa em ver como as vidas negras não são importantes. E vou continuar assim. Povo negro, amo vocês. Nossas vidas são importantes”.

Pronto, estava instituído o poder de uma palavra de ordem irrefutável.

Mas não vamos exagerar na espontaneidade. As três mulheres são ativistas com formação intensiva e não entraram nessa ao sabor do vento.

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“Somos marxistas treinadas”, disse Patrisse Cullers quando as credenciais políticas do movimento foram contestadas – fazer muito sucesso sempre incomoda a esquerda.

O que é menos divulgado é a militância “queer”, o termo mais politicamente correto do momento para abarcar tudo que não é heterossexual.

Patrisse saiu de casa aos 16 anos por causa disso. Alicia mudou o sobrenome, Schultz, do padrasto judeu, ao se casar com o homem trans Malachi Garza. Opal Tometi, filha de imigrantes nigerianos, não abre o jogo.

A sexualidade delas interessa porque ocupa um lugar importante nas suas convicções políticas. 

Inclusive pelo fato de que as  três mulheres contrastam com o que a revista New Yorker chamou de “masculinidade hiperbólica” dos líderes negros históricos dos Estados Unidos.

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Diz o manifesto do BLM:

“Trabalhamos vigorosamente pela liberdade e pela justiça para o povo negro e, por extensão a todos os povos”.

“Somos guiadas pelo fato de que todas as vidas negras importam, independentemente da identidade sexual, da identidade de gênero, da expressão de gênero, de posição econômica, habilidades, desabilidades, crenças ou descrenças religiosas, status migratório ou de origem”.

Apesar dos vícios de linguagem politicamente correta, a maioria das pessoas assinaria embaixo.

“Abrimos espaço para os irmãos e irmãs transgênero para participar e liderar”.

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“Minamos a estrutura da família nuclear ditada pelo Ocidente ao nos apoiar mutuamente como famílias ampliadas e ‘aldeias’ que se cuidam coletivamente”.

“Quando nos reunimos, fazemos isso com a intenção de nos libertar das amarras do pensamento heteronormativo, ou melhor, da crença de que todos no mundo são heterossexuais”.

Dificilmente alguém, no mundo de hoje, acredita nisso pela simples contemplação da realidade.

Como os bons manifestos, são palavras belas e nobres.

A realidade das manifestações violentas, com vandalismo, depredação e saques, estes praticados por oportunismo, é diferente.

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Disse Hawk Newsome, presidente do BLM na Grande Nova York:

“Se este país não nos der o que queremos, então vamos incendiar o sistema e colocar outro no lugar”.

“No momento em que as pessoas começaram a destruir propriedades, os policiais passaram a ser demitidos”.

“Desde que começamos os protestos, oito policiais foram demitidos. Lembram-se de quando nos diziam que era preciso ter o devido processo legal?”.

Ligações e simpatias esquerdistas são um componente dos movimentos e líderes negros nos Estados Unidos, de Martin Luther King a Malcolm X, passando pelo bizarro Nação do Islã de Louis Farrakhan, uma espécie de versão negra, americana  e antissemita da religião muçulmana.

Patrisse Cullers, Alicia Garza e Opal Tometi já tinham virado celebridades antes da explosão de protestos pela morte de George Floyd.

Mas não aparecem liderando protestos e fazendo discursos públicos, mesmo com o BLM já tendo mais de 30 representações em cidades americanas, na Inglaterra e no Canadá – isso antes do caso George Floyd.

“A consequência do foco em um líder é que isso cria a necessidade de que esse líder seja o porta-voz, o que diz às massas para onde ir, em vez das massas entenderem que podemos catalisar o movimento em nossas próprias comunidades”, explica, no mais puro jargão esquerdista, Patrisse Cullers.

Como militantes bem treinadas, as três fundadoras têm que resistir à sedução da fama – e do ciúme de outras organizações negras mais tradicionais, colocadas para escanteio. 

Sem contar os aliados objetivos do Antifa – em geral, jovens brancos de classe média que gostam de quebrar coisas.

O maior desafio é que  a cada ato de vandalismo, a cada estátua tomada, a cada declaração bombástica sobre “derrubar o sistema”, Donald Trump, o grande inimigo, ganha mais uns tantos votos.

Como a serpente que devora o próprio rabo, todos os movimentos de esquerda enfrentam um dilema parecido nas democracias.

Será interessante ver como as três mulheres do BLM enfrentam a questão.

Isso sem falar na alternativa a Trump, Joe Biden, a maior de todas as criaturas do sistema que elas querem derrubar.

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