China, Rússia, Irã. Esta é a turma que enfrenta os Estados Unidos e os aliados ocidentais – ou, na visão de uma certa ex-mandatária que deve ter assistido Guerra nas Estrelas ao contrário, o lado da luz. Na esteira, peixes menores como Venezuela, Cuba e Nicarágua.
Dominar países falidos, especialmente no Oriente Médio, como Líbano e Iêmen, é a estratégia iraniana para se tornar uma potência hegemônica regional. No xadrez estratégico, de alcance mais longo, as ambições do regime iraniano se projetam até a América Latina, com tratativas por cima ou por baixo da mesa.
A análise foi feita por Benny Gantz, ministro da Defesa de Israel e ex-comandante-chefe do Estado Maior. É claro que Israel tem interesse existencial em apresentar o Irã da maneira mais negativa possível, ainda mais agora que o governo Biden procura reconstituir o acordo nuclear que dá um tremendo alívio ao país. E é claro que não faz isso com base em informações inventadas, pois a desmoralização seria automática.
”O Irã transfere armas e petróleo para a Venezuela e a Guarda Revolucionária, através da Força Quds, seu braço no exterior, opera também na América do Sul”, denunciou Gantz.
O general da reserva apresentou um quadro geral das atividades do regime iraniano, indo desde operações limitadas, como a tentativa de mandar explosivos via drones para forças palestinas hostis na Cisjordânia, até suas ambições hegemônicas.
Israel estuda, analisa, perscruta, espiona e eventualmente faz operações no Irã, entendendo muito bem que é seu maior inimigo regional. Eventualmente, também filtra informações para os países que possam ser desestabilizados pelas atividades iranianas.
Não é exatamente um segredo que o “arco xiita”, desde o Hezbollah do Líbano até a Força Quds – cujo líder, Qasem Soleimani, foi espetacularmente pulverizado por mísseis americanos em janeiro do ano passado -, opera em países latino-americanos, através da colaboração da rede de seguidores do xiismo ou da simpatia de regimes antiamericanos. Armas e drogas são moeda corrente nessa esfera.
A Venezuela de Hugo Chávez, no auge, tentou interferir muito mais no cenário político de países vizinhos, através dos petrodólares que distribuía a partidos amigos ou de grupos guerrilheiros. O alvo preferencial das campanhas de desestabilização sempre foi a Colômbia, mas o leque se abria por toda a América Latina.
Empobrecido por seus próprios erros, o regime venezuelano hoje está desdentado, ocupado primordialmente com a própria sobrevivência. Seu principal instrumento de desestabilização são os cidadãos desesperados que fazem qualquer coisa para sair de lá.
Mas a atuação de um país como o Irã, que tem um projeto sistemático e bem estruturado de infiltração em regimes podres, não pode ser simplesmente descartada como irrelevante. Todo novo agente no cenário geopolítico tem que ser conhecido e avaliado.
E considerado à luz do que o regime iraniano, com sua visão de longo prazo, está pacientemente aguardando: a volta de um governo amigo ao maior e mais importante país da América do Sul.