A economia americana está bombando, mas Joe Biden continua patinando
Tudo está bom, da produção de petróleo ao controle da inflação, e ainda assim os índices de aprovação ao presidente estão baixos

Quem é produtor de petróleo recordista do mundo? Estados Unidos, com 13,3 milhões de barris diários. Lembram-se de quando a China ia ultrapassar a economia americana? Pois quem patina agora é o gigante vermelho, cheio de problemas, inclusive o encolhimento demográfico. E os americanos tiveram crescimento de 3,1% no ano passado, apontando para 4,2% nesse primeiro trimestre. A inflação está caindo e só em janeiro foram criados 353 mil empregos.
“Eu errei sobre o desaquecimento e a recessão”, reconheceu Larry Kudlow. “Eu e todos os colegas do ramo das previsões.”
Kudlow não é um dos comentaristas que passam o tempo todo insinuando que os americanos são ignorantes demais para ver os avanços econômicos do governo Biden: ele trabalha na Fox e foi assessor de Donald Trump.
Outro indicado por Trump, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, o banco central, resumiu: “Sejamos sinceros, a economia está indo bem”. E a taxa de juros vai, cautelosamente, diminuir.
Então por que Joe Biden vai mal, com apenas 38% de aprovação? Por que Trump aparece à frente em nove das onze principais pesquisas de opinião do país, dando uma média de 46,6% contra 44,8% para Biden?
É possível que o “efeito cascata” das boas notícias na economia ainda não tenha chegado onde mais interessa aos cidadãos comuns, o caixa do supermercado e a bomba de gasolina (mas 35% já estão dizendo que a economia vai bem, contra 28% há seis meses).
SURRA NA POLÍCIA
Outros fatores também pesam na avaliação de Biden, incluindo os 81 anos e os sinais de déficit cognitivo, principalmente o discurso enrolado e os raciocínios estranhos quando sai do roteiro escrito no teleprompter. Trump também não é nenhum garotão e agora desponta, entre o eleitorado jovem, o nome de Robert Kennedy Jr. De maluco conspiracionista conhecido por fazer campanha contra vacinas, ele começa a ser tratado como “o Javier Milei americano”.
Também pesa contra Biden a loucura incontrolável na fronteira com o México para onde confluem imigrantes clandestinos do mundo todo, inclusive da China e da Rússia. Nada menos que 79% dos americanos acham que a situação na fronteira é um problema sério.
Uma economia forte absorve muita gente e a migração até serve para o objetivo não declarado de dar uma segurada nos salários, para não esquentar demais a situação e alimentar a inflação. Mas não é preciso ser trumpista para repudiar a surra que cinco clandestinos deram em dois policiais na Times Square (foram soltos sem fiança e saíram fazendo sinais obscenos para as câmaras).
Paira também sobre o governo Biden o risco de que alguma coisa dê muito errado no Oriente Médio, onde a quantidade de perigos e agentes não racionais é de tirar o fôlego.
A resposta, “telegrafada” com antecedência para prevenir baixas, ao ataque de drone que matou três militares americanos na Jordânia mostra que Biden é muito cauteloso e, obviamente, não quer uma escalada de consequências gravíssimas. Talvez muitos americanos concordem com essa prudência: não querem ser arrastados para outra guerra num lugar distante que termine de forma inconclusiva. Os que têm mais memória talvez se lembrem que a ascensão do Irã e seus apaniguados foi, em grande parte, uma consequência imprevisível da invasão do Iraque para derrubar Saddam Hussein.
PETRÓLEO CONTROLADO
Paul Krugman, o economista Prêmio Nobel que escreve no New York Times (com frequentes prognósticos errados, apesar do currículo), acha que o eleitorado mudou. No passado, disse, “um presidente presidindo sobre uma economia como a nossa estaria muito bem posicionado para a reeleição”.
“Mas vivemos numa era de hiperpartidarização, na qual a situação da economia parece ter muito menos efeito sobre a economia do que há algumas décadas. Muitos eleitores, especialmente republicanos, parecem basear sua avaliação da economia nas simpatias políticas, e não ao contrário.”
Krugman, obviamente, aprova tudo o que vem do governo Biden. Mas percebeu que o velho mantra da época de Bill Clinton – “É a economia, estúpido” – pode não ser mais tão determinante.
O recorde de 13,3 milhões de barris de petróleo, batido na semana passada (a exportação de gás também explodiu), pode não influenciar o eleitorado mais avesso a Biden, mas tem tido um resultado ao qual todos devemos agradecer: está mantendo o preço do barril na casa dos 70 aos 80 dólares, apesar da política de enxugamento da produção seguida pela Arábia Saudita, a número dois do ramo.
Imaginem onde estaria os preços, já agravados aqui por impostos, se ele tivesse cumprido a promessa de “acabar com os combustíveis fósseis”.
Valeu, Biden.