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A esperança de redenção

Países miseráveis ou destroçados por guerras "viraram" o ensino

Por Vilma Gryzinski 9 jan 2022, 08h00

Você está preparado para as platitudes que os candidatos vão falar sobre educação, se se derem ao trabalho, lá pelo fim dos discursos que desafiarão nossas paciências neste ano? Um bom treinamento pré-eleitoral para os brasileiros com senso de honra pode ser colocar como tela de fundo de seus celulares os resultados do PISA, a pesquisa sobre educação feita pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. Em termos educacionais, o 66º lugar do Brasil, num total de 77 países, é o equivalente à “fila dos ossos”, o colar de humanos desvalidos à espera de restos de açougue que aflorou em cidades brasileiras. A classificação é de 2018 — o PISA 2021 foi postergado por causa da pandemia. Nos cinco lugares acima do Brasil estão Peru, Bósnia, Azerbaijão, Cazaquistão e Colômbia. Para não nos desesperarmos, e buscarmos lições valiosas, é bom olhar também para vários dos melhores classificados e lembrar que já foram países miseráveis, subdesenvolvidos, destroçados por guerras ou esmagadoramente analfabetos — quando não tudo isso junto.

“Nos resignamos a deixar nossas crianças e nossos jovens eternamente na fila dos ossos?”

Singapura, que aparece ora em primeiro, ora em segundo lugar nos indicadores mundiais de educação, era um dos lugares mais atrasados do mundo e, apesar da localização estratégica como porto e entreposto comercial, desmerecido até pelos colonizadores ingleses. Gradualmente povoada por agricultores chineses trazidos para trabalhar no cultivo da pimenta-do-reino, tinha o potencial de conflito com a população original, de etnia malaia, e recursos zero em um território equivalente à metade da cidade de São Paulo. Criou um sistema educacional tão sofisticado, com um currículo voltado para a matemática e a ciência, que professores de ensino médio ganham o equivalente a 90 000 dólares por ano — isso depois de passar por um concurso disputadíssimo, reflexo da valorização reservada aos educadores, típica das sociedades asiáticas influenciadas pelo pensamento confuciano, onde os detentores do saber ocupam o topo da escala social.

A Coreia do Sul é outro país asiático que deu um salto inacreditável, indo da ocupação japonesa e de uma devastadora guerra desfechada pelos comunistas do norte para mais de 70% da população entre 25 e 34 anos com educação superior. Desde 1990, o orçamento para a educação quintuplicou, mas corresponde a apenas 3,4% do PIB — no Brasil, são 6%. O incentivo familiar é tão competitivo que o governo proibiu aulas particulares depois das 10 da noite. Fora da esfera asiática, há fenômenos como a Estônia, um país báltico de 1,3 milhão de habitantes — pouco menos que o número de militares russos, cuja invasão os estonianos passam o tempo todo temendo —, que ficou em quinto lugar no PISA. A Polônia, em 11º — uma posição à frente do Reino Unido, o país onde mais de 1,5 milhão de poloneses foram procurar trabalho depois da era soviética. Aos que os menosprezavam como incultos, podem exibir com orgulho o salto educacional que deram. Devido às diferenças históricas e culturais, muitas experiências dos que “viraram” as condições de ensino são intransferíveis, mas isso não elimina a pergunta principal: se países que vieram de condições tão desfavoráveis conseguiram, por que não conseguiremos também? Ou nos resignamos a deixar nossas crianças e nossos jovens eternamente na fila dos ossos?

Publicado em VEJA de 12 de janeiro de 2022, edição nº 2771

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