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A direita resiste — e até ganha pontos

Da Argentina a decisões da Suprema Corte, conservadores estão vivos

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 4 jun 2024, 10h16 - Publicado em 9 jul 2023, 08h00

A piada na Argentina é que, pela primeira vez na história das eleições democráticas, todos os candidatos de destaque à Presidência são de direita. É uma provocação a Sergio Massa, o ministro da Economia que virou o jogo no grito e conseguiu o apoio da cúpula peronista, principalmente o de Cristina Kirchner, para sair candidato de união. As correntes de esquerda do peronismo, que xingavam Massa de direitista por dialogar com o FMI — qual a alternativa? — e com o empresariado, viraram a ficha e saíram obedientemente elogiando-o. Os outros candidatos são da oposição de centro ou de direita. Seja quem for o nome do Juntos pela Mudança e o anarcocapitalista Javier Milei não compartilham, para dizer o mínimo, a loucura estatista em que o esquerdismo populista se transformou, com resultados tão catastróficos que soa até normal que um ministro sob cuja direção a inflação vai chegar a 140% no fim do ano seja um candidato viável por simplesmente segurar o desmoronamento do forte.

“A ideia da normal e saudável alternância de poder tem sido substituída pelo conceito de guerra total”

A direita também não vai mal na Europa, onde a ideia da normal e saudável alternância de poder tem sido substituída pelo conceito de guerra total: uma vitória do adversário significa praticamente mudança de regime. Com algo desse tom apocalíptico, no país onde a palavra se originou, a Grécia, foi consagrado para um segundo mandato o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, tanto por virtudes próprias, como fazer um bom governo e recuperar a economia considerada um caso perdido, quanto pelos erros da extrema esquerda, que se implodiu nos últimos tempos. Mas o fato que pesou foi a linha dura no problema mais incômodo para grande parte da população, o mesmo que propulsiona populistas em outros países europeus: a incontrolável imigração clandestina ou a fratura sistêmica de países como a França, onde descendentes de terceira geração de árabes ou africanos tiveram mais um dos surtos regulares de violência e destruição. Por causa desse monumental e fervilhante caldeirão, o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha hoje tem 20% das preferências, o que o torna maior do que todos os tradicionais, inclusive o Social Democrata, no comando da atual coalizão de governo.

As ondas humanas que abalam a ordem social de países onde os principais problemas já haviam sido resolvidos também levaram uma quase desconhecida Giorgia Meloni ao governo da Itália. O desastre fascista que a imprensa mundial anunciou, adivinhem só, não se realizou. Meloni abandonou os discursos bombásticos e faz um discreto trabalho em conjunto com a União Europeia para conseguir acordos com países do Norte da África que controlem o tráfico humano no Mediterrâneo. Outros países com governos de direita antigos ou recentes: Polônia e Hungria (unidas pela rejeição aos imigrantes, opostas na guerra da Ucrânia), Suécia, Finlândia e, dependendo da eleição do final do mês, a Espanha, o que seria uma virada histórica.

Decisões da semana passada da Suprema Corte sustentaram princípios fundamentais do conservadorismo americano, como a igualdade de condições para todos em lugar de critérios raciais para admissão em universidades. Como diminuir as distâncias para os menos privilegiados? A direita tem de pensar em soluções para esta e outras questões fundamentais que vão muito além de “encontrar uma justificativa moral superior para o egoísmo”, como criticava John Kenneth Galbraith — erradamente, mas com um fundo de realidade.

Publicado em VEJA de 12 de julho de 2023, edição nº 2849

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